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Fotógrafo Luis Humberto, um dos fundadores da UnB, morre aos 86 anos

O professor foi um dos mais importantes nomes do fotojornalismo nacional, com 50 anos dedicados ao universo da fotografia

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Luis Humberto
1 de 1 Luis Humberto - Foto: Felipe Menezes/Metrópoles

Morreu, nesta madrugada, o fotógrafo Luis Humberto Martins Pereira, aos 86 anos. O professor estava internado no Hospital DF Star tratando de um câncer no cérebro, descoberto no fim do ano passado, segundo informou uma amiga da família ao Metrópoles. Por volta das 4h25 desta sexta-feira (12/2), ele não resistiu e veio a óbito.

Formado em arquitetura pela antiga Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Luis é um dos fundadores da Universidade de Brasília (UnB), onde também participou da criação do Instituto de Fotografia e lecionou por muitos anos.

Na UnB, Luis Humberto atuou, incialmente, como professor de arquitetura e urbanismo e, posteriormente, de fotografia, tornando-se o primeiro professor titular dessa disciplina numa universidade brasileira, em 1992.

Com mais de 50 anos dedicados à fotografia, o profissional acompanhou os bastidores da política em Brasília – o que se convencionou chamar de “liturgia do poder” – desde a ditadura militar (1964-1985).

Fotojornalismo

Até se consagrar como um dos mais importantes nomes do fotojornalismo nacional, a carreira começou por um motivo peculiar: o nascimento do primeiro filho.

Após perder o emprego, em 1965 – em consequência do golpe militar, quando pediu demissão da UnB, com outros 200 professores –, Luis mergulhou no mundo da fotografia e foi contratado pela Editora Abril, em 1968. O fotógrafo publicou nas revistas Realidade, Veja e IstoÉ, e também atuou no Jornal de Brasília.

Paralelamente ao fotojornalismo, Luis Humberto registrou a flora do Cerrado, trabalhou com paisagens domésticas e realizou outros projetos pessoais. Em 2019, o curta-metragem documental em sua homenagem, Luis Humberto: o olhar possível, integrou a programação do 52º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

O artista continuou a produção com criatividade e habitual inquietude, mesmo depois de ter desenvolvido a doença de Parkinson. Em dezembro de 2020, ele recebeu homenagens no 53º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, após o anúncio dos vencedores, no canal da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF (Secec-DF) no YouTube.

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Legado

“Ele tinha Parkinson e teve umas convulsões em dezembro, aí, foi para a UTI. Lá, detectaram um câncer no cérebro. Ainda resistiu muito tempo, mas, na semana passada, ele teve uma infecção, e os rins começaram a parar. Hoje, tivemos essa notícia”, relata a fotógrafa e amiga de Luis há 40 anos, Zuleika de Souza, 57.

Segundo ela, Luis estava no segundo casamento. Ele teve cinco filhos e também deixou netos. “Era uma figura muito carismática. Sempre dava palestras, frequentávamos as mesmas exposições, então, nos conhecemos e viramos amigos. Agora, estávamos mais próximos, porque ele era meu vizinho, na 305 Sul”, conta Zuleika.

Mesmo com a idade avançada e com dificuldades de locomoção, o professor não deixava de fotografar. “O último grande trabalho que ele fez foi uma exposição no Museu Nacional, entre 2018 e 2019. Mas fotógrafo não se aposenta, né, continua fotografando”, conta a amiga.

“Ele já andava de cadeira de rodas, mas continuava com a fotografia. Era cheio de vida, uma pessoa muito inspiradora. Luis Humberto fez uma grande diferença na fotografia brasileira, porque ele mudou o jeito de ver as coisas, trouxe um olhar além do oficial. Instigou as pessoas a procurarem uma fotografia diferente e, ao mesmo tempo, olhar para dentro de casa, para o banal. Ele gostava muito de fotografar em casa, os filhos”, relembra Zuleika.

Nesta manhã, o curador de fotografia e professor Eder Chiodetto fez uma publicação em seu perfil no Instagram ressaltando o legado de Luis Humberto. Na legenda, Chiodetto afirmou que Humberto “criou as bases para um olhar de enfrentamento aos desmandos do poder autoritário”.

Veja, abaixo, a publicação:

Até a publicação desta reportagem, não havia informações sobre velório e sepultamento de Luis Humberto.

Nota de pesar

Em nota publicada nesta manhã, a Secretaria de Cultura do DF lamentou a morte do fotógrafo. No texto, a pasta ressaltou que Luis “deixa legado imagético sobre a transformação da cidade monumental em patrimônio cultural da humanidade”.

“Luís Humberto foi um ‘arquilivre’ pensador que, indo além de seu tempo, influenciou um campo vasto na comunicação a partir da fotografia, graças ao seu humor genial, presença de espírito e uma filosofia tentadora que nos ensinou a enxergar melhor o mundo. Eternizou-se em nossa memória”, destacou o secretário de Cultura e Economia Criativa, Bartolomeu Rodrigues.

Confira aqui a íntegra da nota.

Ao final da manhã, a UnB também manifestou pesar pelo falecimento do professor. A nota foi assinada pela reitora da universidade, Márcia Abrahão, e pelo vice-reitor, Enrique Huelva. Veja, a seguir, a íntegra:

Foi com enorme tristeza que recebemos, nesta sexta-feira (12), a notícia da morte do fotógrafo e arquiteto Luis Humberto, professor emérito da Universidade de Brasília. O docente tinha 86 anos e faleceu em decorrência de um linfoma no sistema nervoso central.

O carioca Luis Humberto Martins Pereira chegou a Brasília em 1961. Foi um dos fundadores do então Instituto Central de Artes (ICA), na UnB. Ao lado de Oscar Niemeyer e de outros arquitetos, participou ativamente da construção de prédios no campus Darcy Ribeiro. Estava entre os 223 docentes que se retiraram em 1965, quando o regime militar passou a interferir na Universidade.

Destacou-se no fotojornalismo brasileiro com imagens que marcaram a cobertura dos anos da ditadura. Reintegrado à UnB em meados da década de 1980, foi professor de fotografia na Faculdade de Comunicação (FAC). Por seu incontornável legado de paixão profissional e dedicação ao ensino, recebeu o título de professor emérito em 2011. Adorava a UnB. “Universidade é ambiente de liberdade e conhecimento, de ideias e sensibilidade. Assim foi o início da UnB. Minhas melhores lembranças são da sala de aula.”

Publicou diversos livros e também se dedicou à poesia. Em 2008, na publicação Luis Humberto: a luz e a fúria, deu uma declaração contundente e que permanece atual: “Em tempos difíceis, quando a avidez e o cinismo ganham uma importância inquietante, as consciências parecem estar à venda. A indiferença cresce, diante de uma silenciosa conivência com as transgressões sempre impunes, mesmo as mais ferozes, e o poder ser manifesta perplexo e incompetente. É, exatamente, quando se faz mais urgente mobilizar a inteligência e a lucidez.”

Sua última exposição – A reforma do olhar possível – foi antecipada nas páginas da revista Darcy, em 2018. A Universidade de Brasília reconhece a memória fotográfica e os rastros de ética e sensibilidade deixados por Luis Humberto entre seus estudantes e admiradores. E deseja que a família e os amigos possam encontrar conforto neste difícil momento.

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