Interlocutor de Rosso pediu R$ 12 milhões de propina, acusa delator
Segundo delação premiada de mais um ex-executivo da Andrade Gutierrez, a empreiteira negou a cobrança e repassou apenas R$ 500 mil a Rosso
atualizado
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O “governador-tampão” do Distrito Federal em 2010, Rogério Rosso (PSD), teria jogado alto para garantir a assinatura do contrato para reforma do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha. Após assumir o cargo para completar o mandato de José Roberto Arruda (PR), preso no início daquele ano por envolvimento no escândalo descoberto pela Caixa de Pandora, Rosso teria cobrado R$ 12 milhões em propina.
Segundo Rodrigo Lopes, um interlocutor de Rosso teria pedido os R$ 12 milhões durante uma reunião realizada no escritório da empreiteira. O pedido foi recusado imediatamente. No entanto, em 2011, após a assinatura do contrato, ficou acertada a quantia de R$ 500 mil para o então chefe do Executivo distrital. Essa negociata, segundo Lopes, ocorreu na Residência Oficial de Águas Claras.A denúncia consta na delação premiada de Rodrigo Ferreira Lopes da Silva, ex-diretor da Andrade Gutierrez. Os depoimentos prestados ao Ministério Público Federal (MPF) estavam sob sigilo até a tarde desta terça-feira (30/5), quando o Supremo Tribunal Federal (STF) tornou público o material. A documentação detalha como Rosso, hoje deputado federal, teria tentado tirar proveito da Andrade Gutierrez assim que pegou as chaves do Palácio do Buriti.
Lava Jato
Na delação feita ao Ministério Público Federal no âmbito da Operação Lava Jato, datada de 29 de setembro de 2016, Rodrigo Lopes trata do Edital nº 001/2009, que tinha como objeto o Mané Garrincha. O ex-executivo detalhou que o pedido milionário em nome de Rosso foi feito por um “homem de fisionomia calva e clara”, mas ele não se recordava do nome.
Posteriormente, segundo Lopes, outra pessoa o procurou: André Luís Carvalho da Motta e Silva, que trabalhava na área de parcerias público-privadas do GDF. Motta se apresentou como interlocutor de Rosso e teria negociado nova propina. Desta vez, no valor de R$ 500 mil. A quantia, de acordo com Lopes, foi entregue em dinheiro.
Em 2011, após a assinatura do contrato, foi feito esse pagamento ao interlocutor do então ex-governador, André Motta, em espécie, mesmo Rogério Rosso tendo deixado o governo do DF. O pagamento foi feito porque Rosso deu seguimento à obra, conforme combinado
Trecho da delação de Rodrigo Lopes
O depoimento de Rodrigo confirma o do também ex-executivo da Andrade Gutierrez Carlos José, que já havia relatado o pagamento de R$ 500 mil ao ex-chefe do Executivo local. As informações deram origem à Operação Panatenaico, que levou 10 pessoas à prisão. Entre elas, dois ex-governadores do DF: Agnelo Queiroz (PT) e José Roberto Arruda (PR), além de Tadeu Filippelli (PMDB), ex-vice de Agnelo e ex-assessor especial do presidente Michel Temer (PMDB).
Rosso nega acusação
Por meio de nota, o deputado Rogério Rosso disse estar profundamente “consternado e indignado”. O deputado federal classificou como “mentiras, citações caluniosas e ofensivas” as acusações “envolvendo meu nome na questão do Estádio de Brasília”.
Rosso afirmou ainda que não teve acesso ao conteúdo das delações, mas disse que tomará “as medidas judiciais necessárias, inclusive interpelando aqueles que supostamente usaram o meu nome indevidamente ou que me caluniaram”.
Eleito deputado federal em 2014, Rogério Rosso teve atuação de destaque durante o processo de impeachment da então presidente da República, Dilma Rousseff (PT). O parlamentar presidiu a comissão especial que analisou o afastamento da petista. Aliado de primeira hora do então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Rosso chegou a disputar o comando da Casa com Rodrigo Maia (DEM-RJ), mas perdeu a briga.