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Igrejas evangélicas ignoram quarentena e abrem as portas no DF

Na Estrutural, os líderes religiosos desenvolveram mecanismos para evitar olhares curiosos e realizar celebrações sigilosas

atualizado

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Fieis frequentam as igrejas em fase de isolamento social
1 de 1 Fieis frequentam as igrejas em fase de isolamento social - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

Quando escurece na Estrutural e o relógio marca 19h, grupos de fiéis caminham apressadamente pelas vielas apertadas da região administrativa. Quase sempre com bíblias nas mãos, eles tentam ser discretos ao entrar pelas portas entreabertas de igrejas evangélicas.

Mesmo com o Decreto n° 40.539, do Governo do Distrito Federal, que determina a suspensão de missas ou celebrações de qualquer credo ou religião, líderes religiosos desafiam o poder público e realizam cerimônias quase diariamente.

Durante duas noites, o Metrópoles circulou pela Estrutural, cidade que abriga cerca de 150 igrejas e conta com rebanho de aproximadamente 35 mil fiéis. As congregações que contrariaram o isolamento social imposto pela pandemia do novo coronavírus desenvolveram mecanismos para evitar a exposição dos cultos e esconder a pregação dos pastores de olhares curiosos.

Os templos mais próximos das avenidas com maior circulação de pessoas na região administrativa passaram a manter as portas de ferro encostadas, simulando o fechamento. No entanto, os fiéis entram por uma pequena fresta.

Pelo menos em cinco igrejas flagradas pela reportagem, os ambientes eram pequenos, sem ventilação, e não havia ninguém de máscaras ou luvas. As portas e janelas fechadas para evitar a propagação das músicas e hinos tornavam os recintos ainda mais perigosos para a contaminação pela Covid-19. Por meio das frestas, era possível ver fiéis lado a lado participando das correntes de oração.

Cultos improvisados

Para evitar a exposição dos cultos, alguns templos posicionam funcionários em pontos estratégicos nas ruas, principalmente em esquinas transversais, para que seja possível ter uma visão periférica do movimento de pessoas nas redondezas. Quem caminhava pela calçada era percebido pelo sentinela, que tentava manter o culto no anonimato. Há igrejas que, de fato, resolveram fechar as portas, mas transferiram os encontros religiosos para outros locais.

A reportagem flagrou algumas celebrações realizadas inclusive com operador e mesa de som em cômodos improvisados dentro de residências. Da mesma forma que nos templos convencionais, os recintos contavam com a presença de vigias trajados com ternos escuros. A qualquer sinal de movimentação suspeita, os funcionários se aproximavam para averiguar o que ocorria.

Por outro lado, determinadas igrejas não faziam a mínima questão de esconder a realização dos cultos lotados de fiéis, com membros que cantavam e se abraçavam sem qualquer tipo de proteção. Uma dos cultos ocorria em templo com as portas abertas viradas para uma das principais avenidas da região administrativa. Animado com os louvores (foto em destaque), o pastor convidava todos a darem as mãos e orar.

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Os líderes religiosos apagavam as luzes externas das igrejas para não chamar a atenção de olhares curiosos
Existem cerca de 150 igrejas na Estrutural. Boa parte permanece aberta
Depois dos cultos, fiéis ainda conversavam em grupos do lado de fora da igreja
Muitos congregados preferiram abrir mão de ficar isolados em casa para participar dos cultos
Templos fecharam as portas de ferro para realizar uma espécie de culto secreto, longe dos curiosos
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Algumas igrejas contavam com a ajuda de funcionários que ficavam nas entradas dos templos

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Os líderes religiosos apagavam as luzes externas das igrejas para não chamar a atenção de olhares curiosos

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Existem cerca de 150 igrejas na Estrutural. Boa parte permanece aberta

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Depois dos cultos, fiéis ainda conversavam em grupos do lado de fora da igreja

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Muitos congregados preferiram abrir mão de ficar isolados em casa para participar dos cultos

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Templos fecharam as portas de ferro para realizar uma espécie de culto secreto, longe dos curiosos

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Pastores resolveram realizar os cultos mesmo com a suspensão das celebrações

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Algumas igrejas evangélicas decidiram funcionar de forma discreta para não chamar a atenção da fiscalização

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Dezenas de fiéis não abriram mão de frequentar os cultos mesmo com a pandemia de coronavírus

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Pastores ignoraram o isolamento social e realizam cultos em ambientes apertados e aglomerados na Vila Estrutural

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Fiscalização

De acordo com a secretaria DF Legal, igrejas e centros religiosos podem abrir as portas, mas não existe autorização no Distrito Federal para realização de missas e cultos. O que é permitido, segundo a pasta, é a celebração on-line, por meio de lives transmitidas pela internet.

O órgão ressaltou já ter recebido aproximadamente 80 denúncias sobre igrejas em funcionamento nas mais diversas regiões administrativas. Contudo, somente em dois templos foi constatada aglomeração: em Vicente Pires e Samambaia.

A secretaria destacou ainda que, diariamente, 25 equipes vistoriam todas as RAs do DF, das 7h às 3h. “Já interditamos cerca de 500 estabelecimentos comerciais. A Cidade Estrutural tem vistorias diárias, nos três turnos. Nas demais denúncias, foi constado que a reclamação não procedia ou que estava ocorrendo somente a gravação de lives”, afirma a pasta, por meio de nota.

Outro lado

A reportagem procurou o Conselho de Pastores do Distrito Federal (Copec-DF) para falar sobre a realização de cultos em pleno período de isolamento social. De acordo com o presidente da entidade, pastor Josimar Francisco, exitem cerca de cinco mil igrejas filiadas e todas cumprem as normas estabelecidas pelo decreto do GDF.

“No entanto, temos cerca de 50 templos na Estrutural que não fazem parte de nossa entidade e funcionam à revelia, por conta própria e de forma independente”, explicou.

De acordo com pastor, todos os templos legalmente cadastrados realizam as celebrações on-line por meio das lives. “Sabemos da importância em manter as igrejas fechadas neste período de isolamento social. No entanto, estamos trabalhando algumas propostas para serem apresentadas ao governo”, frisou.

Socorro às igrejas

Segundo Josimar Francisco, um ofício foi enviado ao GDF solicitando que o governo tente socorrer as igrejas com a isenção do pagamento das tarifas de água, luz e dos aluguéis. “Enviamos um pedido de ajuda ao governo e vamos tentar negociar a melhor forma para que se evite o acúmulo de dívidas que venham a complicar as contas dos templos. Outro detalhe importante foi o pedido feito ao governo para liberar os cultos com pelo menos 25% da capacidade de cada igreja.”

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