Jéssyka lutou para viver e mordeu braço de PM que a matou
A reação da vítima veio à tona agora, apontada por documentos do IML e Instituto de Criminalística obtidos com exclusividade pelo Metrópoles
atualizado
Compartilhar notícia
Há um mês, a estudante Jéssyka Laynara da Silva Souza, 25 anos, foi executada a tiros pelo ex-noivo, o soldado da Polícia Militar Ronan Menezes, 27. Nesta segunda-feira (4/6), foram revelados novos detalhes sobre a dinâmica do assassinato, que chocou o Distrito Federal pela covardia e brutalidade. Apesar de o PM estar armado com uma pistola, a vítima teria entrado em luta corporal e mordido o braço do agressor antes dos quatro disparos que a mataram.
O exame de corpo de delito feito pelo policial no Instituto Médico Legal (IML), logo após ele ser preso, apontou que a mordida foi no dorso do antebraço direito. Segundo Ronan contou em depoimento, Jessyka tentou se defender. De acordo com o procedimento, o soldado apresentava “escoriações arciformes opostas compatíveis com mordedura humana”.
Os relatórios produzidos pelo Instituto de Criminalística (IC) e pelo IML confirmam a informação publicada pelo Metrópoles em 9 de maio, quando laudos preliminares apontavam que a estudante havia sido assassinada com quatro disparos.
À queima-roupa
A análise feita pelos médicos-legistas concluiu que Jéssyka foi atingida a curta distância, quase à queima-roupa. Ainda, havia duas lesões: uma no joelho esquerdo e outra no dorso nasal (lateral do nariz), ambas provocadas pelos projéteis da pistola .40 usada pelo militar.
O primeiro tiro atingiu o ombro direito de Jéssyka. O segundo perfurou a lateral esquerda do peito da vítima, próximo a uma tatuagem que a estudante tinha com o nome do algoz: Ronan Menezes.
Com base no laudo, o disparo que tirou a vida da jovem foi o terceiro. Após atingir a coluna e perfurar o pulmão, o projétil ficou alojado no órgão. O último tiro acertou a costela direita da moça e também ficou na região.
Primeiro ataque
Apesar de acompanhar o caso atentamente, a família da estudante não tinha conhecimento da tentativa de defesa de Jéssyka. Segundo a mãe da jovem, Adriana Maria da Silva, 39 anos, Ronan teria estado poucos minutos antes na casa onde, depois, cometeu o crime.
“Ele tentava tomar o celular da mão dela, e minha filha gritava dizendo que não tinha mais nenhum tipo de relacionamento com ele”, contou.
Adriana acredita que a mordida dada por Jéssyka em Ronan pode ter ocorrido quando ele apertou seus braços e a jogou contra uma parede. “Naquele momento, pouco antes de ele a matar, ela tentou de tudo para viver e se defendeu como podia, mas não adiantou”, disse.
Na noite desta segunda-feira (4/6), a família de Jéssyka celebrou uma missa pelos 30 dias da morte da estudante. A cerimônia ocorreu na Paróquia São Sebastião, na quadra EQNL 21/23, em Taguatinga Norte.
O caso
O homicídio ocorreu por volta das 14h de 4 de maio, na quadra QNO 15 do Setor O, em Ceilândia. O soldado da Polícia Militar Ronan Menezes não aceitava o término do relacionamento com a jovem, então recém-aprovada em concurso para o Corpo de Bombeiros.
O PM também baleou com três tiros o professor de ginástica Pedro Henrique da Silva Torres, 29 anos. Ronan teria ciúmes da aproximação entre o rapaz e Jéssyka. Pedro Henrique já recebeu alta e passa bem.
Na época do crime, parentes de Jéssyka afirmaram que Ronan ameaçava matar a jovem e toda a família. Ela mandou, por meio do WhatsApp, mensagens de áudio a uma amiga nas quais relatava as agressões cometidas pelo ex-namorado.
O policial, que está preso no Complexo Penitenciário da Papuda, foi indiciado por homicídio triplamente qualificado, por motivo torpe, impossibilidade de defesa da vítima e feminicídio.