Homem que vende abortivo pede fotos de fetos: “Controle de qualidade”
Dezenas de mulheres recorreram a grupos na internet e aplicativos de conversa para comprar remédios do criminoso
atualizado
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Tão rentável quanto criminoso, o mercado clandestino de medicamentos abortivos se espalhou de forma assustadora por quase todas as redes sociais e aplicativos de conversas. Com facilidade para captar mulheres que buscam interromper a gravidez, bandidos criam grupos e fazem as transações de forma rápida.
Um deles mantém uma espécie de “controle de qualidade”, no qual as clientes são estimuladas a postar fotos dos fetos expelidos a fim de comprovar que a substância vendida funciona.
O esquema investigado pela Delegacia de Repressão a Crimes Virtuais (DRCC) e pela Polícia Civil goiana aponta que um bando vendia medicamentos abortivos para quase todos os estados do país e em larga escala. Dezenas de mulheres que integravam a plataforma de conversa e trocavam informações chegaram a postar imagens antes, durante e após os abortos provocados pelos remédios.
O Metrópoles teve acesso a várias mensagens trocadas no grupo, comandando por um homem identificado como “Guga Cytotec”, que faz alusão ao nome do medicamento vendido pelo bandido. Segundo as investigações, ele seria um técnico em enfermagem, de 29 anos, que trabalhava numa farmácia de unidade de terapia intensiva (UTI) de um hospital de Goiânia.
O suspeito chegou a ser alvo de mandado de busca e apreensão cumprido em fevereiro deste ano, mas não foi preso. Os investigadores não revelaram a identidade dele alegando violação à Lei de Abuso de Autoridade.
Veja conversas do grupo em que medicamentos abortivos eram vendidos:
Dor e sangramento
A descrição do grupo de conversa continha a seguinte informação: “Grupo de alto ajuda [sic]. Aborto com cytotec original. Somente adm [administrador] que vende. Cuidado com golpeee… Não responsabilizamos por golpeee dentro do grupo!!!!!!”.
Nas trocas de mensagens, as mulheres contavam sobre suas experiências após abortarem com a ajuda dos medicamentos vendidos pelo criminoso.
Uma delas desabafa contando ter sentido muita dor e sofrer sangramentos. “Saiu um pequeno coágulo, bem grosso, mas foi só ele. O restante eu sangrei e parou. Aí senti dor de barriga, doeu demais. Aí eu fui dormir um pouco depois que tomei os últimos comprimidos agora, às 19 horas. E, agora, só sai um pouquinho de sangue, quase nada. E está escorrendo tipo uma água, mas não é muito”, relatou a mulher.
Outra cliente diz estar grávida de seis semanas. “Estou com medo de comprar os comprimidos e muito insegura”, escreveu. Logo em seguida, uma integrante do grupo garante que ela não será passada para trás. “Bom dia, pode comprar sem medo. Aqui não é golpe”, afirmou.
Altos rendimentos
Em outra ofensiva contra a venda clandestina de abortivos pela internet, a DRCC deflagrou, em 12 de agosto, a Operação Sexto Dia, que terminou com uma estudante de medicina veterinária, de 24 anos, detida. Ela é apontada como a cabeça de uma quadrilha que vendia esse tipo de fármaco para todo o Brasil.
A suspeita fazia todas as negociações via internet.
O mandado de busca foi cumprido em Salvador (BA). Segundo as investigações, a autora agia com apoio de um homem que trabalha em farmácia. A associação criminosa criava e administrava perfis de apoio à mulher em redes sociais e, lá, informavam a possibilidade de “aborto seguro”, com utilização do medicamento Cytotec. Os policiais também encontraram maconha gourmet na casa da universitária.
A jovem teria assumido ter uma página em rede social e que, nela, trocava contato com os clientes e chegava a vender uma cartela com 12 comprimidos por R$ 4 mil. Os interessados preenchiam um formulário e, por meio do documento, a jovem citava as possibilidades de aborto até 12 semanas de gestação. Ela, ainda, dividia o valor do serviço em até 12 vezes.