Governo de transição estuda usar Centrad para abrigar universidade
Com alto custo para transferir a burocracia do Plano Piloto para Taguatinga, gestão de Ibaneis pode fazer uso misto do espaço
atualizado
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A equipe de transição do governador eleito Ibaneis Rocha (MDB) fez uma visita técnica ao Centro Administrativo (Centrad), em Taguatinga. Os futuros secretários de Fazenda, André Clemente, e de Obras e Desenvolvimento, Izídio Santos Júnior, foram ao local na manhã desta terça-feira (27/11).
O grupo estuda a possibilidade de transferir a sede do governo para o empreendimento, construído entre as gestões de José Roberto Arruda (PR) e Agnelo Queiroz (PT) justamente para essa finalidade. Como o Metrópoles mostrou em reportagem publicada no dia 11 de novembro, existem, atualmente, pelo menos 60 processos envolvendo o Centrad. As ações discutem questões que vão desde o alvará do prédio e indícios de fraude no nascedouro do acordo até a ausência de documentos primários para colocar o complexo em operação.
Orçada em R$ 660 milhões, a obra executada pelo consórcio formado por Via Engenharia e Odebrecht custou cerca de R$ 1 bilhão e acabou inaugurada no apagar das luzes do governo de Agnelo Queiroz (PT). No entanto, jamais chegou a funcionar, por apresentar uma série de irregularidades apontadas pelo Ministério Público e pelo Tribunal de Contas locais – o que só se agravou após a delação premiada do alto escalão da Odebrecht na Lava Jato.
Além do emaranhado jurídico, a transferência da burocracia do Plano Piloto para Taguatinga custaria três vezes mais do que o GDF paga atualmente em aluguéis para abrigar os servidores. Apesar das circunstâncias desfavoráveis, a gestão de Ibaneis demonstrou, em um primeiro momento, interesse em dar continuação ao projeto de Arruda e Agnelo em parceria com a Odebrecht e a Via Engenharia.
Nos primeiros dias da transição, o governador eleito esteve na Caixa Econômica Federal e chegou a tratar com o presidente da instituição, Nelson Antônio de Souza, a disposição de quitar empréstimo de R$ 1,3 bilhão para dar sequência à realização do contrato com o consórcio.
Universidade
Em um primeiro momento, chegou-se a falar na transferência para o Centrad até março do ano que vem. Nesta manhã, no entanto, os secretários que vão integrar a cúpula do governo retomaram uma ideia aventada durante a campanha, de aproveitar o espaço não somente para acomodar os servidores do Executivo, mas como endereço, por exemplo, de uma universidade.
Segundo André Clemente, a ida ao Centrad nesta terça (27) foi justamente para coletar informações técnicas que poderão orientar o governo. “Há questões jurídicas e econômicas mas também físicas, que precisam ser analisadas e estudadas. É necessário enfrentar a questão, e o DF não pode fechar os olhos para esse problema”, comentou o futuro secretário de Fazenda.
Na última quarta-feira (21), Ibaneis reuniu-se com a diretoria da Caixa e pediu uma avaliação do imóvel. “Para quando chegarmos ao Ministério Público e ao Poder Judiciário termos todas as possibilidades. Estamos trabalhando a compra do local porque lá dentro vamos conseguir fazer o que é melhor para o DF”, afirmou o emedebista, na ocasião.
Com R$ 1,3 bilhão que o GDF calcula repassar para a Caixa, daria para construir, por exemplo, 1 mil creches, ao custo de R$ 1,3 milhão cada. Além disso, poderiam ser disponibilizados para a população cerca de 215 hospitais públicos, com áreas de até 2,4 mil metros quadrados a um custo unitário de R$ 6 milhões.
Matematicamente, pelas informações disponibilizadas pelo próprio GDF, o Centrad se apresenta como uma alternativa onerosa para abrigar 13 mil dos 130 mil servidores locais. Ocupar o complexo custaria R$ 276 milhões por ano, o que significa R$ 194 milhões a mais do que o dispêndio atual do GDF com aluguéis, segundo dados oficiais obtidos pelo Metrópoles.
De acordo com a Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão (Seplag), o gasto anual com locação de espaços para acomodar secretarias, direções e outros órgãos é de R$ 82 milhões. Esse dinheiro é destinado a abrigar os 130 mil servidores locais.
Do total que seria desembolsado com a transferência, já estão computadas despesas com serviços de manutenção, limpeza e vigilância. Mas está excluído gasto com mobília, por exemplo, que vai ser usada no Centro Administrativo, e equipamentos eletrônicos. Sem contar as instalações de dados e voz, sem as quais essas máquinas não poderão ser usadas.
Clemente afirmou que é um compromisso do próximo governo resolver a questão do Centrad. “Se vamos ocupar ou não, vai depender das questões jurídicas e de fechar a conta. Há possibilidade de uso misto também, que seria o governo e uma universidade utilizando o mesmo espaço”, disse.
Foi cogitada ainda a possibilidade de o Centro virar um hospital, mas, tendo em vista os altos investimentos, a ideia acabou descartada. O futuro secretário de Obras avaliou que, apesar do passar do tempo, a estrutura continua “fantástica”, mas admitiu que é preciso fazer alguns investimentos. “A parte de energia atende, mas há alguns custos adicionais como mobiliário, TI [tecnologia da informação] e acabamento final da obra”, pontuou Izídio Júnior.
Visita
Também participaram da visita técnica o próximo diretor-geral do Departamento de Estradas de Rodagem (DER-DF), Fauzi Nacfur, representantes da Terracap, Novacap e da concessionária da Via Engenharia e Odebrecht. Por dentro, o prédio inacabado dá sinais de desgaste. Além de empoeirado, está com janelas quebradas e infiltrações.
O Centrad não é o único elefante branco deixado pela gestão de Agnelo Queiroz (PT) e de Arruda. Pivô de um escândalo de corrupção, o Estádio Mané Garrincha é outra construção praticamente inoperante na capital do país.