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GDF abre sindicância para apurar denúncias de negligência no HRSam

Diário Oficial também traz exonerações de servidores do hospital de Samambaia, mas Saúde diz que elas não têm a ver com investigações

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
HRSam – hospital regional de samambaia
1 de 1 HRSam – hospital regional de samambaia - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Após as denúncias recebidas pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) de negligência médica e violência obstétrica no Hospital Regional de Samambaia (HRSam), a Secretaria de Estado de Saúde instaurou uma Comissão de Sindicância para apurar pelo menos 15 episódios graves relatados por pacientes.

A Portaria nº 588 autoriza a investigação e foi publicada no Diário Oficial do Distrito Federal (DODF) desta sexta-feira (19/07/2019). Três pessoas foram nomeadas para dar início aos trabalhos, que devem ser concluídos no prazo de 30 dias, prorrogáveis por igual período. “Quando as circunstâncias assim o exigirem e desde que devidamente justificado”, segundo ressalta trecho do documento.

 

Reprodução/DODF

 

De acordo com a Saúde, a sindicância foi instaurada por determinação do governador Ibaneis Rocha (MDB), na quarta-feira (17/07/2019). “Como a apuração é sigilosa, a secretaria só irá se manifestar após a conclusão dos trabalhos”, informou a pasta ao Metrópoles, por meio de nota.

O DODF desta sexta (19/07/2019) também traz exonerações de profissionais do HRSam. Na lista, há nomes de especialistas nas áreas de radiologia, médico anestesiologista e supervisor de emergência. Segundo a pasta, as demissões “não têm nada a ver com as investigações.”

Ocorrências

Os casos estão sendo apurados pela 26ª Delegacia de Polícia (Samambaia Norte). O número de ocorrências chegou a 15 nessa quinta-feira (18/07/2019). “Todo dia tem alguém ligando”, afirma o delegado Guilherme Sousa Melo, responsável por investigar as denúncias. Segundo ele, depois da divulgação inicial de 11 ocorrências na última segunda (15/07/2019), muitas mulheres estão se sentindo encorajadas a contar o que ocorreu com elas.

Os quatro novos casos que chegaram ao conhecimento da polícia, informa o delegado, seguem o mesmo roteiro daqueles que já estão sendo apurados: curetagem malfeita, destrato com pacientes e diagnósticos errados. Um deles, no entanto, chamou atenção pela quantidade de acusações. “A criança teve a clavícula quebrada durante o parto, o médico deixou restos de placenta no útero da mãe e ainda a chamou de sebosa e porca”, disse o delegado.

O problema para a apuração é conseguir identificar, de fato, todos os médicos que agiram de forma negligente. “É muito difícil que as pacientes lembrem o nome de quem as atendeu. Já pedimos a escala dos dias em que ocorreram os casos, só que, mesmo assim, não dá para afirmar que foram os tais profissionais”, explica.

“Já determinamos que seja feito o acompanhamento do caso e vamos fornecer todos os dados aos órgãos competentes pela investigação. Se houver realmente irregularidades, vamos punir esses profissionais”, ressaltou. O titular do Palácio do Buriti determinou a abertura de uma sindicância para apurar os fatos.

Disseram que o filho estava morto

Nessa quarta-feira (17/07/2019), o Metrópoles trouxe o relato de uma jovem de 16 anos. A estudante V. G. S. viveu horas de apreensão após dar entrada, grávida, no HRSam apresentando fortes dores na região da barriga. Na unidade pública de saúde, foi recebida e atendida por uma médica que, sem nem mesmo realizar qualquer exame, diagnosticou a morte precoce de seu bebê e receitou um abortivo. Nove horas depois, a gestante entrou em trabalho de parto e, contrariando o diagnóstico da profissional, deu à luz um menino cujo coração ainda batia.

A surpresa e a alegria da mãe e dos familiares duraram exatamente uma hora e 40 minutos. Após ela deixar a sala de cirurgia para se instalar no quarto, um médico informou à jovem que seu bebê prematuro, de 6 meses, havia sofrido complicações e não resistiu. O óbito foi registrado às 23h30 daquele dia.

A adolescente sustenta que a morte da criança é resultado da negligência dos profissionais e poderia ter sido evitada com um diagnóstico preciso. “A médica apenas tocou na minha barriga e disse que meu bebê tinha morrido. Sem fazer exames, me medicou. Mais tarde, por volta das 19h, outro médico me examinou, com um estetoscópio, e disse que não conseguia ouvir os batimentos cardíacos. Mesmo assim, meu filho nasceu vivo. Se fosse em qualquer outro hospital ou com qualquer outro médico, ele poderia estar comigo hoje”, desabafou a jovem.

Gaze esquecida na vagina

Erika Pereira Nascimento, 25 anos, foi outra a denunciar o HRSam. Não bastasse o trauma de perder o primeiro filho por complicações na gestação, de acordo com a mulher, os médicos responsáveis pelo parto do natimorto esqueceram, em seu útero, duas gazes utilizadas no procedimento cirúrgico.

Ela relatou ter procurado a unidade após realizar exame de ultrassom que apontou a morte precoce do bebê. Diante da comprovação, a equipe optou pela internação da jovem. “Os médicos disseram que não podiam fazer mais nada. Fizeram os procedimentos de internação, mas só fui fazer o parto no dia seguinte, por volta das 5h.”

Dois dias após o parto, a autônoma recebeu alta médica e voltou para casa. No entanto, durante a recuperação, começou a ter complicações. “Fiz todo meu resguardo da maneira como me foi recomendado e, no final do período, comecei a sentir dores e percebi que saía um líquido com odor forte e sangue da minha vagina. No início, achei que fazia parte do próprio resguardo”, conta.

Cinco dias após ela apresentar os sangramentos na região uterina, as dores se intensificaram, e Erika procurou novamente o HRSam. “Eu sentia uma dor muito forte. Quando tocava, parecia ter um caroço. Fui ao hospital ver o que era, e o médico retirou de dentro da vagina a primeira gaze, que estava podre, e em seguida outra.”

Segundo Erika, o profissional responsável pela extração dos materiais hospitalares omitiu a informação no prontuário, em uma tentativa de “esconder o erro médico”. À reportagem, a jovem disse ter procurado a PCDF no dia seguinte, para denunciar o fato, e ter se sentido “esquecida”.

“Foi tudo muito difícil. Primeiro, perdi meu primeiro filho, em um hospital que não tinha atendimento bom, que foi negligente. Fui esquecida e minha irmã teve de procurar os médicos para que eles me atendessem. Depois do parto, quando estava me recuperando e sofrendo meu luto, ainda tive que passar por tudo isso, inacreditável.”

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