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José Rezende Jr lembra o dia em que Paulo Osório matou a mãe

Segundo jornalista, homem que confessou ter matado o filho Bernado tinha 18 anos quando esfaqueou a mãe e ateou fogo ao corpo

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Paulo Osório, acusado de matar o filho Bernardo
1 de 1 Paulo Osório, acusado de matar o filho Bernardo - Foto: null

Autor de uma série de reportagens sobre crimes que abalaram o Distrito Federal nos anos 90, o jornalista e escritor José Rezende Jr foi até a ala psiquiátrica da Papuda em 1996 e entrevistou Paulo Roberto de Caldas Osório. À época, ele era um jovem de 23 anos e cumpria pena por ter assassinado a própria mãe, Neuza, com uma faca serrilhada, na cozinha de casa. Nesta quarta-feira (04/12/2019), Paulo Osório voltou aos noticiários, após confessar ter sequestrado e matado o filho Bernardo da Silva Marcos Osório, de 1 ano e 11 meses.

Em 1996, Rezende solicitou a entrevista à Vara de Execuções Penais e foi atendido. Chegando à Papuda, disse a Osório que estava ali para conversar sobre a morte da mãe dele e perguntou se o jovem topava falar. “Por alguns segundos ele hesitou. Depois concordou e disse que precisava falar sobre isso”, lembra o jornalista.

Paulo – à época apelidado de Paulinho, apesar de seu 1,92 metro de altura – causou uma primeira impressão no repórter: era inteligente, simpático, um pouco tímido e muito franco. “Os laudos psiquiátricos falavam em distúrbio passivo-agressivo, que ele tem personalidade dividida, ambivalente e tendência à solidão e ao isolamento. Mas, na conversa, ele foi o oposto disso. Olhava nos olhos e não fugia a pergunta alguma. Tudo que eu perguntava, ele respondia. Me chamou a atenção essas características”, rememora Rezende.

A conversa durou entre duas e três horas. Naquele dia – quatro anos após o crime –, os dois ficaram sozinhos em uma sala providenciada pela direção da Papuda, sem qualquer agente de segurança ou intermediário. “Ele era considerado um interno de bom comportamento e tinha a confiança da direção da unidade”, diz o jornalista. Enquanto esteve na ala psiquiátrica, Osório fazia sucos e controlava o estoque da cantina. Também levava lanches ao gabinete do diretor.

Paulo, pai de Paulo Osório (de quem herdou o apelido de Paulinho), nunca minimizou o fato de o filho ter matado sua esposa. “Ele tinha consciência do que tinha acontecido, não estava em processo de negação. Dizia que já havia perdido a mulher, não queria perder o filho. Em todos os dias de visita, ele comparecia. Se expunha ao ponto de tirar um cochilo na cama, na cela do filho”, conta Rezende.

Confira a reportagem feita pelo jornalista sobre Paulo Roberto de Caldas Osório: 

O Avesso de Édipo by Metropoles on Scribd

 

Imprevisível

O jornalista reforça que não ser possível saber de que atitudes Osório seria capaz. “Ele era, obviamente, alguém que havia cometido um ato bárbaro, mas não daria para ninguém prever que ele cometeria outro crime bárbaro. Seria muito mais fácil se você pudesse olhar para uma pessoa e saber o que tem dentro dela, mas nem os profissionais da área foram capazes de prever isso”.

À época, ao ser questionado pelo jornalista sobre o motivo de ter matado a mãe, a resposta veio em uma palavra: medo. Conforme a reportagem de Rezende, Paulo Osório e seus pais estavam traumatizados com os diversos roubos que a residência da família vinha sofrendo e, no dia do crime, o jovem teria pensado ver um ladrão ao avistar a mãe chegando mais cedo em casa.

Primeiro, Paulo desferiu uma facada que atingiu os intestinos de sua mãe. Enquanto sentia o sangue escorrer, Neuza ainda teve tempo de fazer um último pedido: “filho, não faz isso. Eu sou sua mãe”. Depois de ouvir essas últimas palavras, ele desferiu outras facadas, a estrangulou com um fio, despejou um líquido inflamável e ateou fogo ao corpo.

José Rezende Jr atualmente escreve para a revista Traços. Venceu o Prêmio Jabuti de melhor livro de contos do ano de 2010, com a obra “Eu perguntei pro velho se ele queria morrer”.

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