Guarda provisória de Thaissa fica com a família adotiva da menina
Informação foi confirmada pelos advogados de ambas as partes. Defesa da mãe biológica vai recorrer da decisão
atualizado
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A família adotiva de Thaissa Ayane Borges Tavares, 8 anos, permanecerá com a guarda provisória da menina. A informação foi dada ao Metrópoles nesta quinta-feira (31/10/2019) pelo advogado de Rafaela Victor Santana, 28, mãe biológica da criança. Segundo Thiago Caixeta, o magistrado da Promotoria de Justiça do Gama teria definido que a tutela provisória de Thaissa permanecesse com a família adotiva.
A defesa de Rafaela, porém, contesta a decisão e vai recorrer. “Vamos tentar uma guarda compartilhada”, pontuou Caixeta. Nesta quinta-feira (31/10/2019), após ser ouvida pelo Conselho Tutelar na 14ª Delegacia de Polícia (Gama), a mãe biológica da menina disse esperar “que seja feita a justiça conforme tem que ser feito”.
O advogado da família adotiva, Rafael Montenegro, confirmou a informação quanto à guarda da criança. Em relação a uma possível guarda compartilhada, o defensor disse que não é de interesse. “Ele [outro advogado] não entrou em comunicação com a nossa família. O que nos interessa é findar o processo de adoção e ter a tutela definitiva da criança”, disse.
“O Conselho Tutelar entrou em contato com a promotoria e eles falaram que já poderia fazer a entrega aqui, que não havia necessidade de maior desgaste emocional da criança”, completou Montenegro. Procurado pelo Metrópoles, o Ministério Público do DF não comentou a informação quanto à guarda da menina, uma vez que o caso envolve menor de idade. Portanto, corre em sigilo.
“Busca constante”
Na delegacia, após se apresentar à polícia, abraçada com a filha mais velha, de 10 anos, Rafaela relatou que a menina sente falta da irmã e que unir as duas foi “um sonho”. “Foi uma busca constante durante anos. Para mim foi um sonho ver a minha filha novamente. Não fiz somente por mim, fiz porque a Sarah [outra filha da mulher] sofreu muito durante anos. Ela passa por tratamento psicológico até hoje por conta da falta da irmã”, contou.
“Ela falava para mim: ‘Mãe, por que todo mundo vive com sua irmã e eu não?’. Então eu prometi para ela que nunca iria abandonar esse caso e que um dia veria as duas juntas. E o nosso vínculo afetivo não foi quebrado”, completou a mãe biológica.
Para Rafaela, nos dois dias em que Thaissa conviveu com ela, a criança esteve feliz. “O sorriso dela é de canto a canto. É uma nova descoberta na vida dela. A pior confusão de tudo isso é que ela estava sendo criada em uma mentira, até o nome dela foi mudado”, frisou.
Depois de se apresentar, Rafaela afirmou à imprensa que fará de tudo para ficar com Thaissa. “Vou lutar por ela. Nunca desisti da minha filha”, salientou. Negou que teria “sequestrado” a garota e disse que foi “tomada por um desespero de mãe”. De acordo com a mulher, Thaissa aceitou ir com ela sem reagir.
“Ela simplesmente me olhou profundamente e ficou falando ‘Calma, moça, calma’. Foi como se eu abrisse uma gaiola e um passarinho voasse. Ela vivia uma mentira, um amor forçado com a outra família”, assinalou Rafaela.
Boletim de ocorrência
De acordo com o advogado da família Borges, Rafael Montenegro, os parentes adotivos ainda não sabem o estado da garota. “O procedimento é o Conselho Tutelar escutar a criança e as partes envolvidas”, explicou. Ele afirma que é possível Thaissa voltar para a família ainda nesta quinta-feira (31/10/2019).
Zilmar Borges Custódio, que teve a guarda provisória da criança deferida no último dia 21 de outubro, filhas, parentes e amigos também aguardavam a chegada de Rafaela. A mãe adotiva preferiu não se pronunciar sobre o caso.
Na quarta-feira (30/10/2019), o advogado de Rafaela, Thiago Caixeta, afirmou que havia um boletim de ocorrência sobre a subtração de incapaz referente à garota, em 2015, na 26ª Delegacia de Polícia (Samambaia). O defensor disse ao Metrópoles que a família adotiva da menina frequentemente mudava de endereço para “fugir” da mãe biológica.
“A família de Zilmar pegou a criança para si e mudou de residência. Elas moravam em Samambaia. Depois, parece que foram para o Recanto das Emas, Valparaíso e, agora, estão no Gama. A Rafaela se aproximava e elas fugiam. Ela estava desde então procurando”, relatou o advogado.
Bruno Dias, delegado responsável pelas apurações, comentou sobre o boletim de ocorrência. Segundo o policial, a influência do documento será maior quando o caso chegar à parte judiciária. “A atuação da polícia pode acabar quando a criança estiver aqui. Mas ainda serão feitas todas as investigações e conclusões do caso”, ressaltou.
Veja BO com registro de subtração de 2015:
No entanto, Thayanne Borges (foto em destaque), irmã adotiva de Thaissa, afirma que a família morou em Samambaia por 23 anos. Também tinha vizinhos que podem ser chamados como testemunhas.
“Quando ela se mudou, perdemos o contato. Entretanto, em nenhum momento, Rafaela nos disse que queria a criança”, frisou Thayanne. “Só queria saber como ela estava. Em cinco anos, não houve contato, mas todos os parentes tinham o contato para ela procurar”, enfatiza.
O caso
No início da tarde de terça (29/10/2019), no Gama, Thaissa Ayanne Silva Santana seguia para a escola com a irmã mais velha quando, na altura da Quadra 19 da região administrativa, dois homens e uma mulher desceram de um carro e teriam levado a estudante à força.
A pessoa que denunciou o caso aos agentes da 14ª DP reconheceu a mãe biológica da criança, Rafaela Victor Santana, como uma das autoras do suposto crime. Ela teria entregado a filha para a adoção logo após o parto.
A família adotiva conta que conheceu Rafaela quando morava em Samambaia. “Ela era nossa vizinha na época e trabalhava como costureira. Começamos a levar algumas roupas para consertar lá. Quando ela engravidou, contou que não queria a criança, que era uma gravidez indesejada. Ela chegou para a minha mãe e perguntou: ‘A senhora quer?’”, relatou Thayanne, uma das filhas de Zilmar.
A criança nasceu com problemas de saúde, com sopro no coração, e chegou a ficar internada por 17 dias. Além disso, foi diagnosticada com lesão nos rins e intestino perfurado. Após a garotinha passar por cirurgias e anos de recuperação, a família oficializou a adoção de Thaissa e já tem a guarda provisória.
“Quando sentamos para conversar sobre a adoção com a genitora, deixamos claro: não há devolução. Ela concordou e disse que não queria nada com a menina, que nunca iria pegá-la e sabia que estava sendo bem cuidada”, salienta Thayanne. A irmã da vítima comentou que a suspeita chegou a ligar algumas vezes para saber como estava a criança, mas quando se mudou de Samambaia, nunca mais entrou em contato. Na época, Thaissa tinha menos de 2 anos.