Golpista presa diz que “bastaria soldado raso” para que deixassem QG
Ana Priscila Azevedo, golpista presa e apontada como liderança dos atos, joga culpa de manutenção de acampamento do QG no Exército
atualizado
Compartilhar notícia
Ana Priscila Azevedo, atualmente presa e apontada como liderança de atos golpistas, colocou no Exército a culpa pela manutenção dos acampamentos em frente aos quartéis-generais.
Chamada de “nossa heroína” e “peça-chave” pelos golpistas, ela depõe nesta quinta-feira (28/9) na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos, na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF).
Acompanhe a CPI ao vivo:
“Os acampamentos ficaram montados há tanto tempo sem ninguém falar nada em sentido contrário. Por isso, ousamos pensar que éramos bem-vindos. Bastaria um soldado raso nos avisar que deveríamos sair que teríamos ido embora. Ao contrário, vários foram os chamados para que fosse mantida a mobilização popular”, disse, em depoimento inicial.
Ana Priscila ainda relatou ter percebido “apoio” e “ajuda” do Exército quanto às manifestações no local. Ela mantinha canais no Telegram com mais de 50 mil participantes, incentivando invasões. Mensagens obtidas pelo Metrópoles mostram a movimentação violenta pelo golpe de Estado em grupos administrados pela mulher.
Os grupos mudavam constantemente de nome, eram excluídos por determinação judicial e retornavam à ativa “do zero”. Neles, Ana instigava e a direita mandava fotos de armas, ameaças e planejamentos para o 8 de Janeiro.
As mensagens mostravam claramente a intenção de invadir os prédios públicos, como acabou acontecendo naquela data, e a liderança da depoente desta quinta, que nega esse posto. Bolsonaristas escreveram: “Ana, mantenha-se escondida, você é peça-chave” e “Você é nossa heroína, luz, abriu nossos olhos e pintou nosso coração de verde oliva”. Em outro momento, bradaram: “Já passou da hora de invadir os Três Poderes”, “Invade com caminhões, quebra tudo”.
Influencer do golpe
Ana Priscila Azevedo virou uma espécie de “influencer” da direita após a derrota de Jair Bolsonaro (PL) nas urnas, administrando grupos on-line de pessoas que queriam anular o resultado democrático e enviando áudios (ouça abaixo) quase diários.
Na véspera do 8 de Janeiro, ela declarou que iria “sitiar os Três Poderes” e incentivou invasões. No dia dos crimes, xingou de “cristãos de merda” quem não compareceu à Esplanada pela manhã e comemorou o vandalismo à tarde.
Quando Michelle Bolsonaro postou no Instagram um vídeo com crianças na piscina do Palácio da Alvorada, Ana Priscila incitou manifestantes a invadir o local e tomar um banho. “Brasília é muita seca. Os senhores estão todos convidados a tomar um banho de piscina no Palácio da Alvorada”, disse a líder dos atos, dia 7.
No 8 de Janeiro, enquanto manifestantes agrediam policiais militares, furavam barreiras de segurança, entravam à força no Congresso Nacional e depredavam símbolos da democracia, Ana Priscila Azevedo ria e comemorava.
Porém, como ela não foi presa naquele dia, a própria direita se virou contra a mulher, acusando-a de ser uma “infiltrada” da esquerda. A líder dos atos golpistas foi detida em Luziânia, em 10 de janeiro.
A defesa de Ana Priscila critica as condições de cárcere e o andamento do processo. Segundo o advogado Claudio Avelar, ela ficou em uma solitária, sem banho de sol, até 10 dias atrás, com problemas de saúde.
“Solitária é castigo, não é pena. Ou o preso fez coisa muito errada ou precisa disso para se proteger. Ela não tinha do que ser protegida, não tem infração administrativa, tem bom comportamento. E a Ana Priscila não foi denunciada. Se não teve a denúncia, não apontaram os crimes que ela pode ter cometido, então por que está presa?”, questiona.
Ainda segundo ele, “a grande mentira” que envolve o nome dela é que ela seria uma infiltrada. “Ela simplesmente fez um movimento, participou das manifestações e sumiu. As próprias presas comentaram comigo que tinha uma tal de Ana Priscila que não foi presa porque era infiltrada”, cita Claudio Avelar.