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“Impossível de passar”: alunos da UnB fazem queixa coletiva contra professor

João Ishihara dá aulas para os cursos de engenharia elétrica e mecatrônica e tem sido alvo de reclamações desde antes da pandemia

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Universidade de Brasília - UnB
1 de 1 Universidade de Brasília - UnB - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Alunos da Universidade de Brasília (UnB) nos cursos de engenharia elétrica e mecatrônica estão se movimentando para buscar uma alternativa para levar adiante matérias ministradas por um professor conhecido por não deixar praticamente ninguém ser aprovado. João Ishihara é responsável pelas duas disciplinas, e uma delas só é ministrada por ele o que, segundo os estudantes, vem criando um grande gargalo.

Um aluno que está no 8º semestre de engenharia mecatrônica, que preferiu não se identificar, conta que teve aula de controle de sistemas dinâmicos com o docente no último semestre. Apenas ele e outros sete alunos se matricularam para a disciplina. “Ela é ofertada por outros dois professores, mas com o Ishihara era a única que cabia na minha grade horária, então tive que tentar”, conta.

Ele diz que as atividades eram passadas toda sexta-feira para serem entregues na segunda, mesmo com as aulas sendo na terça e quinta. “Já as provas eram no sábado. Começavam às 8h e fechavam às 20h. Mesmo com esse tempo todo, ninguém conseguia concluir a prova”.

Após resultado muito abaixo da média na primeira prova, o aluno diz que passou a focar mais nos estudos da matéria. A segunda avaliação veio com desempenho ruim novamente e ele foi falar com o professor. “Passei o dia estudando a prova, preparando os argumentos… Aí ele me disse que me deu ponto em uma questão por pena, pois do jeito que entreguei era melhor ter deixado em branco”, lembra.

O estudante acabou trancando a disciplina, assim como outros quatro ao longo do semestre. “Nenhum conseguiu passar nas provas. Só um aluno no fim conseguiu, depois de fazer mais alguma coisa. Para este próximo semestre eu já procurei outra turma”, comenta.

Centros Acadêmicos se reúnem para procurar providências

O presidente do Centro Acadêmico de Engenharia Elétrica (Caene) Ivan Cunha diz que relatos como esse são comuns. “Estou na presidência há dois anos e desde a época em que as aulas eram presenciais já tinha essa reclamação”, diz.

Segundo ele, os alunos reclamam que as provas não refletem aquilo que foi passado em sala de aula, além de serem extensas. “O professor é bem incompreensível na correção das notas. Essas disciplinas você precisa tentar adivinhar o modo correto errando algumas vezes, e isso leva tempo”, explica.

A fama de Ishihara é tamanha dentro dos cursos que ninguém quer pegar a disciplina com ele. “Só para se ter uma ideia, controle de sistemas dinâmicos tem outras duas turmas com outros dois professores. Uma está cheia e com lista de espera de 52 pessoas, outra tem 18 matriculados, e a dele tem apenas seis”, aponta Ivan.

Ele diz que já tentou conversar com o próprio docente e teve reuniões com coordenadores de cursos, chefes de departamento e até a direção da Faculdade de Tecnologia, mas nada de concreto foi feito. “A gente quer que a disciplina que só ele é professor, de controle do espaço de estados, seja dividida ou outra pessoa assuma. Muitos alunos concluem o curso e ficam às vezes só com ela pendente”, afirma.

Luísa Bueno, responsável pelo Centro Acadêmico de Engenharia Mecatrônica (Catron), também está nesta movimentação. “A gente começou a pegar as reclamações por volta de abril ou maio, para poder levar à Ouvidoria. Basicamente as reclamações são de provas bastante extensas com conteúdo que não aborda muito bem o que foi dado em sala, além de não tirar dúvidas e tratar com bastante falta de educação”, enumera.

A presidente diz que já tentou contato com o próprio professor, mas as conversas não avançaram. “Ele não responde os alunos e tentamos falar com ele próprio, mas não respondeu”, diz.

O que diz a UnB

Procurada, a Faculdade de Tecnologia e o professor João Yoshiyuki Ishihara informaram que “as duas provas da disciplina controle no espaço de estados tiveram prazo de entrega de 12 horas – e não 12 horas de duração”. Segundo eles, a escolha pelo período longo justifica-se “no intuito de garantir ao discente tempo suficiente para resolver as questões, mesmo em caso de problemas técnicos com a internet ou compromissos em horário concomitante à aula”.

Com relação ao conteúdo das avaliações, foi informado na nota enviada à reportagem que ele “limitou-se àquele aplicado em sala de aula, apresentado por meio de explanações teóricas e exercícios práticos. Pela possibilidade de consulta externa durante a aplicação das provas (livros, sites com exercícios já resolvidos e ferramentas de solução computacionais), fez-se necessária a elaboração de questões diferentes das dos livros indicados na ementa do curso. Com exceção de alunos nos quais foram identificados indícios de plágio em questões da segunda avaliação, foi garantido a todos os discentes o direito à revisão de notas e menções, as quais foram analisadas caso a caso. Para os primeiros, foi orientado que entrassem com um pedido formal de revisão de menção junto à faculdade”.

Já a Administração Superior da Universidade de Brasília disse que não recebeu qualquer reclamação “devidamente formalizada por estudantes junto à Ouvidoria da instituição sobre a disciplina ou sobre o docente em questão”.

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