IBGE revela crescimento de jovens que dizem não ter amigos no DF
Pesquisa considera adolescentes entre 13 e 15 anos. Para especialistas, afastamento pode impactar o desenvolvimento da personalidade
atualizado
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Em um intervalo de quatro anos, no Distrito Federal, cresceu o número de adolescentes que afirmam não ter amigos próximos. Em 2012, entre os estudantes na faixa etária de 13 e 15 anos, eram 3,2%. Em 2019, o percentual passou para 4,4%.
Os dados constam na Pesquisa Nacional sobre Saúde Escolar (Pense), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada na última semana.
De acordo com o estudo, o valor mais recente do DF está acima da média nacional, que é de 3,2%. O crescimento percentual ocorreu, principalmente, entre mulheres — grupo em que o valor saiu de 1,8% para 5%.
Lucas de Araújo está prestes a entrar na faixa etária representada pelo levantamento. Aos 12 anos, ele conta que a distância entre a casa dele e a de alguns amigos dificulta a relação. “Já tive muitas amizades afastadas porque mudei de casa, de igreja e tenho pouco contato com eles. Moro em um lugar muito afastado e dificulta muito ver meus amigos. Eu vejo eles na escola, mas, no fim de semana, dependo dos meus pais para me levarem”, diz.
Para ele, um amigo próximo é aquele em quem se confia e se convive muito. “É a ele que você busca em dificuldade. Eu tenho dois ou três amigos próximos”, completa.
Impacto
A psicóloga Andrea Vani de França considera que a internet é um dos aspectos que mais contribuiu para o afastamentos dos adolescentes entre si. “Antes da internet, existia mais interação social. Hoje, isso ocorre mais pelas redes e isso faz com que as pessoas não se conheçam de verdade.”
Para ela, essa “falta de amigos próximos” pode impactar negativamente o desenvolvimento de jovens e adolescentes. “É uma fase em que se precisa ter identificação com outras pessoas próximas para finalizar a formação da personalidade. A falta de amigos pode gerar a falta de autoconhecimento, insegurança, falta de autoestima”.
O professor aposentado de psicologia social da Universidade de Brasília (UnB) Wanderley Codo explica que, apesar da pouco diferença entre os anos de 2009 e 2019 entre os adolescentes que afirmam não ter amigos próximos, há especificidades de Brasília que contribuem para esse cenário.
“A estrutura física da cidade, a velha brincadeira de que Brasília não tem esquina. Ou seja, a vivencia das pessoas fica restrita à sua quadra, diferente de outras cidades do país. Isso ocorre, principalmente, no Plano Piloto”, diz. Segundo ele, nos próximos anos, não deve haver grandes mudanças na situação.
Futuro
A Pense
A Pense traz dados sobre alunos do 9° ano do ensino fundamental, para as capitais brasileiras e comparações com as pesquisas anteriores. A pesquisa é realizada diretamente com os estudantes, dando voz a essa parcela da população que varia entre 13 a 15 anos.
A Pense conta, atualmente, com quatro versões da pesquisa: 2009, 2012, 2015 e 2019.
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