Final feliz: mãe encontra, em SP, filho desaparecido há 15 anos no DF
Rapaz está internado em um hospital psiquiátrico de Itaquaquecetuba após ser diagnosticado com esquizofrenia
atualizado
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Uma angústia que durou 15 anos chegou ao fim para a família de Ozéas Lima de Oliveira, 42 anos. Após uma década e meia de buscas, o homem que estava desaparecido foi encontrado pelos familiares. Ele está internado em um hospital psiquiátrico de Itaquaquecetuba, em São Paulo.
A informação foi confirmada ao Metrópoles, nesta quinta-feira (30/7), pela mãe de Ozéas, Helena de Sousa de Oliveira.
“Você acredita em milagre? Eu estou vivendo um, quando estava nas últimas esperanças, já imaginava que não veria mais meu filho recebo essa notícia, ele não poderia estar em lugar melhor. Fiquei em choque, o corpo tremia quando ouvi a informação”, disse.
Segundo Helena, Ozéas deu entrada na unidade de saúde após entrar em surto. “Não há dúvidas de que é ele, já foi feito exame de DNA e tudo. Encontraram ele falando coisas desconexas em uma estrada e decidiram acionar a assistência social”, conta.
Ozéas foi diagnosticado com esquizofrenia. “Ele ainda está em recuperação. Nega que tenha familiares e diz que somos impostores. Mas o médico diz que essa ideia de perseguição é um dos sintomas”.
Os profissionais que cuidam do tratamento do rapaz pediram 15 dias para que a família possa reencontrá-lo. “Médico disse que não devo perder as esperanças dele se recuperar, que ele ainda pode conviver conosco. Estamos no aguardo de sua recuperação para irmos até lá”, disse a mãe.
Drama
Ozéas Lima de Oliveira desapareceu em 29 de agosto de 2005. Na ocasião, o rapaz colocou uma mochila nas costas e tomou rumo desconhecido pela família até a última sexta-feira (24/7), quando os parentes, enfim, souberam de seu paradeiro.
Desde então, Helena nunca perdeu as esperanças de reencontrar o filho. O Metrópoles contou a história da família com exclusividade em 13 de maio de 2018.
Ozéas apresentou os primeiros surtos após o falecimento de seu pai, em 1999. Naquele ano, os pais moravam no Maranhão e Ozéas vivia em Brasília, onde cursava o último ano de relações internacionais na Universidade de Brasília (UnB).
Conforme conta Helena, com a morte do marido, o jovem apresentou aos poucos comportamentos estranhos que não condiziam com a personalidade do rapaz “inteligente, responsável e ativo”. “Ele começou a se alimentar mal e a caminhar 18km todos os dias. Estava magro e desmotivado. Não parecia com meu filho”, lembra.
Como consequência da repentina mudança de comportamento, Ozéas perdeu o estágio que fazia e largou o curso na UnB. Conforme justificativa dada por ele à mãe, a graduação não seria capaz de lhe garantir estabilidade financeira. No período, o jovem chegou a fazer outra faculdade. Ele foi aprovado no vestibular para ciências contábeis, mas acabou desistindo.
Esquizofrenia
Preocupada com o filho, Helena decidiu se mudar para a capital e acompanhá-lo de perto. Levou o rapaz a psiquiatras, médicos e a “quem mais pudesse ajudar”.
Os especialistas o diagnosticaram com esquizofrenia, mas o jovem se recusava a fazer uso dos medicamentos prescritos. “Ele nunca aceitou tomar os remédios. Me dizia que não queria virar um ‘vegetal’”, relata Helena. “Eu colocava homeopáticos na água para fazê-lo dormir”, relembra a mãe.
Com o tempo, Ozéas passou a desconfiar da mãe e parou de tomar a água oferecida por ela. “Ele deve ter desconfiado que eu estava colocando o remédio diluído na água e passou a comprar apenas as de garrafas. Começou a ficar paranoico.”
De acordo com Helena, episódios envolvendo mania de perseguição eram quase diários. Em uma das crises, ele colou as persianas que cobriam a janela do apartamento, pois suspeitava estar sendo observado pela vizinha.
Carta de despedida
Em 2005, Ozéas decidiu ir embora. Deixou uma carta, fez as malas e avisou a mãe. Ao ser questionado sobre o motivo da decisão, o rapaz respondeu que estava “indo cuidar da vida dele”.
Conforme ressaltou na mensagem de despedida (veja abaixo), ele não pretendia voltar a morar com a família, apesar da gratidão por tudo que viveram. Pediu para não interferirem na vida dele e que não o procurassem. Mas ficaria bem, pois viveria “da melhor maneira”. Por fim, antes de assinar o documento, ele deseja “toda paz, saúde e felicidade”.
A mãe tentou demovê-lo da ideia, mas não conseguiu. O rapaz partiu com uma mochila nas costas e um saco de dormir. Segundo suspeita Helena, a fuga foi planejada com antecedência. Para ela, Ozéas teria contado com a ajuda de alguém. “Ele apagou os dados e as fotos dele do computador e levou todos os documentos. Não foi uma decisão de um dia para o outro, tenho certeza disso”, lamenta a mulher.
Sem informações do paradeiro do filho, Helena registrou o desparecimento ainda em 2005.