Fotos: saiba como é a ocupação de famílias em prédio abandonado no SIG
Cerca de 80 famílias chegaram ao espaço na 6ª. Ocupação é a primeira do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) no Centro-Oeste
atualizado
Compartilhar notícia
Cerca de 80 famílias estão abrigadas, desde a madrugada dessa sexta-feira (8/11), em um prédio abandonado há sete anos na Quadra 6 do Setor de Indústrias Gráficas (SIG). A ação, que recebeu o nome de Ocupação Expedito Xavier Gomes, ocorreu por iniciativa do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas no Distrito Federal (MLB-DF).
O Metrópoles visitou o prédio na manhã deste sábado (9/11), para conhecer o espaço e algumas das atividades desenvolvidas no espaço desde o início da ocupação.
Veja imagens do espaço:
Por volta das 10h, aproximadamente 50 pessoas, entre crianças, adultos e idosos, estavam no local. “Temos mais de 80 famílias, portanto, mais de 100 cidadãos aqui. A maior parte saiu para trabalhar e, por isso, há menos pessoas presentes neste momento [da visita da reportagem]”, contou a voluntária Ana Karoline, 28 anos, representante do MLB-DF.
“O movimento procura por espaços que estão vazios e deveriam estar cumprindo uma função social. Este prédio estava abandonado havia mais de sete anos. Nossa análise do local [que seria escolhido] durou meses”, acrescentou a jovem.
Essa é a primeira ocupação promovida pelo MLB no Centro-Oeste. O prédio abandonado onde as famílias se instalaram tem três andares e já foi sede de uma cervejaria. “A gente não tem relação com o proprietário [da empresa]. O edifício começou a ser vendido e, por um período, apenas o térreo era usado. Até o momento do abandono. O último piso, inclusive, nem tem cobertura”, detalhou a estudante Ellica Ramona, 28, também representante movimento no DF.
Assista:
Quem são os moradores?
As famílias abrigadas pelo grupo têm perfis diversos, mas uma característica em comum: a situação de vulnerabilidade. “Tratam-se de pessoas que vivem em situação de risco, moram de aluguel ou até de favor. Eles nos procuram, mas também fazemos a mobilização e captação [desse público]”, comentou Ana Karoline.
“Temos um trabalho maior em Arapoanga, em Planaltina e no Sol Nascente – que, apesar de ser uma região administrativa, ainda tem barracos de madeira, ruas sem pavimento, falta de ônibus. Houve até um caso, neste ano, de um barraco que pegou fogo e cinco pessoas morreram, sendo quatro crianças. Aquela área era de ocupação”, completou Ellica.
Ainda segundo a estudante, o movimento também resgata famílias que sobrevivem em estruturas improvisadas, de pallet e lona, por exemplo. “Hoje, graças à ocupação, temos conseguido dar uma moradia um pouco mais digna a elas. É óbvio que, ainda pelas questões estruturais do prédio, está longe da total dignidade, mas ao menos essas pessoas não estão mais em situação de risco nem de fome”, ressaltou a estudante.
Cuidado além do teto
Além do teto, com ajuda de doações e o trabalho de voluntários, o movimento oferece aos abrigados alimentação, produtos de higiene e promove atividades educativas para as crianças. “Nós nos dividimos em núcleos, e cada um fica responsável por uma tarefa. Temos, por exemplo, comissões de saúde, psicologia, creche, cozinha, infraestrutura, cultura e segurança”, listou Ellica.
Ana Karoline destacou que um dos objetivos cruciais do grupo é o dialogar com as autoridades. “Nós entendemos que o déficit habitacional é uma questão política. Se o Estado quiser, é totalmente possível acabar com esse cenário. Esse prédio ocupado é um clássico exemplo disso. Nossa ideia é permanecer nele até que o governo local nos dê uma posição. Durante esse processo, as famílias ficam e, também, organizam-se com dignidade, tendo acesso a água, luz, comida e higiene pessoal, por exemplo”, destacou.
Para manutenção das atividades no local, o grupo conta com voluntários e doações. As atividades e a forma de contribuir com as famílias são divulgadas por meio das mídias sociais do MLB-DF.
Homenagem
A ocupação recebeu o nome do cearense Expedito Xavier Gomes, um dos candangos que trabalhou na construção da atual capital do país. Ele e o colega de trabalho Gildemar Marques Pereira morreram em 3 de abril de 1962, no canteiro de obras da Universidade de Brasília (UnB).
Um dos auditórios da instituição de ensino superior recebeu o nome Dois Candangos, a pedido de Darcy Ribeiro, em homenagem aos operários, que acabaram soterrados durante as escavações do subsolo da universidade. À época, Expedito tinha 28 anos, e Gildemar, 18. Nenhum deles pôde acompanhar a inauguração da UnB, que ocorreu 18 dias depois.
A Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) foi ao local da ocupação na manhã deste sábado (9/11). A atuação da corporação se deu forma pacífica, segundo representantes do MLB-DF.
Por meio de nota ao Metrópoles, a corporação informou: “No prédio, há aproximadamente 50 pessoas, incluindo várias crianças. O advogado deles está presente, representando o Movimento de Luta nos Bairros, que pede a designação de um representante do governo para tratar das questões de moradia. A PMDF mantém uma viatura no local”.