Governo e invasores brigam em Brasília há mais de 30 anos

As constantes brigas por terreno têm marcado a atual gestão do Distrito Federal. Foram diversas operações de derrubada para tentar conter o avanço de ocupações irregulares. O problema, porém, não é recente. Documentos secretos recém-divulgados pelo Arquivo Público de Brasília mostram que as disputas ocorrem há mais de três décadas na capital do país.

Em 1983, ao menos 13 invasões foram identificadas pela Secretaria de Segurança do DF, segundo relatório da época. Assim como nos dias atuais, o governo promoveu diversas ações de derrubada e retirada de ocupações irregulares naquele ano.

Uma das operações ocorreu na chamada invasão do DVO, entre Sobradinho e Planaltina. A ação coordenada pela Terracap e pela Polícia Militar previa a retirada de 10 famílias do local. Mas a intervenção de jornalistas levou à mudança de planos e os ocupantes foram apenas notificados e inscritos em programas de habitação.

Em Ceilândia, a distribuição de lotes não teve final tão pacífico. Na ocasião, seis pessoas foram levadas à delegacia após tumulto generalizado no local. De acordo com relatórios da Secretaria de Segurança da época, a cessão de terrenos seria uma forma de atrair integrantes para Associações de Moradores e enfraquecer a administração local.

Quatro anos depois, em 1987, já após o término do regime militar, os problemas territoriais seguiam em Brasília. Na quadra 110 da Asa Norte, uma invasão tomou proporções inesperadas e chegou a abrigar 500 famílias que exigiam terras para morar (foto principal).

Após negociações, 140 famílias retornaram ao estado de origem. Outras 80 foram assentadas em cidades de Goiás, como Planaltina e Corumbá. Porém, o restante dos invasores se diziam irredutíveis e só sairiam com um terreno dentro do DF.

No dia 16 de agosto, equipes da Terracap, da Polícia Militar, do Corpo de Bombeiros, da Polícia Militar, da Secretaria de Saúde, entre outros órgãos, fizeram uma operação surpresa e derrubaram mais de 340 barracos que ainda ocupavam a quadra. A população não resistiu no dia, mas parte dos moradores seguiu lutando.

Após 30 anos, as invasões mudaram de lugar, mas os problemas de ocupação irregular do solo ainda persistem e geram debates e disputas semelhantes àquelas dos ocupantes da quadra 110 Norte.

Os documentos sobre a atuação dos órgãos de repressão da ditadura militar em Brasília foram digitalizados e colocados à disposição da população pelo Arquivo Público do Distrito Federal. A ação faz parte da iniciativa Memórias Reveladas, que busca trazer à luz fatos e investigações dos “anos de chumbo” no Brasil.