HRT: após morte de grávida, chefe da Obstetrícia é destituída do cargo
Médica era responsável pelo setor No Hospital Regional de Taguatinga, onde paciente gestante morreu depois de ser dispensada sem atendimento
atualizado
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Responsável técnica assistencial pela Unidade de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Regional de Taguatinga (HRT), a médica Raquel Carneiro Carvalho foi destituída do cargo nessa terça-feira (23/4). O Metrópoles apurou que a medida se deu após Tairine Torres, 30 anos, buscar atendimento no local, mas não conseguir. A paciente estava grávida de nove semanas.
Grávida que morreu sem atendimento “vomitou sangue pelo nariz e boca”
Tairine sentiu um mal-estar na noite de sábado (20/4). Acompanhada do marido, Max Silva, 30, a paciente procurou o HRT, para ser avaliada. No entanto, no hospital, recebeu a informação de que não poderia ser atendida lá, pelo fato de não ser moradora de Taguatinga.
A paciente, então, foi levada de ambulância para o Hospital Regional de Ceilândia (HRC), onde também não conseguiu atendimento. Outra vez, Tairine e o marido seguiram para o HRT, onde ficaram das 13h às 16h e foram orientados a voltar à outra unidade de saúde.
Quando a ambulância chegou com a grávida ao HRC, servidores informaram que o hospital “estava lotado” e que a gestante não seria atendida. Por volta das 18h, as equipes retornaram com Tairine para o HRT.
Depois de um dia inteiro de tentativas, o quadro da paciente se agravou. No HRT, ela passou a expelir sangue pela boca e pelo nariz, segundo narrou o marido dela à Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), e só nesse momento um médico prestou auxílio à vítima.
Tairine, então, foi intubada e levada para a Unidade de Cuidados Intermediários (UCI) do HRT. Lá, segundo o boletim de ocorrência, a gestante ficou até a madrugada de domingo (21/4), quando um médico declarou a morte dela e do bebê.
A gestante teve hemorragia no pulmão e, em seguida, sofreu uma parada cardíaca, segundo Max. A 12ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Centro) investiga o caso.
Processo Administrativo Disciplinar
A Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) informou que apura o caso e ressaltou que uma portaria da pasta regulamenta que gestantes ou puérperas com qualquer tipo de intercorrência clínica ou ginecológica, independentemente da idade, deve ser levada ao hospital mais próximo.
“E os casos instáveis devem ser internados e conduzidos até a estabilização. Apenas após [essa medida], deverão ser levados ao hospital referência da paciente via transporte sanitário”, completou a secretaria.
O órgão distrital acrescentou que há uma apuração administrativo-disciplinar em andamento e que “não há, até o momento, registro que conste atendimento a esta paciente prestado por profissional médico”.
“Se houver e for vislumbrada possibilidade de infração ético-profissional, será encaminhada denúncia ao CRM-DF [Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal], órgão competente para esse tipo de ocorrência, e automaticamente a abertura de um PAD [Procedimento Administrativo Disciplinar] no âmbito da SES-DF”, acrescentou a pasta.
A nota da secretaria destacou que o órgão tem compromisso com o “devido esclarecimento” do caso e a “consequentemente responsabilização de quem quer que seja que, de alguma forma, por ação ou omissão, tenha favorecido o desfecho desfavorável deste caso”, pois o HRC tinha dois médicos no momento em que a vítima procurou atendimento na unidade, e o HRT, quatro.