Igreja x oficina: saiba a briga que vai mexer com a vida de mais de 100 pessoas
Donos de oficinas têm até 5ª (18/5) para desocupar pátio de Igreja na 905 Norte. No local, moradores há mais 30 anos também serão despejados
atualizado
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Um imbróglio entre a Paróquia Divino Espírito Santo, da Asa Norte, e proprietários de oficinas na SQN 905 vai terminar em despejo. Moradores e trabalhadores do local receberam ordem de desocupação compulsória para deixar a área até esta quinta-feira (18/5). Há estabelecimentos instalados no setor há aproximadamente 40 anos, com cerca de 100 pessoas trabalhando ou morando no território. Acontece que o terreno pertence à Igreja Católica, que pediu o uso de volta.
“Eu formei meu filho trabalhando aqui”, contou o mecânico Eduardo Soares Adorno, 69. Ele disse que a oficina é a fonte de renda da família há 37 anos. Ele teria sido um dos primeiros a se instalar no local. “Agora não sei o que fazer”, lamenta.
Eduardo disse que pagava aluguel de R$ 1 mil para ocupar o espaço. “Estamos em uma correria para tirar as coisas daqui. Eu queria ter um outro local para ir”, diz. No início da semana ele removeu o telhado e está tirando, às pressas, o que consegue da estrutura.
Outro estabelecimento que recebeu a ordem de despejo foi o de Célia Maria de Sousa, 45. Ela está no setor há 45 anos. “Aqui temos 20 funcionários, são famílias que dependem do estabelecimento”, contou.
Segundo ela, a ordem de despejo foi emitida em 8 de maio, dando apenas 10 dias para deixar as propriedades. “Eu queria mais tempo, pelo menos 30 dias para conseguir organizar aqui, pagar os funcionários”, disse Célia.
“Não acho que a Igreja esteja errada, mas as pessoas não têm lugar para ir. Faltou apoio do Governo do Distrito Federal para alocar as pessoas”, reclama. De acordo com o recibo que ela apresentou, de julho de 2021, a empresa pagava R$ 2,8 mil em aluguéis mensais para a paróquia.
No processo que tramitou no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), a briga judicial teve início em 2019, e apresentou processos de negociações entre as partes.
“Em fevereiro, procurei outro lugar para morar, até porque as conversas estavam aumentando, mas ainda tenho coisas aqui”, disse o marceneiro Luzimar Alencar, 55, que disse morar há 30 anos no local.
“Esse quadro do Flamengo [campeão da Taça Guanabara] eu pendurei quando ganhou [1999] e nunca tirei da parede”, lembra. Luzimar contou que é católico e frequentador da paróquia e até por isso não quer “confusão”. “Eu fiz altar, cadeiras, armário tudo na igreja, que é a que eu frequento. Só queria mais 20 dias”.
O Metrópoles tentou contato com a Paróquia Divino Espírito Santo, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem. O espaço segue aberto para possíveis manifestações.
Os locatários do terreno procuraram a Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal (Terracap) a fim de solicitar um novo setor para que o grupo pudesse se instalar e, assim, dar continuidade às atividades. A reportagem procurou o órgão para comentar sobre esta possibilidade. Eles informaram que o pedido dos trabalhadores no local é “muito inicial”, que está sendo analisado e que não vão comentar o assunto.
Veja como é o local: