Greve geral: brasiliense enfrenta calvário para chegar ao trabalho
A maioria recorreu ao transporte pirata para conseguir se locomover. Com mais carros nas vias, trânsito ficou congestionado durante a manhã
atualizado
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O brasiliense enfrentou um verdadeiro calvário para conseguir chegar ao trabalho na manhã desta sexta-feira (14/06/2019). Com diversos serviços suspensos em função da greve geral, quem precisou se locomover na capital do país teve de improvisar. Uma das alternativas foi o transporte pirata. Na Rodoviária do Plano Piloto, as vans clandestinas fizeram fila para desembarcar passageiros. Nas paradas de ônibus de diversas regiões administrativas, os piratas eram os únicos meios de condução para quem não têm carro.
Com 100% da frota de ônibus parada, muita gente decidiu tirar os veícuslos da garagem. O que se viu foram imagens atípicas: engarrafamentos quilométricos antes das 6h nas principais vias do DF.
As paradas de ônibus da W3 sul amanheceram vazias. A copeira Maria José Costa, 63, disse que a empresa onde trabalha disponibilizou transporte particular para levar os funcionários até o serviço. “Eles combinaram que viríamos até a W3 e, depois, um motorista nos levaria até a empresa. Consegui pegar o Metrô, mas não estamos mesmo vendo nenhum ônibus rodando”, contou a copeira.
Já o serralheiro Marcelo Torres, 27, chegou à Rodoviária do Plano Piloto por volta das 6h40. “Vim de Ceilândia de Metrô e agora, vou ter que ir de pirata até o meu destino final. A greve é legítima para garantir direitos, mas sempre atrapalha a vida dos menos favorecidos. É complicado porque temos de trabalhar”, queixa-se.
Por sua vez, a doméstica Edileuza Martins, 36 anos, saiu de Padre Bernardo (GO), às 4h30 para chegar em seu trabalho, no Guará, às 7h. “Como fui avisada da greve e não posso perder o serviço, me preveni e saí mais cedo, pois estava com medo de não conseguir chegar. Os ônibus no Entorno estão rodando normalmente. Cheguei até a Rodoviária e, agora vou de pirata”.
Protestos
Em protesto contra os cortes nas verbas das universidades, estudantes fecharam a via L2 Norte, na altura da Universidade de Brasília (UnB) . Os manifestantes se colocaram, também, contra a reforma da previdência, pauta da greve geral. Munidos de faixas, megafones e bandeiras, eles interromperam o trânsito por alguns minutos.
Na altura do km 12 da BR-070, cerca de 40 manifestantes também protestaram fechando a passagem dos veículos. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) acompanhou o protesto até a dispersão do grupo, que ocorreu por volta das 8h45.
O ato no país inteiro convocado como forma de protesto à reforma da Previdência recebeu uma série de liminares expedidas pela Justiça, determinando a manutenção integral ou parcial dos serviços. No entanto, algumas categorias não vão cumprir as decisões judiciais.
É o caso dos rodoviários. Eles decidiram parar e não seguir a liminar do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de manter toda a frota rodando. A multa por descumprimento é de R$ 100 mil por empresa afetada; mas, em conversas em grupo de WhatsApp da categoria às quais o Metrópoles teve acesso, a orientação dos dirigentes é que os trabalhadores permaneçam em casa.
Para impedir que motoristas e cobradores furem a greve, representantes do Sindicato dos Rodoviários disseram que estarão na porta das garagens das empresas para garantir que nenhum ônibus saia.
Segundo dados do Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans), existem hoje no DF 2.816 ônibus: 213 articulados, 52 do tipo “padron” (aqueles que, além das portas dianteira e traseira, têm uma central), 2.166 alongados e 385 miniônibus/micro-ônibus. Somente como usuários do bilhete único, há 1,5 milhão de passageiros cadastrados, nas 833 linhas de ônibus do Distrito Federal.
Metrô
Com uma greve que já dura 46 dias, os metroviários decidiram manter o esquema em vigor nas últimas semanas: 75% do efetivo nos horários de pico e 30% nas demais horas do dia. O TRT determinou que ao menos 40% dos servidores estejam em atividade, mas o Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transportes Metroviários do DF (Sindmetrô) informou não ter sido notificado da decisão emitida nessa quinta (13/06/2019).
Educação
As escolas públicas não funcionarão e os professores decidiram fazer uma assembleia nesta sexta-feira. Além de apoiarem o movimento nacional, eles vão para a Praça do Buriti, às 9h30, pedir reajuste salarial e o cumprimento da meta 17 do Plano Distrital de Educação.
A Secretaria de Educação informou, por meio de nota, que as aulas não ministradas durante a paralisação deverão ser repostas em datas a serem definidas pelas direções das escolas, ainda no segundo bimestre.
Bancos
O Sindicato dos Bancários aderiu ao movimento grevista. Conforme informou a assessoria de imprensa da entidade, agências de todos os bancos permanecerão fechadas nesta sexta. O terminais de autoatendimento e as casas lotéricas funcionarão normalmente.
Saúde e segurança
Médicos, enfermeiros, auxiliares de saúde, policiais federais, militares e civis optaram, até o momento, por não participar do movimento.
Servidores federais
A Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condisef), que representa 80% dos 625 mil servidores federais, além de aposentados e pensionistas, decidiu participar da greve.
“Nossa base aprovou. Formalizamos ofício junto ao Ministério da Economia informando a paralisação. Vamos lutar pelo fim do desmonte do serviço público. Somos contra a liquidação das empresas públicas e contra essa reforma, que acaba com a nossa aposentadoria”, afirmou o secretário-geral da Condisef, Sérgio Ronaldo da Silva.
Outros serviços
Param também os funcionários do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), inviabilizando a abertura de postos de atendimento espalhados pelas regiões administrativas.
Servidores do Na Hora, do Departamento de Trânsito (Detran-DF), da Companhia de Saneamento Ambiental (Caesb), entre outros, também prometem não ir às unidades de trabalho. O mesmo se aplica a servidores de ministérios, autarquias, fundações e outros órgãos e entidades vinculados ao governo federal.
Funcionários do Zoológico manifestaram-se a favor da greve, mas a assessoria de imprensa da fundação garantiu o funcionamento.
O Sindicato dos Servidores Públicos Civis da Administração Direta, Autarquias, Fundações e Tribunal de Contas do DF (Sindireta) votou por participar da greve geral. Com a adesão, ficam parados ainda a Defensoria Pública, a Procuradoria-Geral do DF e o Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans).
Limpeza urbana
O juiz Antônio Umberto de Souza Júnior, do Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região (TRT-10), determinou que a coleta de lixo no Distrito Federal seja mantida com pelo menos 50% dos trabalhadores da área durante a greve geral marcada para esta sexta-feira (14/06/2019).
No caso do lixo hospitalar, o serviço deverá ser realizado por 100% do efetivo. Se a decisão for descumprida, o sindicato que representa a categoria está sujeito ao pagamento de multa de R$ 200 mil.