Filho de aposentado baleado em protesto chama PMs de “despreparados”
Vander Lúcio cobrou investigação, que, segundo a PM, será feita: “Um policial que deveria guardar vidas quase tirou a do meu pai”
atualizado
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Entre os quatro feridos durante a manifestação na Esplanada na quarta-feira (24/5) que seguem internados no Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF), o servidor público aposentado Carlos Giovani Cirilo, 61 anos, é o que continua em estado mais grave. Ele levou um tiro e a bala está alojada na nuca, segundo familiares.
De acordo com o último boletim divulgado às 16h desta sexta (26) pela Secretaria de Saúde, Carlos está sedado, respirando por aparelhos, internado no setor de UTI-Trauma da maior unidade de saúde do Distrito Federal, sem previsão de alta. Abalado, o filho, Vander Lúcio Cirilo, 33, acompanha o drama do servidor aposentado e reclama da falta de informações no hospital.Diante da queixa, representantes da União Geral dos Trabalhadores (UGT) e da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados foram ao hospital nesta sexta e se reuniram com a direção do HBDF para apurar o estado de saúde dos feridos. O filho quer transferir Carlos para Belo Horizonte (MG), onde a família mora, mas não sabe se será possível.
“Sinto que é preciso ter muita paciência nesse momento, mas estamos em choque e angustiados com essa situação toda”, disse Vander Lúcio, um dos três filhos de Carlos. Ele chegou a Brasília na quinta (25) depois que seu irmão recebeu uma ligação informando que o pai estava hospitalizado.
“A princípio, achamos que era bala de borracha. Mas quando soube que era munição letal, me desesperei e vim para Brasília”, contou Vander Lúcio. Segundo ele, os colegas que participavam da manifestação disseram que Carlos foi atingido quando voltava para um ônibus que estava estacionado na altura do Estádio Mané Garrincha. O aposentado estava sem documentos, por isso demorou para que familiares tivessem informações sobre ele.
Durante a manifestação, a PM foi flagrada disparando tiros de armas letais. Carlos pode ter sido atingido nesse momento. A família acredita que isso ocorreu e cobra investigação do caso. “Um policial que deveria guardar vidas quase tirou a vida do meu pai. [Os PMs] são totalmente despreparados”, disse Vander Lúcio.
Repressão
Nesta sexta, a Organização das Nações Unidas (ONU) condenou o uso “excessivo da força por parte da Polícia Militar para reprimir protestos e manifestações no Brasil”. Para a entidade, a utilização de armas de fogo deve ser excluída de qualquer estratégia de controle dos atos de rua.
A Secretaria de Segurança Pública e da Paz Social informa que já identificou os policiais que fizeram disparos de armas de fogo durante a manifestação contra as reformas da Previdência, Trabalhista e pelas Diretas Já. O órgão diz que um procedimento foi instaurado para apurar o fato. A Secretaria de Saúde não se pronunciou sobre as críticas da família de Carlos Cirilo, sobre falta de informação.
A PM diz que não recomenda o uso de arma de fogo em manifestações. “Essa atitude não é recomendada e nunca tinha visto acontecer antes. A manifestação foi muito agressiva, mas mesmo assim não podemos fazer isso. Todas as circunstâncias precisam ser apuradas”, afirmou o coronel Marcos Antônio Nunes, comandante-geral da PMDF, em coletiva à imprensa no dia da manifestação.