“Influencer” golpista comemorou “Força Nacional fazendo nada” no 8/1
Em vídeo gravado no 8 de Janeiro, Ana Priscila Azevedo comemorou: “Olha aí a Força Nacional do Flávio Dino, não está fazendo nada”
atualizado
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Em vídeo gravado no 8 de Janeiro, Ana Priscila Azevedo comemorou o que avaliou como inércia da Força Nacional perante às invasões da Praça dos Três Poderes. A atuação da Força na data da tentativa de golpe vem sendo criticada pela direita, que levanta hipóteses de responsabilização do governo Lula, principalmente do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino.
“Olha aí, pessoal. Selva! Ana Priscila aqui. Olha aí a Força Nacional. Está fazendo nada. Já foi tudo invadido. Selva, porr*! Aí, galera! Olha aí a Força Nacional do Flávio Dino, não está fazendo nada”, gritava a golpista.
Chamada de “nossa heroína” e “peça-chave” pelos golpistas, ela depõe nesta quinta-feira (28/9) na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos, na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF).
Acompanhe a CPI ao vivo:
Em nota, o Ministério da Justiça e Segurança Pública afirmou que, conforme acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, “a atuação da Força Nacional no dia 8 de Janeiro estava restrita à sede do MJSP e à sede Polícia Federal”. “A Força Nacional só foi autorizada a atuar de forma completa após a intervenção federal.”
Depoente
Atualmente presa e apontada como liderança da tentativa de golpe, a “influencer” mantinha canais no Telegram com mais de 50 mil participantes, incentivando invasões. Mensagens obtidas pelo Metrópoles mostram a movimentação violenta pelo golpe de Estado em grupos administrados pela mulher.
Os grupos mudavam constantemente de nome, eram excluídos por determinação judicial e retornavam à ativa “do zero”. Neles, Ana instigava e a direita mandava fotos de armas, ameaças e planejamentos para o 8 de Janeiro.
As mensagens mostravam claramente a intenção de invadir os prédios públicos, como acabou acontecendo naquela data, e a liderança da depoente desta quinta, que nega esse posto. Bolsonaristas escreveram: “Ana, mantenha-se escondida, você é peça-chave” e “Você é nossa heroína, luz, abriu nossos olhos e pintou nosso coração de verde oliva”. Em outro momento, bravaram: “Já passou da hora de invadir os Três Poderes”, “Invade com caminhões, quebra tudo”.
Outra característica comum da comunicação nos canais era o chamado por pessoas com registro de Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC). “Os CACs têm que ir às ruas”, “Como gostaria de ter hoje uma [emoji de arma]”.
Ameaças contra a imprensa também eram constantes. Em uma das publicações de Ana Priscila, em 4 de janeiro, ela compartilhou uma notícia do Metrópoles expondo a comunicação golpista no grupo e escreveu: “Esses filhos da put* acham que me atacam com minhas próprias palavras”.
Os seguidores fizeram centenas de comentários naquela publicação com ameaças contra jornalistas e veículos de comunicação. “Mídia suja tem que tomar uma coça”, “Metrópoles é um lixo”, “Precisa invadir a Rede Globo. Vamos f*der todo mundo, ninguém pode ficar sem chumbo”.
“Influencer” do golpe
Ana Priscila Azevedo virou uma espécie de “influencer” da direita após a derrota de Jair Bolsonaro (PL) nas urnas, administrando grupos on-line de pessoas que queriam anular o resultado democrático e enviando áudios (ouça abaixo) quase diários.
Na véspera do 8 de Janeiro, ela declarou que iria “sitiar os Três Poderes” e incentivou invasões. No dia dos crimes, xingou de “cristãos de merda” quem não compareceu à Esplanada pela manhã e comemorou o vandalismo pela tarde.
Quando Michelle Bolsonaro postou no Instagram um vídeo com crianças na piscina do Palácio do Alvorada, Ana Priscila incitou manifestantes a invadir o local e tomar um banho. “Brasília é muita seca. Os senhores estão todos convidados a tomar um banho de piscina no Palácio do Alvorada”, disse a líder dos atos, dia 7.
No 8 de Janeiro, enquanto manifestantes agrediam policiais militares, furavam barreiras de segurança, entravam à força no Congresso Nacional e depredavam símbolos da democracia, Ana Priscila Azevedo ria e comemorava.
Porém, como ela não foi presa naquele dia, a própria direita se virou contra a mulher, a acusando de ser uma “infiltrada” da esquerda. A líder dos atos golpistas foi detida em Luziânia, em 10 de janeiro.
A defesa de Ana Priscila critica as condições de cárcere e o andamento do processo. Segundo o advogado Claudio Avelar, ela ficou em uma solitária, sem banho de sol, até 10 dias atrás, com problemas de saúde.
“Solitária é castigo, não é pena. Ou o preso fez coisa muito errada ou precisa disso para se proteger. Ela não tinha do que ser protegida, não tem infração administrativa, tem bom comportamento. E a Ana Priscila não foi denunciada. Se não teve a denúncia, não apontaram os crimes que ela pode ter cometido, então por que está presa?”, questiona.
Ainda segundo ele, “a grande mentira” que envolve o nome dela é que ela seria uma infiltrada. “Ela simplesmente fez um movimento, participou das manifestações e sumiu. As próprias presas comentaram comigo que tinha uma tal de Ana Priscila que não foi presa porque era infiltrada”, cita Claudio Avelar.