Jogo do bicho ganha força e se espalha pelas cidades do DF
O Metrópoles mapeou como funciona o esquema desenvolvido com sofisticação para deixar os contraventores mais ricos com a jogatina
atualizado
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Não importa se a atividade criminosa ocorre nas quadras sofisticadas do Lago Sul, em mesas de bares do Setor Comercial Sul, próximo aos ministérios ou em cidades mais afastadas, como Ceilândia. O jogo do bicho está de volta e se alastrou por todo o Distrito Federal. O esquema sofreu um duro golpe da Polícia Civil em 2013, quando houve a apreensão da maior quantia em dinheiro vivo da história da capital do país: cerca de R$ 3,5 milhões. Cinco anos depois, os bicheiros se reergueram e infestam as ruas com pontos de apostas.
O Metrópoles mapeou como funciona o esquema desenvolvido para deixar os contraventores mais ricos com a atividade. Atualmente, não existe mais a figura do “apontador” — responsável por fazer o jogo marcado pelos apostadores — sentado na cadeira e segurando uma prancheta. Toda a logística foi informatizada, agora são utilizadas máquinas semelhantes às de cartão de débito e crédito. Os comprovantes impressos em papel carbono foram substituídos pela segunda via das transações feitas no equipamento.
Jogo no bar
Estrategicamente, os pontos de jogo do bicho são em locais com grande fluxo de pessoas. Atualmente, o Setor Comercial Sul é um dos locais preferidos. Galerias, calçadas e até estabelecimentos comerciais contam com a presença de homens e mulheres que passam o dia chancelando as apostas. Um bar, na quadra 1, chama muita atenção, pois lá o bicho corre solto.
Além de servir almoço ou lanche para os clientes, o dono do estabelecimento transformou a jogatina em uma atividade lucrativa. Por onde o homem moreno, de estatura mediana, circula, a máquina de aposta está à tira-colo. Simpático, o comerciante explica como funciona o jogo para quem nunca apostou. Em seguida, a reportagem faz uma simulação e ouve do proprietário: “Se der o bicho na cabeça, você ganha uma fortuna. Já tivemos um apostador que levou mais de R$ 300 mil”, contou, animado.
O jogo ocorre tanto no bar quanto em outros pontos espalhados pelo DF e segue uma hierarquia quase religiosa: banqueiros, gerentes e apontadores. O bicheiro é quem custeia a totalidade do jogo e paga a banca. O gerente do ponto repassa as apostas ao banqueiro e o prêmio ao apontador, que faz o intermédio do pagamento entre o apostador e o gerente. O banqueiro paga, em média, 20% do valor arrecadado ao dono do ponto e 10% ao apostador.
Operação Armadilha
A megaoperação desencadeada pela Divisão de Combate ao Crime Organizado (Deco), em 2013, desarticulou o esquema do jogo do bicho no DF e resultou na apreensão da maior quantia em dinheiro vivo da história da capital federal. Os R$ 3,5 milhões estavam guardados em cofres na casa dos homens apontados como os maiores bicheiros do DF.
Na época, o esquema envolvia a realização do jogo no Lago Sul, em Sobradinho e nas Asas Sul e Norte. Um dos locais em que os agentes cumpriram mandado ficava no Setor de Mansões Dom Bosco, no Lago Sul, região nobre de Brasília.
De acordo com as investigações, o grupo chegava a faturar R$ 3 milhões por mês com a exploração do jogo ilegal. A Polícia Civil pediu à Justiça o bloqueio das contas e dos veículos apreendidos. O inquérito que investigou o caso se transformou em ação penal. No total, sete suspeitos foram indiciados, tornaram-se réus e aguardam julgamento em liberdade.