Fotos de corpo de motorista da Caixa cedidas por família mostram lesões
As imagens mostram marcas no pescoço, braço, pés e nas costas de Luís Cláudio. Polícia Civil diz se tratar de um suicídio
atualizado
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Cinco dias após o motorista da Caixa Econômica Federal (CEF) Luís Cláudio Rodrigues, 48 anos, ser encontrado morto em uma cela da 13ª Delegacia de Polícia (Sobradinho), na última sexta-feira (14/7), os familiares dele, ainda muito abalados e fragilizados, aguardam os resultados das apurações policiais. Para os parentes, não se trata de um suicídio. Nesta quarta (19), eles cederam um conjunto de fotos do corpo de Luís, que aparentemente apontam áreas lesionadas no cadáver.
A medida é uma forma de contestar a tese da polícia, de que o motorista teria se matado dentro da cela, e cobrar uma resposta rápida para o caso. Marcos Eustáquio informou à reportagem que, no dia da morte de Luís, ouviu na delegacia de um policial militar que o cunhado havia recebido uma “gravata” antes de ser levado para a carceragem.
“Ele disse que o Luís estava tão alterado e discutindo com todos que um agente mais alto e mais forte do que eu [Marcos tem 1,80m] deu uma gravata nele antes de deixá-lo na cela”, contou Eustáquio. Segundo o familiar, quando ele entrou na cela para ver o cunhado — após o pagamento da fiança de R$ 1,2 mil para liberação do homem — encontrou o motorista morto. “Também vimos marcas de agressão pelo corpo e nos pulsos. Recebemos a informação de que ele urinou nas roupas”, completou.
A Polícia Militar informou que “nenhum policial relatou ter visto agressões de agentes da Polícia Civil contra Luís Cláudio”. De acordo com o advogado e primo do motorista, Paulo César Machado Feitoza, até a manhã desta quarta (19), os parentes ainda não tinham conseguido acesso a nenhuma informação do boletim de ocorrência.
“Nós queremos saber o nome das pessoas que podem ter agredido o meu primo e a identidade do rapaz que levou o carro dele até a DP para o registro da ocorrência. Até agora, não tivemos nenhum retorno”, disse Paulo. Para ele, a única certeza que a família tem é de que Luís morreu dentro da delegacia e não se suicidou.
De acordo com o advogado, até o momento, a ocorrência estava “blindada”. “Com o relato de pessoas que teriam presenciado agressões a Luís, as forças de segurança começaram a falar, porque ficou insustentável manter o posicionamento. Vou procurar pelas cópias e ter acesso a esse material para juntar tudo até receber os resultados das perícias e do inquérito instaurado pela Corregedoria. Agora temos ao nosso lado o Ministério Público, a Comissão de Direitos Humanos e a OAB. Vamos até o fim por uma resposta”, acrescentou.
Imagens do circuito interno de uma câmera de segurança da rua flagraram o momento em que o carro que Luís dirigia envolveu-se em uma colisão com o do policial militar, por volta das 15h de sexta (14/7). Nas gravações é possível ver o momento em que o sargento da Rotam aborda o motorista, retira-o do carro e leva ele até a calçada. Depois uma árvore cobre a captação das imagens e não é possível saber o que aconteceu.
Em entrevista ao Metrópoles na terça-feira (18), o policial militar que o abordou e acionou uma viatura para levá-lo preso disse que algemou, mas não agrediu o homem. Nesta quarta (19), ele reafirmou que em nenhum momento viu alguém bater em Luís Cláudio. “O meu contato com a família foi tranquilo. Eles até me convidaram para uma feijoada na casa deles no outro dia. Não sabemos de onde estão vindo tantas informações desencontradas”, afirmou o militar.
“A minha preocupação neste momento é de proteger a minha esposa e o meu filho. Tenho recebido ameaças pelas redes sociais, imprimi tudo e vou registrar o boletim na 13ª DP, onde tudo ocorreu. Eu não tive nenhuma culpa. Já havia saído da delegacia há duas horas quando o corpo foi encontrado na cela. Ele foi deixado no local, vivo e sem lesão”, argumentou. O sargento também falou que pretende processar os responsáveis pelos comentários ofensivos.
Veja as ameaças e o carro do PM, após a batida:
Investigação
De acordo com o laudo preliminar, os peritos não visualizaram no corpo qualquer outra lesão externa. Mas nas fotos cedidas pela família, há hematomas no pescoço, nos braços, nos pés e um furo que parece superficial nas costas.
O resultado do exame do IML só será concluído em 30 dias. Na terça (18), a Polícia Civil, por meio de nota, voltou a afirmar que “todos os elementos preliminares, inclusive periciais, confirmam a hipótese de suicídio”.
Ainda de acordo com a PCDF, “não há qualquer indício, até então, que coloque em suspeição os agentes públicos envolvidos na prisão. Não obstante, já foi instaurado inquérito policial que conduzirá as investigações com absoluta isenção e transparência”. A corporação pretende, inclusive, fazer uma reconstituição do dia em que Luís morreu.
Índice de alcoolemia
De acordo com a Polícia Civil, o teste de bafômetro do motorista apontou 1,35 miligrama de álcool por litro de ar expelido. O índice de Luís Cláudio foi maior do que o recorde registrado em Goiás neste ano, quando um homem de 59 anos foi preso, no último sábado (15/7), com 1,34 miligrama de álcool por litro de ar expelido.
A Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados e a Ordem dos Advogados do Brasil do Distrito Federal (OAB/DF) também acompanham os desdobramentos da investigação.