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“Gabriel só pensava na família”, diz professor de garoto assassinado

Amigos e familiares lotaram o cemitério de Planaltina para a despedida do menino de 11 anos, vítima de bala perdida

atualizado

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Reprodução/Arquivo pessoal
gabriel, morte, planaltina
1 de 1 gabriel, morte, planaltina - Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Dor, emoção e revolta deram o tom à despedida do menino Gabriel dos Santos Teixeira, 11 anos, morto por uma bala perdida na tarde de quinta-feira (7/6), em Buritis 2, Planaltina. O garoto voltava da aula de futebol, quando levou um tiro no peito. A mãe tentou socorrer o filho com ajuda dos vizinhos, mas o garoto não resistiu ao ferimento.

No cemitério de Planaltina, na tarde deste sábado (9), a mãe não se continha em lágrimas. “Levaram meu menino… isso não é verdade”, repetia Auriene Lopes, aos prantos. Um dos amigos lembrou que o garoto pediu uma chuteira para usar em uma partida marcada para o fim de semana. “Mas não deu tempo”. Colegas do time de futebol de Biel, como era chamado pelos mais íntimos, o homenagearam vestindo a camisa do Grêmio. Era na escolinha de uma franquia do time gaúcho que o menino — flamenguista — treinava.

O professor Francisco Moreira, o Kico, responsável pelo projeto, disse que 62 alunos da escolinha foram ao enterro uniformizados, com balões brancos: “Todos estamos muito tristes. O Gabriel era um garoto muito amoroso, prestativo. Chamava os coleguinhas de irmãos, de tio, tia”.

Ele não se conforma com a morte do aluno: “Para nós, é uma perda muito grande. Uma lacuna que não será preenchida. Ele gostava de jogar sempre no ataque, sonhava em terminar estudos. Só pensava na família, em dar melhores condições a eles”.

Bala perdida
Conforme relatos de pessoas que estavam no local da tragédia, um dos acusados do assassinato usava capacete. Autor dos disparos, o passageiro vestia uma jaqueta preta e amarelo. Gabriel estava em um grupo de meninos que voltavam do campo de futebol. A suspeita é que o garoto tenha sido mais uma vítima da guerra entre gangues.

Ao Metrópoles, Indiara Galvão, uma das primas da vítima, disse que o atirador chegou a apontar uma arma para a cabeça de uma outra pessoa, mas o disparo teria falhado. O suposto alvo teria corrido.

Os criminosos passaram a atirar várias vezes, atingindo o Gabriel, que estava voltando da aulinha de futebol

Indiara Galvão

Ainda de acordo com Indiara, a criança, mesmo ferida, conseguiu entrar no quintal de casa. Em seguida, jogou as chuteiras no chão e caiu ensaguentada na calçada. A mãe presenciou a cena e chamou os vizinhos para ajudar a socorrer o filho.

O irmão de Gabriel também é menor e cumpre medidas socioeducativas em uma unidade de internação do Distrito Federal. Para a família, a situação não motivou o crime cometido nessa quinta. “Estão misturando uma coisa à outra. Vimos algumas publicações que dizem que o meu primo era envolvido com coisas erradas, mas isso é mentira. O Gabriel estudava, era uma criança muito alegre, inteligente, amável, educado. Gostava de abraçar a todos. A mãe dele está arrasada”, afirmou. A 31ª Delegacia de Polícia (Planaltina) investiga o caso.

Tia da vítima, Maria Félix, 52, garante que Gabriel sempre foi um menino muito tranquilo. “Amava futebol e sonhava ser jogador. Nunca fez mal a ninguém. Todos gostavam dele por aqui”, afirmou. De acordo com ela, o sobrinho era conhecido por todos e costumava brincar nas ruas da quadra durante o dia. “Tinha muitos amigos. Era muito querido”, acrescentou.

Um vizinho, que preferiu não se identificar, diz que a região tem ficado mais violenta ultimamente, mas não imaginou que um episódio trágico fosse acontecer tão perto de sua residência. “A gente nunca espera que isso aconteça. Ainda mais com um garoto tão bom quanto o Gabriel. A única preocupação dele era jogar bola e brincar na rua”, comentou.

Outro morador que quis manter o anonimato reclama da insegurança no Setor Residencial Norte de Planaltina. “Isso é coisa de rinha de gangue. Com certeza. Não sei nem se vou poder deixar meu filho brincar na rua mais”, destacou. O corpo de Gabriel será enterrado às 14h deste sábado (9), no cemitério de Planaltina.

Desde 2009, a população da região administrativa sofre com a criminalidade decorrente das guerras de gangues. Para adquirir renda, os criminosos atuam com o tráfico de drogas, roubos e latrocínios. A rivalidade entre os eles também resulta em uma série de assassinatos motivados por acerto de contas.

Mapa do crime
Em 2016, os investigadores da 31ª DP mapearam os territórios ocupados pelas gangues, verificaram o nível de organização dos criminosos e descobriram as engrenagens que movimentam a máquina criminosa das quadrilhas de Planaltina.

De acordo com as apurações, três gangues — a Pombal, a Pé de Rôdo (Arapoanga) e a da área Buritis IV — juntaram-se e formaram uma só. A facção deu origem a um grupo criminoso chamado Crime, Morte e Maldição (CMM). O bando faz questão de deixar a marca nos muros das quadras que dividem os territórios.

A CMM é inimiga da gangue do bairro Jardim Roriz, que se uniu a outras facções do Arapoanga, como as quadrilhas do Triunfo, Bola 10, Morrinho e Dona América. Em setembro de 2017, a delegacia mirou na CMM e cumpriu 37 mandados de prisão e 32 de busca e apreensão no âmbito da Operação TEC- 9. Outro grupo originário do Jardim Roriz, batizado de Agreste, também tem merecido a atenção da polícia.

No dia do crime, policiais informaram que no dia da morte do menino, indivíduos da Pombal, que estavam em uma moto preta, haviam efetuado disparos contra integrantes da gangue do Jardim Roriz. O tiroteio que ceifou a vida de Gabriel teria sido uma represália.

Memória
Gabriel é a vítima mais recente da briga de gangues. No dia 21 de maio deste ano, um outro assassinato chocou o Distrito Federal. Maria Eduarda Rodrigues de Amorim foi baleada e perdeu a vida quando ia pegar milho de pipoca na casa da tia. A garotinha completaria seis anos em agosto e morava com a família nos fundos da casa da avó, na QNO 18, Conjunto 36, em Ceilândia.

O irmão dela entrava no quintal quando dois homens chegaram em um Voyage preto e fizeram vários disparos. O rapaz sobreviveu.

Maria Eduarda levou três tiros – na cabeça, no tórax e na nádega. Ao ser atingida, caiu no corredor da casa. Foi levada por parentes ao Hospital Regional de Ceilândia (HRC), mas chegou à unidade de saúde sem os sinais vitais. Os autores eram adolescentes e o motivo seria a guerra de gangues na região. Os envolvidos foram apreendidos semanas depois pela Polícia Civil.

 

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