Filho de médica já havia sido intoxicado por remédio antes, revela pai
Segundo ele contou na delegacia, garoto de 3 anos foi internado na UTI em janeiro, após tomar medicamentos da mãe
atualizado
Compartilhar notícia
A principal linha de investigação do caso em que a médica Juliana Pina de Araújo, 34 anos, é suspeita de matar o filho de 3 anos, e, logo após, tentar tirar a própria vida é de homicídio duplamente qualificado (por envenenamento e sem dar chance de defesa à vítima) seguido de tentativa de suicídio. “Principalmente porque a mãe não teria procurado socorrer a criança”, disse o delegado adjunto da 1ª DP (Asa Sul), João de Ataliba Nogueira, em coletiva na tarde desta quinta (28/6). A hipótese de negligência não é considerada pelo policial.
Os investigadores já ouviram algumas pessoas. Entre elas, o pai do menino. Ele contou que o garoto foi internado com suspeita de intoxicação em janeiro deste ano, após ingerir medicamentos da mãe. O homem só ficou sabendo em maio, quatro meses depois.A criança chegou a ser internada na UTI do Hospital Santa Helena, na Asa Norte, conforme relatou o pai. A mãe não teria contado nada ao ex sobre o ocorrido. O homem disse ter pedido à unidade de saúde cópia do procedimento médico para apresentar na 1ª DP – responsável pelo caso. “Esse episódio leva a crer que se trata de uma reincidência”, ressaltou o delegado. Segundo alegação de Juliana, à época, o filho havia ingerido os remédios por um descuido dela.
O pai afirmou ter conhecimento a respeito do problema de depressão enfrentado por Juliana. De acordo com ele, isso teria causado o fim do relacionamento dos dois, por vontade dela, em 2016. Em uma das conversas do casal, a médica teria dito que iria “engolir um bisturi” para tirar a própria vida.
Ainda na delegacia, o homem disse ter sido acusado pela médica de abusar sexualmente do filho, mas que foi inocentado pela Justiça. Em função desse fato, ele se afastou do convívio com o menino. Conforme relato do pai do garoto, Juliana era uma mãe dedicada.
De acordo com informações repassadas por testemunhas à polícia, na tarde dessa quarta-feira (27), a médica da rede pública de saúde desceu do Bloco J da 210 Sul, onde morava com o filho, e disse ao porteiro que havia matado o filho de 3 anos e cortado o próprio pescoço. Juliana sobreviveu. O menino, não.
O garoto foi encontrado desacordado em cima da cama, sem nenhum sinal de violência no corpo. Ambos chegaram a ser levados ao Hospital Materno-Infantil da Asa Sul (Hmib), mas a criança não resistiu.
No lixo e dentro da bolsa da mulher, os policiais encontraram uma cartela de ritalina e duas de frontal – remédios controlados. “Também havia uma mamadeira [ao lado da cama] praticamente cheia, mas não foi possível identificar vestígios dos remédios dentro. Isso só após o laudo, que deve sair em, pelo menos, 30 dias”, disse o delegado João de Ataliba Nogueira (foto em destaque).
A polícia confirmou que Juliana tinha um quadro de depressão diagnosticado desde 2016 e já chegou a ficar afastada do trabalho por alguns períodos para realizar o tratamento. A médica foi presa em flagrante pelo crime de homicídio duplamente qualificado. Se condenada, pode pegar entre 12 e 30 anos de prisão.
Em audiência de custódia nesta quinta-feira (28), a juíza Lorena Alves Campos decidiu converter em preventiva a prisão em flagrante de Juliana. A servidora está internada no Instituto Hospital de Base (IHB).
“As circunstâncias, sobretudo o fato de ter matado seu próprio filho de 3 anos, bem como o modo como realizou a conduta (supostamente colocando remédio/veneno na mamadeira da criança), demonstra a necessidade da prisão. Tais circunstâncias confirmadas pelas testemunhas extrapolam enormemente a gravidade ínsita ao tipo de homicídio”, anotou a magistrada em sua decisão.
A tragédia ocorreu por volta das 17h40 dessa quarta-feira (27), na 210 Sul, no quarto andar do Bloco J.
Segundo a Polícia Civil, a médica está na ala psiquiátrica do IHB, devido ao quadro de provável surto. Juliana Araújo foi medicada e encontra-se sob custódia de agentes.
Funcionários do bloco da família contaram ao Metrópoles que o menino e a avó estavam no pilotis na manhã de quarta (27). De acordo com um dos colaboradores, o garoto teria dito: “Tia, deixa eu te ajudar a limpar os vidros?”. A avó ainda não foi ouvida. A polícia investiga se ela estava no apartamento no dia do crime.
“Ele era muito brincalhão e alegre. Uma criança muito esperta e especial. A mãe era uma pessoa muito educada. A gente imagina que isso possa acontecer com alguém distante, mas nunca com alguém próximo”, disse um empregado do prédio.
Ainda de acordo com os funcionários, a avó teria contado que há cerca de duas semanas tentou convencer a filha a se internar, por estar muito deprimida, mas a mulher não quis. A pedido da família, a Secretaria de Saúde não divulgará informações sobre a situação da médica.
O advogado de Juliana, Leonardo Ferreira, esteve na delegacia nesta quinta (28), mas não quis se pronunciar, sob o argumento de que ainda vai estudar o caso. Segundo o defensor da servidora, a médica tem problema psiquiátrico com indicação de internação.