Fuzis e rifles: DF vê explodir apreensões de armas de grosso calibre
Considerando últimos cinco anos, a PCDF apreendeu 862 armas longas e de grosso calibre, sendo 36 fuzis, 83 rifles e 55 metralhadoras
atualizado
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Considerando os últimos cinco anos, a Polícia Civil do Distrtito Federal (PCDF) apreendeu um total de 862 armas longas e de grosso calibre, sendo 36 fuzis, 83 rifles, 55 metralhadoras e 537 espingardas. O levantamento realizado pelo Metrópoles indica que no ano passado, justamente quando a cúpula do Primeiro Comando da Capital (PCC) foi transferida para a Penitenciária Federal de Brasília, ocorreu um recorde nas apreensões das “armas de guerra”, registrando aumento de 51% em comparação com 2019.
Há cinco anos, foram apenas 7 rifles e 2 fuzis capturados pela PCDF. O número saltou para 30 rifles e 15 fuzis em 2023, representando um crescimento de 400% para esses dois grupos de armamentos. Somente no ano passado, 215 armas longas e de grosso calibre foram apreendidas.
Veja o comparativo:
Nelson Gonçalves, especialista em Segurança Pública e Educação Policial, lembra que o aumento da quantidade de armas apreendidas pode significar uma série de coisas, inclusive que as forças policiais estão trabalhando de forma mais inteligente. No entanto, o grande problema é que não se sabe ao certo a quantidade de armas ilegais que circulam em território nacional. Assim, é complicado entender se os indicativos de apreensões atingem níveis minimamente satisfatórios.
“Embora esteja aumentando as apreensões, pode significar que há, também, um aumento da disponibilidade de armas ilegais no mercado local. Porque nós sabemos quantas armas foram apreendidas. Mas a gente também não sabe a porcentagem das armas apreendidas em relação às armas que estão em circulação”, afirma Nelson Gonçalves.
Presença das facções criminosas
Desde 2019, o DF recebeu lideranças do Primeiro Comando da Capital (PCC), do Comando Vermelho (CV) e da Família do Norte (FDN). Todos são considerados detentos de altíssima periculosidade e foram confinados na Penitenciária Federal de Brasília. A chegada mais expressiva às prisões do DF é a de Marco Willians Herbas Camacho, popularmente conhecido como Marcola. Ele é o líder máximo do PCC e voltou ao presídio da capital federal no início do ano passado.
A instalação do crime organizado no DF é motivo de preocupação para o Executivo local. Durante entrevista exclusiva ao Metrópoles, em dezembro, o governador Ibaneis Rocha (MDB) declarou que membros de organizações criminosas estão comprando comércios e residências em cidades no Entorno do DF. Esse movimento, segundo Ibaneis, gerou um aumento de crimes como tráfico de drogas na capital federal.
Recentemente, a cúpula do PCC teria divulgado um “salve”, espécie de ordem para que todos os integrantes da facção espalhados pelo país levantem informação sobre servidores dos sistemas penitenciários, inclusive do DF. A intenção seria conseguir benefícios dentro do Complexo Penitenciário do DF, a Papuda.
Para Ibaneis, as ações de organizações como o PCC estão se aproximando do DF devido à transferência de grandes nomes desses grupos para o Presídio Federal de Brasília: “Vemos com muita preocupação, porque eles vão tomando conta do Entorno, comprando residências, estabelecimentos comerciais. Isso tudo por conta dessa aproximação. O aumento do tráfico de entorpecentes é uma coisa que gera a chegada desses grupos criminosos, e também o fato de terem trazido criminosos para o Presídio Federal do Distrito Federal.
Gonçalves, o especialista em Segurança Pública, explica que os elementos em torno de um chefe das facções criminosas o acompanham aonde quer que ele vá. “Funcionam como interlocutores dos que estão de fora com os que estão dentro das prisões. Isso traz, obviamente, uma série de orientações da parte do comando dessas organizações para que haja determinadas ações, que podem incluir a aquisição e disponibilização de armas”.
Portanto, para o pesquisador, existe uma correlação entre a atuação dos grupos criminosos e a maior disponibilidade de armas ilegais no mercado. “Quase sempre quando você tem no sistema prisional indivíduos que são importantes para as facções, começa a existir uma transportação de pessoas que, de alguma maneira, têm ligação com esses indivíduos”, comenta.
Outra questão, segundo Nelson Gonçalves, é que as armas de grosso calibre, normalmente, são fabricadas em outros países e chegam até aqui por meio do tráfico internacional. Além disso, os armamentos funcionam como uma “moeda de troca” dentro do crime organizado para a obtenção de outros objetos.
Fuzil roubado em casa de PM
Após voltar de viagem, no fim de janeiro, um subtenente da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) surpreendeu-se ao encontrar sua casa aberta e, imediatamente, procurou pelo arsenal que mantinha na residência, mas não encontrou nada no local. Segundo ele, que também possui registro de Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC), dois fuzis, uma pistola, 220 munições e 11 carregadores foram furtados.
Segundo Gonçalves, é importante entender que os CACs formam uma categoria de indivíduos que, em tese, fazem a aquisição de armas legais: “Não cabe dizer que são armas ilegais, exceto no momento em que essas armas saem do controle desses indivíduos por via de furto, venda ilegal ou alguma ação que faz com que esse armamento se torne ilegal”.
No ano passado, 39 armas de grosso calibre foram furtadas, roubadas ou perdidas no Distrito Federal. “O sistema está falhando na entrada, está falhando em não conseguir identificar o modus operandi desses indivíduos no processo de negociação da entrada dessas armas. É isso aí que é o problema. Acho que há a ausência do cuidado devido que deveríamos ter nas nossas fronteiras”, aponta o pesquisador.