Fogos de artifício: hospital veterinário registra 8 cães mortos por ruído
No domingo (30), logo após a eleição, barulho de fogos de artifício aterrorizou animais em Sobradinho. Hospital registrou 8 mortos
atualizado
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Na noite de domingo (30/10), logo após o fim das eleições presidenciais, ao menos oito cachorros morreram devido ao barulho da queima de fogos de artifício com ruído. As mortes foram registradas por um hospital veterinário, em Sobradinho. Os estampidos apavoraram Simba e Shrek (foto em destaque), dois irmãos, de apenas quatro de anos de vida, sem raça definida. Os dois fugiram de casa e acabaram atropelados.
Simba não resistiu. Shrek batalha pela vida. O episódio cortou os corações da tutora dos cães, a designer e protetora de animais, Fernanda Oliveira de Guimarães, de 29 anos, e de seu noivo, o empresário Ecktor Silva Lopes, 32 anos.
Conheça os irmãos:
Fernanda e Ecktor não estavam na chácara. Mas os cachorros tinham coleiras com identificação e, por isso, pessoas que encontraram os cães, após o atropelamento, puderam avisá-los pelo telefone.
Os animais estavam em locais próximos, perto do Grande Colorado. Segundo Fernanda, os dois eram muito unidos e provavelmente foram atropelados juntos. Shrek teve forças para correr por alguns metros.
Enquanto Fernanda resgatava Shrek, Ecktor ainda encontrou Simba com vida, que foi levado para um hospital veterinário, passou por horas de cirurgia, mas, não sobreviveu aos ferimentos.
Desde o parto
Fernanda resgatou a mãe de Simba e de Shrek. “Eles estão com a gente desde o parto. Estão acostumados a ficar na chácara. Não saiam dali. Tudo leva a crer que foi a questão dos fogos. Não tenho dúvida”, lamentou a tutoras.
Segundo Fernanda, o hospital tratou vários casos graves após a queima de fogos de artifício com barulho. “Estava um caos. Teve um animal que quebrou um vidro no desespero. Outro teve um infarto fulminante e morreu ao lado do dono. São vários casos na mesma região em Sobradinho”, contou.
Veja o desabafo da tutora de Simba e Shrek:
Lei antifogos
O governador Ibaneis Rocha (MDB) chegou a sancionar uma lei sobre a proibição de fogos de artifício com som a fim de proteger dos danos das explosões não apenas os cães, como também pessoas com transtorno do espectro autista (TEA), pacientes epiléticos e idosos. “A gente precisa lembrar que vive em sociedade e pensar mais no próximo”, pontuou.
A lei, no entanto, nunca foi regulamentada. A Vara do Meio Ambiente determinou a proibição, mas o GDF recorreu e, enfim, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) suspendeu a aplicação da lei.
“As pessoas precisam se conscientizar. Neste caso, a proibição ajuda muito e é extremamente necessária”, assinalou Fernanda. A protetora pretende batalhar para a proibição dos fogos de artifício sonoros.
“Estou tentando pegar toda essa dor que estou sentindo e transformar em luta e conscientização. Simba e Shrek são meus filhos. E eu perdi um filho. E não desejo para ninguém essa dor que a gente está passando. Não está fácil”, desabafou.
Fernanda lançou uma vaquinha virtual para custear o tratamento de Shrek.
Oito perdas
Simba e Shrek foram atendidos no Hospital Veterinário Pet Star. Segundo a médica veterinária Alexia Serra Gama, 26 anos, a unidade registrou oito mortes cães, além de diversos feridos e de fugas de animais em pânico com barulho dos fogos de artifício. Entre os mortos, três perderam a vida por parada cardíaca em casa.
“Teve um caso de paciente que entrou em desespero tão absurdo, que se mutilou. Esse animal quebrou todas as unhas, cortes graves na boca e no focinho. Ele conseguiu sobreviver. Outra paciente mais antiga, teve lesão nas patas enquanto estava desesperada para abrir uma porta. Ela ficou os ossos das mãozinhas expostos”, contou.
A equipe do hospital chorou muito após o plantão. “Em quase todos os atendimentos, eu saia completamente banhada de sangue. Os animais chegaram sangrando muito. No desespero, todos eles se machucaram”, lembrou. Alexia está completamente abalada com o episódio.
Novo recurso
O Fórum de Defesa Animal, Projeto Adoção São Francisco e a Associação Protetora dos Animais apresentou recursos para proibição dos fogos de artifício com barulho no Tribunal de Justiça do DF e Territórios (TJDFT) e no Supremo Tribunal de Justiça.
“É inadmissível que, ao contrário de vários estados do país onde estão cada vez mais, proibindo fogos com estampidos, o GDF queira manter essa prática cruel e que causa tanto sofrimento”, afirmou a advogada Ana Paula de Vasconcelos.
Ao GDF, o Metrópoles questionou se o governo insistiria em criar uma lei no sentido de proibir, novamente, os fogos de artifício barulhentos. A reportagem ainda não teve respostas, mas o espaço segue aberto para eventuais manifestações.