Hotel tenta expulsar boate, que funciona pendurada em liminar
A boate é famosa por receber políticos que desembarcam no DF para participar da Marcha dos Prefeitos e aproveitam para curtir a noite
atualizado
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Conhecido reduto de homens que buscam sexo rápido e discreto, a boate Alfa Pub (fotos em destaque e na galeria abaixo), no Setor Hoteleiro Sul, trava uma longa disputa judicial com o Hotel Bonaparte. Uma guerra alimentada pela cassação de licenças e liminares que garantem o funcionamento do estabelecimento acirra os ânimos entres moradores do local, administradores do condomínio e órgãos fiscalizadores do Governo do Distrito Federal.
A boate é famosa por receber políticos que desembarcam na capital da República para participar da Marcha dos Prefeitos. A Alfa Pub também virou notícia quando uma viatura da Polícia Militar foi usada para transportar uma das garotas de programa que trabalhava na casa.
Recentemente, o estabelecimento renovou sua licença de funcionamento, mas passou a extrapolar o horário estipulado pelo Registro de Licenciamento de Empresas (RLE), que determina regras a serem cumpridas pelos empresários.
De acordo com o documento, a Alfa Pub pode abrir as portas de domingo a quinta-feira das 6h às 23h e de 6h a 1h às sextas e aos sábados. No entanto a boate conseguiu uma liminar na Justiça para funcionar madrugada adentro. O Metrópoles acompanhou ao longo de três madrugadas o funcionamento da Alfa Pub.
Sempre com um movimento intenso de garotas de programa e clientes, o estabelecimento encerrou as atividades por volta de 3h30 tanto na teça (26/11/2019), quanto na quarta (27/11/2019) e na quinta-feira (28/11/2019), quando uma equipe de auditores do DF Legal esteve na boate (foto em destaque) para conferir o amparo legal que garantia ao estabelecimento driblar o horário de funcionamento imposto pela pasta.
Os auditores chegaram ao local pouco depois da meia-noite de quinta-feira e conferiram a documentação que garante o funcionamento da boate fora dos horários estipulados. A música que embalava a negociação dos programas sexuais chegou a ser desligada. No entanto o som foi religado cerca de 15 minutos depois de os servidores deixarem o lugar. A boate encerrou as atividades pouco depois das 3h.
Veja imagens da movimentação na Alfa Pub:
Liminar
A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Proteção da Ordem Urbanística do DF, DF Legal, para saber sobre a situação administrativa em que a boate se encontra e quais medidas foram tomadas após a fiscalização realizada na quinta-feira.
Em nota, a pasta justificou que o estabelecimento estava, momentaneamente, autorizado a funcionar. “Nossos auditores foram ao local e os responsáveis apresentarem liminar judicial que derruba a cassação da primeira licença de funcionamento. Então, estão funcionando sob força de liminar”, ressaltou.
Confira cópia do documento:
Embate judicial
Contudo a movimentação dos programas sexuais na boate tira o sono dos moradores do hotel. Dos 267 apartamentos que existem no prédio, 197 servem de moradia fixa. A maioria dos ocupantes corresponde a casais de idosos que estão no local há cerca de 20 anos. Os condôminos e gestores mantêm intensas disputas judiciais contra os donos do estabelecimento.
O imóvel pertence à Caixa Econômica Federal. Os débitos da boate com a instituição financeira chegam a R$ 500 mil. O caso está na Justiça. Mas, de acordo com o síndico do Bonaparte, Marcus Vinicius Souza Viana, os problemas ultrapassam as questões judiciais.
“A boate deve uma fortuna para o banco dono do imóvel. Além disso, a atividade da prostituição provoca enorme constrangimento, porque as garotas de programa utilizam as áreas de lazer sem estarem hospedadas”, disse.
Para coibir a entrada das garotas de programa, o hotel começou a cobrar taxas e restringir o uso das dependências. Clientes ou hóspedes passaram a pagar R$ 150 pela entrada de cada prostituta no hotel.
Outro lado
A reportagem entrou em contato com o dono do estabelecimento para falar sobre as denúncias. Neemias Carneiro afirmou que o Alfa Pub é um bar e não uma boate, e que há anos sofre perseguição da administração do hotel.
“Eu tive o alvará caçado de forma arbitrária. Sequer meu estabelecimento foi notificado. Não recebi ligação ou contato de ninguém da administração. Outro detalhe é que a justificativa para a suspensão é o fato de meu bar produzir poluição sonora”, afirmou o empresário. “Para ter ideia, nem aparelhagem de som eu tenho. O que existe é apenas som ambiente, produzido por três televisões”, completou Neemias Carneiro.
O empresário reforçou que entrou com o pedido de liminar depois que houve, segundo ele, uma restrição no horário de funcionamento, o que considerou incomum. “Estou naquele local há 18 anos e nunca houve qualquer tipo de problema. Desafio qualquer cidadão a procurar algum tipo de denúncia feita contra o meu bar que tenha sido impetrada pela atual administração do hotel”, ressaltou. “Vou procurar tanto a administração de Brasília quanto o Ministério Público para que se apure qualquer irregularidade que já tenha sido publicada pela imprensa. Coloco o meu bar à disposição das autoridades que queira fazer qualquer tipo de investigação”, finalizou.