Fio de cabelo, vestígio de sangue e gotícula de saliva. Peritos solucionaram 35 mil crimes no DF
É no Instituto de Criminalística onde estão lotados os profissionais do DF responsáveis por interpretar e investigar vestígios criminais
atualizado
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O Distrito Federal é uma das unidades da Federação onde mais crimes são resolvidos no país. Por trás da engrenagem de investigação que faz a capital do país se manter no topo desse ranking, uma equipe trabalha silenciosamente. Pelas mãos dos peritos do Instituto de Criminalística (IC), crimes marcantes foram solucionados.
“O laboratório é a alma da criminalística”. Assim define Emerson Souza, diretor do Instituto. O trabalho desses profissionais passa por uma relação muito íntima entre ser humano e tecnologia. Nos setores do IC, cada equipamento tem sua complexidade e necessita ser operado por um agente com qualificação.
As funções não se resumem ao uso de tecnologias. Os peritos, além de identificarem vestígios criminais que podem levar a autoria, dinâmica e modus operandi, também empregam a habilidade de inteligência pericial. A partir de vários casos, aparentemente isolados e sem relação, a equipe do IC já foi capaz de detectar ações de gangues e criminosos ao constatar a existência de padrões.
Um exemplo foi a ocorrência de vários casos de estupro na região de São Sebastião. Conforme explicado por Ana Humanes, perita do Laboratório de Biologia Forense, foi observado um ponto de concentração de ocorrência deste crime no ano de 2018.
“Construímos um mapa de concentração de crime no DF, o que pode gerar algumas análises”, diz a perita. “O que observamos foi que na região ocorreram três crimes com o mesmo modus operandi: o autor sempre usava uma bicicleta e uma faca para ameaçar as vítimas. Fomos atrás de saber se tinha algum vestígio relacionado aos casos, e em duas delas já havia sido a coleta de vestígios nas vestes das vítimas”.
O laboratório do IC conta com tecnologia de ponta para a análise de materiais. As roupas das vítimas em questão foram submetidas a um comprimento de onda de 460 nanômetros, conforme ilustram as imagens abaixo.
Após encontrar manchas sugestivas, que podem indicar a presença de sêmen na peça de roupa, os peritos recortam o pedaço e o armazenam.
“Caso haja um suspeito, o delegado pode solicitar um confronto entre o vestígio e o material genético do suspeito”, completa Humanes. O confronto ocorreu no caso de São Sebastião: através da comparação entre o vestígio presente nas roupas das vítimas e do DNA do suspeito, foi confirmada a autoria dos crimes.
Informática
De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no quarto trimestre de 2018, 79,3% da população brasileira com 10 anos ou mais de idade possui ao menos um telefone celular.
Tendo em vista este cenário, onde se é possível praticar uma ampla gama de crimes através da Internet, a atuação da Seção de Perícias de Informática da Polícia Civil do Distrito Federal (SPI) se torna fundamental. Homicídios, pornografia infantil, invasão de sistemas digitais, tráfico de drogas, corrupção e roubo de cargas estão entre os tipos de crimes que a seção ajuda a elucidar. O casos mais frequentes, relatam os peritos, são de pornografia.
A SPI recebeu, em 2020, 4133 solicitações de exames, dentre os quais a extração de dados de dispositivos móveis atinge aproximadamente 65% da demanda: ou seja, 2686 solicitações de exames periciais em dispositivos móveis.
A equipe consegue recuperar dados em aparelhos danificados, como, por exemplo, celulares que apresentem mau funcionamento ou mesmo HD’s externos queimados. Durante operações, os peritos dessa área tem o objetivo de de identificar e operar o parque computacional presente no endereço alvo, localizando informações de interesse para o processo criminal.
Balística
Não são apenas os seres humanos que possuem um registro único, como impressão digital: armas e projéteis possuem uma marca equivalente.
No no subsolo do IC, um extenso corredor, estão sediadas salas de testes onde se examinam eficiência da arma e da munição
“Cada arma possui um raiamento dentro dela. Quando você atira, essa marca fica impressa no corpo do projétil. São por elas que identificamos se determinado projétil saiu da uma arma específica”. É o que explica Josivaldo Alves, chefe do setor de balística.
Estão armazenados no sistema, portanto, dados relativos tanto às armas quanto às munições já coletadas em diversos casos anteriores.
“Em 2012, por exemplo, houve um caso de homicídio. A arma só foi recuperada em 2015. O material foi então inserido no banco, e a comparação teve resultado positivo”, conta a perita Tatiana da Costa. A policial contrasta rotineiramente padrões de balística. “É muito interessante, porque de outra forma você não conseguiria correlacionar esses crimes. Às vezes a arma fica muito longe da região administrativa onde ocorreu o homicídio”.
A identificação não se dá apenas através de um sistema de imagem. Os peritos precisam realizar análises microscópicas para checar a compatibilidade das impressões. Ou seja: ficam responsáveis por interpretar vestígios e o conjunto destes. A partir da atuação do profissional, corroborada ao uso de tecnologias, se torna possível contextualizar a dinâmica e autoria do crime.
Pandemia
O ano de 2020 foi atípico também para o Instituto.Conforme explicam os peritos Thiago Assis e Flávio Corteletti, foi criado um plano de contingência especial para a pandemia. Nele são indicadas as melhores práticas para que o levantamento pericial seja feito e para que a segurança da equipe seja mantida.
“São várias orientações, desde como processar, colocar e retirar os EPIs (Equipamentos de Proteção Individual), porque muitas vezes não é possível saber se um cadáver está ou não com Covid”, descreve Corteletti.