Ibama demite servidora investigada por envolvimento no caso Naja
Adriana da Silva Mascarenhas teria expedido licença de coleta, captura e transporte de serpentes que não pertencem à fauna brasileira
atualizado
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A servidora do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) Adriana da Silva Mascarenhas, investigada por suspeita de fornecer a licença irregular para que a Naja Kaouthia viesse ao Distrito Federal em 2020, foi demitida do quadro de funcionários da autarquia. A decisão saiu em portaria do Diário Oficial da União (DOU), publicada em 5 de julho.
Informações sobre a servidora dão conta de que Adriana já foi coordenadora do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) e expediu licença de coleta, captura e transporte de serpentes que não pertencem à fauna brasileira.
Ainda em 2020, ela foi afastada das funções por suspeita de envolvimento em tráfico de animais silvestres e improbidade administrativa.
De acordo com a portaria, assinada pelo Corregedor-Geral do Ibama, Edilson Francisco da Silva, a demissão de Adriana ocorreu “em razão da não observância dos artigos que dizem respeito aos deveres do servidor e por valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou de outrem, em detrimento da dignidade da função pública”.
Caso Naja
Durante a Operação Snake, a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) encontrou na casa do estudante Gabriel Ribeiro, acusado de tentar esconder uma Naja e preso em 22 de julho de 2020, licenças emitidas pelo Ibama com o nome da servidora demitida.
Um dos documentos é de 12 de fevereiro de 2019. As licenças autorizavam a coleta, captura e transporte de animais. Adriana teria expedido pelo menos outras duas, que são alvo de investigação. Uma para a amiga do namorado transportar dois papagaios e outra para a manicure, que tinha um mico-estrela.
Na época, Gabriel era suspeito de ter ocultado outras 16 serpentes, que também pertenciam a Pedro Henrique Santos Krambeck Lehmkul, picado pela cobra da espécie Naja Kaouthia.
O jovem ficou uma semana internado na UTI após ser picado pela serpente de origem asiática, adquirida de forma clandestina pelo rapaz.
“Não lembro de assinar nada”
Em entrevista ao Metrópoles na época do ocorrido, Adriana alegou que sequer tinha conhecimento da passagem da cobra pelo Centro de Triagem do órgão.
Conforme explicou a funcionária pública, são inúmeras assinaturas concedidas ao longo do ano e seria impossível se recordar de tudo.
“Pode até ser que eu tenha assinado, mas de forma alguma sou responsável por tráfico internacional de animais”, defendeu-se.
Por meio de seu advogado, Rodrigo Videres, a servidora revelou não haver controle na emissão de licenças envolvendo animais que passam pelo DF, entre elas cobras exóticas como as criadas pelo estudante de medicina veterinária Pedro Kambreck.
“É preciso ficar claro que o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) não possui estrutura física nem humana para cuidar dos animais que chegam lá. Muitas pessoas se aproveitam desse cenário para conseguir ter acesso a animais que são liberados em razão da falta de capacidade do Ibama em mantê-los. Esse cenário acaba favorecendo esse esquema para a emissão de licenças. Ninguém no Ibama sabe se depois do processo esses animais são vendidos clandestinamente”, explicou o advogado.