Investidores encontram sede da Kriptacoin fechada e lamentam prejuízo
Na tarde desta quinta-feira (21/9), clientes foram à empresa, em um shopping em Vicente Pires, mas não havia ninguém no local
atualizado
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O esquema de investimento oferecido pela Kriptacoin não atraiu apenas brasilienses: chegou a outros estados do Brasil. Nesta quinta-feira (21/9), após a Operação Patrick, que prendeu 11 diretores e sócios da empresa sob acusação de operarem esquema de pirâmide, cerca de 15 investidores foram até a sede da Kriptacoin, em um shopping em Vicente Pires, para exigir explicações.
Um deles é o vendedor de caranguejo Marcos Antônio Costa de Sousa, que veio do Piauí para investir na moeda virtual. Ele conta que aplicou R$ 1 mil no negócio e tem poucas esperanças de reaver o dinheiro. “Agora já não tenho mais como recuperar. É triste ver que estão colocando a gente como ladrão”, afirma.
Segundo o vendedor, um pastor falou sobre a Kriptacoin para a sogra dele, que apresentou a empresa ao genro como garantia de bom investimento. Ele afirma que, no início, não quis arriscar, mas foi convencido pela família.
Eles falaram que iam nos dar assistência, mas não ajudaram. Até o pastor sumiu. Ninguém mais responde. Não adianta chorar, eu perdi todo o dinheiro
Marcos Antônio Costa de Sousa
Também na porta da sede da empresa estava uma servidora pública que preferiu não se identificar. À reportagem, ela contou que trouxe um amigo da cidade de Parnaíba (PI) para investir na Kriptacoin. Ele, inclusive, veio no mesmo ônibus que Marcos Antônio Costa de Sousa à capital federal.
“Esse meu amigo aplicou R$ 7 mil e não recebeu nada. A polícia tem que ver que estamos investindo para melhorar nossas vidas. Tem gente deixando de comer para investir”, disse a servidora. Tanto o amigo dela quanto Marcos Antônio de Sousa voltam ao Piauí na próxima segunda-feira (25) de mãos abanando.
Fechaduras trocadas
Apesar da mobilização dos investidores na porta da empresa nesta quinta (21), nenhuma resposta foi repassada pelos responsáveis sobre a moeda virtual no local. Todas as portas da sede estavam fechadas e, segundo clientes, até as fechaduras foram trocadas.
Em grupo de clientes nas redes sociais, um representante da Kriptacoin alegou em áudio que “o departamento jurídico da empresa está trabalhando para provar a inocência [dos acusados] e provar que a nossa moeda existe”.
Confira a resposta na íntegra:
Esquema de pirâmide
Os sócios da Kriptacoin são acusados de operar um esquema de pirâmide que movimentou cerca de R$ 250 milhões e pode ter lesado 40 mil pessoas. Segundo a Polícia Civil, a organização recrutava investidores, prometendo lucro diário. O dinheiro, no entanto, não poderia ser recuperado, já que a Kriptacoin não era aceita como moeda válida.
Segundo o promotor de Justiça Paulo Roberto Binicheski, os envolvidos serão denunciados pelos crimes que cometeram dentro da sua participação na empresa. “Há provas seguras e cabais contra todos os presos, por isso, o pedido de prisão foi temporária, e não preventiva”, explicou o promotor. As apurações do Ministério Público e da Polícia Civil continuam e correm em sigilo para preservar a investigação.
As atividades do grupo começaram em janeiro de 2017. Pessoas eram induzidas a aplicar o seu dinheiro na moeda virtual com a promessa de 1% de lucro ao dia. Como forma de convencimento, os envolvidos promoviam festas de música eletrônica e ostentavam carros de luxo.
Além disso, falavam que, em até seis meses, os investidores teriam ganhado R$ 1 milhão. No início, era possível o saque de qualquer quantia, depois, a empresa permitia saques no limite de R$ 600. Com o tempo, as vítimas tiveram dificuldades para resgatar o dinheiro aplicado, inclusive, muitas foram coagidas e ameaçadas.
Segundo a Polícia Civil, muitas pessoas venderam imóveis para aplicar o dinheiro na Kriptacoin. “Fica o alerta para não acreditar nesse tipo de promessa. Todas as vítimas podem procurar a delegacia mais próxima a sua residência para apresentar denúncia”, reforçou o delegado da Coordenação de Repressão aos Crimes contra o Consumidor e Fraudes (Corf), Wisllei Salomão.
Em relação ao possível ressarcimento das vítimas, Binicheski explica que o dinheiro e os carros apreendidos “serão objetos de restituição, mas é provável que muita gente ainda fique no prejuízo”.