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Incerteza toma conta do DF no quarto dia de greve de caminhoneiros

Paralisação impede a entrega de combustíveis, o que pode dificultar a vida de quem tem voo marcado e de usuários do transporte público

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1 de 1 WhatsApp Image 2018-05-23 at 22.40.34 - Foto: André Dusek/Estadão Conteúdo

Bloqueios em todas as rodovias de acesso ao Distrito Federal trouxeram para a capital um clima de incerteza nesta quinta-feira (24/5). No quarto dia de paralisação, a greve de caminhoneiros produz reflexos em 23 estados e no DF. A falta de distribuição de combustível, o movimento nos postos de gasolina, pousos e decolagens nos aeroportos do país e a distribuição de mercadorias são alguns exemplos.

Passageiros com voos marcados para esta quinta (24) têm motivos para se preocupar. A Inframerica, empresa responsável pela administração do Aeroporto Juscelino Kubitschek, informou que a reserva de querosene de aviação (QAV) era suficiente apenas até o fim de quarta-feira (23). Para evitar o encalhe de aeronaves sem condições de partir, a administração do terminal restringiu pousos e decolagens a aviões que chegassem ao terminal sem necessidade de abastecimento.

Por ser o terceiro aeroporto mais movimentado do Brasil, o problema no DF afeta todo o país. Cerca de 50 mil pessoas passam pelo terminal todos os dias. A Inframerica e a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) aconselham que os passageiros com voos marcados procurem os companhias aéreas antes de embarcar.

A frota de caminhões responsável por trazer o QAV para o terminal está retida no Entorno do DF desde o começo da semana. Somente às 17h30 desta quarta (23), cinco caminhões com 45 mil litros de querosene de aviação cada chegaram ao Aeroporto Internacional de Brasília. Eles foram escoltados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF). Mesmo assim, o contingenciamento de pousos e decolagens continua em vigor.

Michael Melo/Metrópoles
Avião pousa do Aeroporto de Brasília

 

Transporte público
A situação também preocupa usuários de ônibus do DF. Duas empresas – Pioneira e São José – afirmam ter o suficiente para rodar só até esta quinta (24). Urbi e Marechal dizem só conseguir pôr os veículos nas ruas até sexta (25). Os estoques da Piracicabana e da TCB encerram-se no domingo (27).

Uma eventual paralisação nos serviços poderia prejudicar até 650 mil pessoas, que embarcam e desembarcam dos 2,8 mil veículos da frota todos os dias.

As empresas são abastecidas pelo Terminal Terrestre de Brasília da Petrobras, localizado no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA). Nessa quarta-feira (23), caminhoneiros impediram a saída de veículos da base de distribuição. De lá também sai combustível para os postos do DF.

Na noite de quarta (23), os caminhoneiros que bloqueavam a entrada e a saída de veículos do terminal no SIA liberaram o acesso. O movimento foi encerrado em cumprimento a liminar expedida pelo juiz titular da 15ª Vara Cível de Brasília, João Luís Zorzo.

O magistrado determinou à Associação Brasileira dos Caminhoneiros (ABCAM) “desobstruir as vias públicas bloqueadas nas dependências do estabelecimento de distribuição de combustível, de maneira que não haja impedimento para o tráfego de veículos e empregados da Petrobras, no prazo de oito horas, sob pena de multa diária de R$ 100 mil”.

A expectativa é de que o combustível chegue aos postos na manhã desta quinta (24), mas não se sabe se será suficiente para suprir a demanda. Também existe o risco de os ânimos se exaltarem e o movimento voltar a ocupar o acesso ao terminal da Petrobras no SIA.

Rodovias
Outra decisão judicial, essa da 16ª Vara Federal em Brasília, determinou o desbloqueio das rodovias federais. A medida obriga a reintegração de posse das rodovias BR-070, BR-040, BR-050, BR-060, BR-080 e BR-251.

A Justiça Federal ainda autorizou o uso de “força policial para assegurar que, durante a intimação dos requeridos e a desobstrução das rodovias, não sejam praticados atos ilícitos ou depredatórios”. Com isso, a União poderá acionar a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e a Polícia Federal para adotar medidas.

Por meio de nota, a PRF informou que autuará motoristas responsáveis por restringir a circulação nas rodovias federais sem autorização do órgão. Os condutores que desrespeitarem a determinação de desobstruir as vias poderão ser multados em R$ 5.869,40 e terão o direito de dirigir suspenso por 12 meses. A legislação prevê multa de R$ 17.608,20 para os organizadores do movimento.

Felipe Menezes/Metrópoles

Cargas retidas
Outro ponto afetado nos dias de paralisação foi a entrega de cargas, que foi flexibilizada na quarta (24).

Em negociação com lideranças do governo federal, o presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros, José da Fonseca Lopes, afirmou que o movimento resolveu “afrouxar” a restrição à liberação de encomendas. “Decidimos deixar passar medicamentos e materiais hospitalares, além de cargas vivas e perecíveis”, disse Lopes.

Para encerrar a paralisação e liberar de vez as rodovias, o movimento pede a exclusão do PIS, Pasep, Cofins e Cipe da lista de tributos incidentes sobre o combustível, o que representaria uma redução de 27% no preço do diesel.

Na noite de quarta (23), a Câmara dos Deputados aprovou o texto-base do projeto que reduz a desoneração da folha de pagamento para alguns setores da economia. A proposta aprovada também prevê zerar, até o final de 2018, a PIS-Cofins que incide sobre o óleo diesel.

Outra sinalização do Executivo veio da Petrobras, que anunciou a redução, pelos próximos 15 dias, do preço do óleo diesel nas refinarias do país em 10%. Segundo a estatal, a medida deve representar economia de R$ 0,25 por litro do combustível para o consumidor final. No entanto, os motoristas querem corte de R$ 0,60.

Na queda de braço entre governo e caminhoneiros, resta saber se os acenos do governo federal serão suficientes para arrefecer os ânimos. Caso contrário, se a categoria mantiver a greve, o Brasil viverá novo dia de caos nos mais diferentes setores da sociedade.

 

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