“Fez o papel dela”, diz irmã de mulher morta em acidente na BR-020
O enterro de Crisangela da Cruz Silva, 41 anos, ocorreu no Cemitério de Planaltina, nesta terça-feira (19/2), em clima de comoção
atualizado
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O velório da gari Crisangela da Cruz Silva, 41 anos, morta em um acidente de ônibus nesse domingo (17/2), ocorreu no Cemitério de Planaltina em clima de comoção. Para homenageá-la, vários colegas da empresa Sustentare compareceram vestidos com seus uniformes.
Flávia da Cruz, 38, irmã de Crisângela, disse que a família acredita na vontade de Deus e destacou as qualidades da trabalhadora. “O momento está doído. Era uma boa mãe e fez o papel dela”, define. A trabalhadora foi descrita como uma pessoa guerreira e alegre. Por muitos anos, ela criou os quatro filhos sozinha.
Irmã de criação da vítima, a pastora Ana Tandial, 45, disse que “Deus já estava preparando ela para o que ocorreria. Nós últimos dias, ela vinha buscando mais a fé”. A religiosa relatou ainda que, no momento do acidente, sentiu uma dor muito grande no coração. “Para sempre, ela estará com o Senhor”.
Antes do enterro, parentes e amigos se reuniram na capela e entoaram uma canção religiosa. Em seguida, rezaram pela alma de Crisangela. O administrador de Planaltina, Gilson Amorim, também esteve presente.
Acidente
O ônibus que se envolveu em um grave acidente, nesse domingo (17/2), na BR-020 não tinha autorização para transportar passageiros. A informação é da Secretaria de Mobilidade. O veículo estava com a licença vencida desde 2018. Além da morte de Crisângela, 18 colegas dela, que voltavam do plantão, ficaram feridos durante a capotagem perto da alça de acesso ao Morro da Capelinha.
“A licença está vencida desde outubro de 2018. Portanto, ele estava irregular e não poderia transportar passageiros. Será aplicada uma multa, mas, para o pagamento de possíveis indenizações, é preciso que as famílias entrem na Justiça”, informou o subsecretário de Fiscalização (Sufisa), Marrison Dantas.
A Polícia Militar informou ainda à reportagem que, um dia antes do acidente, no sábado (16), o motorista do ônibus havia sido multado por transporte irregular de passageiros na BR-020.
Comoção
A família de Crisangela da Cruz Silva ainda tenta entender as circunstâncias que causaram a morte da funcionária da Sustentare, empresa contratada pelo Serviço de Limpeza Urbana (SLU). Ela perdeu a vida no acidente.
“Queremos saber por que a minha mãe morreu desse jeito. Das 23 pessoas, só ela foi. Todo mundo está bem, está em casa e a minha mãe vai ser enterrada. É muito complicada a situação”, desabafou a filha mais velha da terceirizada, Thallya Silva, 20. Nascida em Una (BA) e moradora de Planaltina (DF), Crisangela deixa outros três filhos: um de 17 anos, outro de 16 e o caçula, de 13.
Raimundo Eustáquio dos Santos, 41, marido da vítima, também é gari e estava no ônibus que capotou. Com ferimentos leves, ele chegou a conversar com a mulher e tentou retirá-la das ferragens que prendiam as duas pernas da companheira. Testemunhas contam que Crisangela foi arremessada para fora do veículo e, durante a capotagem, o coletivo acabou esmagando as pernas dela.
Quando o ônibus estava capotando, o Raimundo tentou pegar na mão da minha mãe, mas não conseguiu. Quando ele foi para fora, viu que o ônibus estava em cima das pernas dela. Ela estava tranquila e reclamou de dor no olho. Disse que tinha algo incomodando. Os populares pegaram um macaco e conseguiram tirá-la
Thallya Silva, 20 anos
Ouça os relatos da jovem ao Metrópoles:
A vítima chegou a ser submetida a uma cirurgia no Hospital Regional de Planaltina, mas não resistiu. Acabou falecendo durante o procedimento.
Ao Metrópoles, o delegado-chefe da 16ª Delegacia de Polícia (Planaltina), Érico Mendes, confirmou que vai instaurar um inquérito para apurar as causas do acidente. O investigador também afirmou que o motorista e os passageiros serão intimados a depor ainda nesta semana.
Questionados sobre a situação do coletivo, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e o Departamento de Trânsito do DF (Detran) confirmaram que o veículo tinha a documentação em dia e que não havia restrições.
Crisangela trabalhava na Sustentare há cerca de oito anos. Por meio de nota, a empresa disse que “lamenta profundamente o ocorrido e está prestando toda a assistência aos funcionários envolvidos no acidente”.
BR-020
O acidente ocorreu na BR-020, rodovia que liga o DF à Bahia. O coletivo da empresa Cootran onde os garis estavam tombou na margem da estrada, no sentido Plano Piloto-Planaltina, mais precisamente na alça de acesso ao Morro da Capelinha. As outras 18 pessoas feridas receberam alta ainda no domingo (17). O caso é visto como “fatalidade” pelo Sindicato dos Servidores Terceirizados do SLU.
Segundo a superintendente regional da empresa terceirizada, Rejane Costa, chovia no momento em que um caminhão teria fechado o ônibus. Para desviar, o condutor do coletivo passou para a faixa da direita, mas saiu da pista, tombando no canteiro central.
Rejane disse que o veículo está regular. “Na avaliação do Corpo de Bombeiros, o ônibus estava dentro da velocidade permitida. Os pneus se encontram em perfeito estado. Foram trocados em dezembro de 2018. A mecânica, elétrica e cintos estão em conformidade com as normas”, afirmou.
O Corpo de Bombeiros Militar do DF (CBMDF) atendeu a ocorrência às 12h49 de domingo (17), com nove viaturas, uma aeronave e 34 profissionais. A corporação transportou 14 vítimas. Cinco pessoas, entretanto, não quiseram ser levadas para hospitais.
As queixas principais de todas as vítimas eram dor nas costas e tontura. Elas estavam conscientes, orientadas e estáveis, segundo o CBMDF. Aos bombeiros, o motorista do ônibus, José Hamildo de Souza Gomes, 51, afirmou que perdeu o controle por causa da forte chuva.
De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o condutor do veículo freou bruscamente próximo a um radar eletrônico e, como a pista estava escorregadia, acabou tombando. O acidente provocou retenção na área.