Fiéis se emocionam em missas na igreja onde padre foi assassinado
Celebrações seguem neste domingo, nos horários habituais, em homenagem ao sacerdote Kazimerz Wojno, morto na noite desse sábado
atualizado
Compartilhar notícia
A comunidade católica de Brasília amanheceu em choque com a notícia da morte brutal do padre Kazimerz Wojno. Na manhã deste domingo (22/09/2019), durante a missa na Paróquia Nossa Senhora da Saúde, na 702 Norte, onde o religioso foi assassinado, fiéis e outros sacerdotes homenagearam o pároco.
Padre Casemiro, como era conhecido, foi morto na noite desse sábado (21/09/2019) após sofrer uma emboscada de quatro assaltantes. O sentimento de quem chega à paróquia nesta manhã é o de tristeza e saudade. A família de Márcia Philippi, 56 anos, ficou chocada e sensibilizada com o caso. “Ele fez e faz parte da nossa vida”, lamentou. “A que ponto chegou a violência. Até a própria igreja não é respeitada”, criticou.
O fiel Luiz Gonzaga Arantes, 63 anos, era amigo do padre. “A gente tinha ele como uma pessoa da família. Ensinava as pessoas bem e orientava a gente a como proceder na vida”, disse. Ele lembrou que a igreja foi totalmente construída pelo padre, que montou a marmoaria e a serralheria para a obra. “Era um sacerdote construtor, trabalhador. Tudo que fazia era bem feito. O pessoal que trabalhava com ele recebia aulas”, destacou.
Segundo o Padre João Firmino, 46 anos, coordenador da Comunicação da Arquidiocese de Brasília, o caso afetou muito a comunidade. De acordo com o pároco, Casimiro tinha mais de 20 anos de trabalho no DF e era um personagem muito querido.
A igreja manterá a programação de missas na 702 Norte apesar da tragédia. “Para que as pessoas continuem orando e rezando”, assinalou padre João Firmino.
A Arquidiocese de Brasília divulgou uma nota de pesar sobre a morte, na qual afirma que está acompanhando o caso e convoca todos os fiéis a rezarem pela alma do sacerdote. De acordo com o texto, o velório, a missa e as exéquias ocorrerão na própria paróquia em horário ainda a ser informado.
Tristeza e indignação
Segundo a ministra da Eucaristia Lusia de Fátima Bontempo, 56 anos, os fiéis se sentiam filhos do religioso. “Era o tipo de padre receptivo. Era rigoroso com horários e a conservação da paróquia”, comentou. Ela trabalhava com o padre desde 2006. Com a voz embargada, lembra da atuação do clérigo. “Ele arrumava um chapéu de palha, de jornal e ia trabalhar debaixo do sol para melhorar a igreja. Ele vai fazer muita falta pela dedicação que tinha com a comunidade.”
A indignação tomou conta de diversos fiéis. Segundo Tarciso Lima, 69 anos, o padre enfrentava a criminalidade sozinho nos últimos anos. “Ele chamava a polícia. Ninguém vinha. É uma tragédia anunciada”, arrematou.
O religioso havia alertado as autoridades policiais do DF sobre a sensação de insegurança que rondava a região. Há cinco meses, em 21 de abril deste ano, em pleno Domingo de Páscoa, ladrões invadiram o templo e levaram o sacrário do altar. A peça havia sido doada há 20 anos e tem valor estimado em R$ 20 mil.
“Tem o sentido de profanação. Existem pessoas que fazem essas coisas”, lamentou o pároco ao Metrópoles, na época. O objeto foi encontrado dias depois, vazio, em um ferro velho, em Samambaia.
No fim do ano passado, caixas de som foram roubadas na mesma paróquia, e o padre Casemiro ordenou, então, que fossem colocadas em um ponto mais alto, próximo aos vitrais, a fim de evitar novas investidas de criminosos.
Investigações
A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) analisa a cena do crime. “O que podemos afirmar, de fato, é que se trata de um latrocínio, sem dúvida. Começamos os trabalhos às 23h40 e estamos aqui até agora, em busca dos vestígios”, afirmou o delegado-chefe da 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte), Laércio Rossetto, ao Metrópoles.
O delegado explicou que o crime ocorreu quando o padre se dirigia para uma obra, nos fundos da paróquia, após celebrar a missa das 18h30. “Pelo levantamento que fizemos foi entre 18h40 e 21h40. Temos suspeita de que quatro homens já esperavam por ele no local”, disse. A PCDF já sabe o trajeto de fuga adotado pelos criminosos, que deixaram, pelo caminho, um HD, um celular e uma maleta.
Os investigadores contam com o testemunho do caseiro José Gonzaga da Costa, de 39 anos, que também foi feito refém pelos bandidos, mas conseguiu fugir e pedir socorro. À PCDF, o funcionário disse que os suspeitos estavam armados. “Segundo o relato, um dos indivíduos deu um soco no rosto dele e colocou uma arma em sua boca. Ele ouviu os outros falarem que também estavam armados”, apontou Rossetto.
Padre Casemiro foi encontrado com os pés e as mãos amarrados, e com um arame envolto ao pescoço. O religioso também tinha uma lesão na cabeça, segundo a polícia. O corpo estava do lado de fora da casa paroquial, que fica nos fundos da igreja. A causa da morte só será esclarecida após a autópsia.