GDF defende projeto do novo viaduto, mesmo após veto do Iphan
Ideia, segundo o titular da Casa Civil, Sérgio Sampaio, não é enfrentar o instituto, mas chegar a acordo. Para ele, segurança é primordial
atualizado
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O Governo do Distrito Federal (GDF) insistirá no projeto de recuperação do viaduto da Galeria dos Estados que desabou em 6 de fevereiro. O anúncio foi feito nesta quarta-feira (9/5) pelo secretário da Casa Civil, Sérgio Sampaio. O Executivo local defenderá os motivos técnicos que embasam a proposta de ampliação dos oito pilares, a qual não foi aprovada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
“Embora respeitemos as atribuições do Iphan, entendemos que a questão primordial é a segurança”, afirmou. De acordo com Sampaio, o projeto ainda apresenta aspectos de economicidade e ecológicos. A recuperação deve custar R$ 15 milhões. A reconstrução total da estrutura, segundo o Palácio do Buriti, custaria R$ 27 milhões.
O chefe da Casa Civil explicou que o Departamento de Estradas de Rodagem do Distrito Federal (DER-DR) e a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) entenderam ser essa a melhor saída porque não se sentiram seguros em reproduzir o conjunto de viadutos construídos há 60 anos.
Pilares
Conforme revelou o Metrópoles no mês passado, o projeto de reconstrução prevê uma mudança arquitetônica nos pilares de sustentação da estrutura. A proposta estabelece a ampliação das oito colunas. Dessa forma, justificou o governo, seria eliminado o balanço do elevado, ou seja, o vão entre o pilar e a lateral da laje.
O GDF optou pelos grandes pilares porque preferiu não demolir o viaduto, indo contra sugestão de uma comissão formada por especialistas da UnB. O projeto híbrido, como chama a equipe do Buriti e que tem a chancela do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea), previa a instalação de uma laje maciça, de 28mx198m, sem juntas de dilatação, sobre a atual estrutura de concreto armado.
O problema é que os pilares foram utilizados sem coerência com a concepção arquitetônica de Brasília, dizem especialistas. Mais distribuídos e menores, garantem a democratização da circulação. Mesmo conceito utilizado nos pilotis dos prédios residenciais no Plano Piloto. A disposição cria generosos espaços livres, permitindo a visualização da cidade. Com nova proposta, será impossível enxergar sequer o outro lado da via.
A decisão do Iphan de não aprovar o projeto foi tomada na segunda (7), após consulta a arquitetos e engenheiros da Universidade de Brasília (UnB). A superintendência do órgão no Distrito Federal não aprovou o projeto apresentado pelo DER-DF e pela Novacap “por entender que altera fortemente a arquitetura original e compromete a integridade arquitetônica e urbanística e, por extensão, do conjunto da Plataforma Rodoviária e sistema viário complementar”.
Segundo o órgão, que zela pelo título de Patrimônio Cultural da Humanidade conquistado por Brasília, foi recomendado ao GDF a apresentação de uma nova proposta, “visando o caminho da recuperação do viaduto, com diminuição, ao máximo possível, dos pilares, em relação às dimensões apresentadas no projeto em análise”.
Confira o projeto do GDF:
Como é hoje:
Como ia ficar:
Tragédia anunciada
Laudo pericial elaborado pelo Instituto de Criminalística (IC) da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), ao qual o Metrópoles teve acesso em primeira mão, confirmou que há tempos a estrutura pedia reparos.
Os peritos da Seção de Engenharia Legal e Meio Ambiente (Selma) estiveram nas ruínas e produziram um documento com 22 páginas exibindo as causas do desabamento ocorrido no dia 6 de fevereiro de 2018. Por sorte, ninguém se feriu. A perícia aponta omissão do poder público.
“Havia sinais externos de deterioração típicos e passíveis de identificação técnica por profissionais devidamente habilitados, sendo possível apontar e corrigir as patologias nas estruturas, não havendo que se falar em vício oculto“, destacou o documento.
Confira as fotos do desabamento:
Muitos alertas
Em 2006, a UnB divulgou um estudo alertando para a situação precária de pontes e viadutos do DF. O da Galeria dos Estados estava entre os mais graves. Em 2009, o Crea divulgou documento com avaliações semelhantes. Em 2011, foi a vez do Tribunal de Contas do DF (TCDF).
Em agosto de 2014, um documento técnico da Novacap já alertava para a necessidade de obras imediatas no viaduto. Em 2017, outro relatório da empresa (confira a íntegra abaixo) novamente chamava atenção para o problema. O texto, assinado pela servidora Nádia Hermano Tormin, trazia todo o histórico do projeto da obra na estatal, que deveria ser tratada com “nível de prioridade nas ações de governo”.
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Ao terminar o documento de nove páginas, ela destacou: “A não efetivação de intervenções essenciais pode ocasionar eventos de consequências irreparáveis”. Quase nove meses depois, o viaduto desabou. Milagrosamente, não houve mortos nem feridos.
Relembre o momento da queda do viaduto: