Investigados por corrupção na Saúde do DF alteraram nome de arquivo para dificultar auditoria
Empresa de brinquedos contratada para fornecer testes de detecção do novo coronavírus foi apelidada de “brilha la luna”
atualizado
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Os integrantes da cúpula da Secretaria de Saúde envolvidos no esquema de desvio de dinheiro em contratos de aquisição de testes para detecção do novo coronavírus adotaram medidas que tiveram a finalidade de tentar driblar a fiscalização. De acordo com a ação cautelar que tramita na 5ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), um dos feitos para despistar os investigadores foi alterar nomes de arquivos.
Trechos dos autos revelam que a empresa Luna Park Importação, Exportação e Comércio Atacadista de Brinquedos Temáticos foi apelidada pelos integrantes de cúpula da Secretaria de Saúde de “brilha la luna”.
Em uma das conversas interceptadas, o então secretário adjunto de Gestão em Saúde, Eduardo Seara Machado Pojo do Rego, refere-se à firma especializada em artigos infantis pelo nome carinhoso e fala sobre artifícios para despistar “uma possível auditoria posterior”.
A conversa é com Emmanuel de Oliveira Carneiro, então diretor de Aquisições Especiais da Secretaria de Saúde. Ele foi preso nesta sexta-feira (25/9), durante a terceira fase da operação.
“Em 30/04/2020, às 12:29h, Pojo afirma: ‘mas pede para a Erika subir Brilha la Luna e mandar para o Jorge’, ‘por favor’. Emmanuel diz: ‘Já pedi’, Pojo completa: ‘Pede para ela te avisar’, ‘quando estiver ok’, ‘obrigado’. Emmanuel então explica: ‘Orientei ela a subir toda a documentação em um único arquivo chamado HABILITAÇÃO LUNA, pra dificultar uma possível auditoria posterior’. Pojo exclama: ‘Ótimo!’”, detalha trecho da cautelar.
Os autos também explicam a origem do apelido que, de acordo com os investigadores, demonstram “a intimidade com a empresa”. Em nota de rodapé, os autores da cautelar explicam que “brilha la luna” é uma “referência à música de mesmo nome do conjunto Rouge ou ao musical baseado nas músicas de tal conjunto”.
Como já mostrou o Metrópoles, a Luna Park Importação, Exportação e Comércio Atacadista de Brinquedos Temáticos foi contratada pela Secretaria de Saúde para fornecer 90 mil testes da Covid-19 por R$ 16,2 milhões.
O negócio com a empresa foi fechado embora ela tenha oferecido valor mais alto por unidade de teste na dispensa de licitação, sua documentação tenha sido oferecida fora do prazo e o parecer inicial relativo à sua proposta tenha sido pela rejeição.
Em áudio revelado pela Grande Angular, e anexado à última cautelar, Emmanuel confidencia a Pojo que a empresa especializada no comércio de brinquedos não tinha licença sanitária nem autorização de funcionamento. Emmanuel, no entanto, tranquiliza o “chefe” e afirma que a situação “está simples de resolver”.
Ouça:
Presos
Eduardo Pojo e outros cinco gestores da Secretaria de Saúde do DF estão presos desde 25 de agosto – todos foram afastados e depois exonerados dos cargos.
Em decisão divulgada nesta sexta-feira, a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia negou habeas corpus impetrado pela defesa do ex-secretário adjunto.
O prejuízo estimado aos cofres públicos somente com as supostas fraudes em contatos para compra de testes rápidos da Covid-19 é de pelo menos R$ 18 milhões.