Feriado na fila: brasilienses amanhecem em postos à espera de gasolina
Na noite de quarta-feira (30/5), apenas 1% dos estabelecimentos estavam vendendo o combustível. Muitos motoristas passaram a noite na fila
atualizado
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À espera de gasolina e etanol, os brasilienses acordaram no feriado de Corpus Christi dispostos a enfrentar filas quilométricas para conseguir abastecer os carros. A maioria dos 322 postos do DF fechou na tarde de quarta-feira (30/5) por falta de combustível e até as 7h30 desta quinta (31) ainda estavam com as bombas vazias.
Por volta das 7h40, cerca de 50 caminhões com gasolina e álcool saíram das distribuidoras no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA) com destino a várias Regiões Administrativas. Até a noite de ontem, apenas 1% dos postos tinham gasolina.
Na fila desde as 3h45, a professora Ana Cláudia Oliveira, 51 anos, disse que só sairia com o tanque cheio. “Que situação. Trabalho em área rural e rodo muito. Não sei o que vai acontecer na próxima semana. Prefiro não arriscar. Já avisei em casa que o dia hoje é de fila”, contou ao Metrópoles. Ela era a quarta pessoa na fila de mais de 50 carros em um posto no Lago Sul.
Na Asa Norte, a reportagem encontrou dois postos abastecendo no Eixinho: na 206 e na 204. Mais de 150 veículos estavam em cada uma das filas. Em Águas Claras, moradores relatam nas redes sociais a chegada de caminhões com gasolina e a retomada do atendimento.Na 205 Sul, cerca de 200 motoristas esperam a hora de abastecer. O ritmo é lento, mas há combustível. Em Valparaíso (GO), Entorno do DF, próximo ao Motel Ame Mais, a fila está menor e o atendimento é rápido, contam os internautas. Alguns postos, entretanto, estão limitando a quantidade de litros por pessoa.
Desabastecimento
O desabastecimento ocorreu pela falta de álcool anidro que deve ser misturado à gasolina. Nesta madrugada (31), carretas com 345 mil litros do produto chegaram ao Distrito Federal. Há previsão de que outros caminhões desembarquem em Brasília ao longo do dia com mais um milhão de litros de álcool anidro. Os primeiros caminhões-tanque carregados com o produto só chegaram a Brasília após as 17h de ontem.
O desabastecimento do derivado da cana-de-açúcar foi um dos fatores responsáveis pela falta da gasolina. A adição do álcool é obrigatória pelas regras da Agência Nacional do Petróleo (ANP), em um percentual de 27%. Durante a paralisação dos caminhoneiros, a ANP autorizou redução para 18%, mas, mesmo nesse percentual, o etanol disponível não era suficiente para a mistura.
Muitos motoristas passaram a noite na fila. O músico Diogo Perpétuo, 34 anos, estava acompanhado de um cavaquinho enquanto aguardava na fila de um posto no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), ao lado da BR Distribuidora, onde só era possível abastecer com etanol e até o limite de R$ 100 por automóvel.
“Quem é músico precisa estar sempre ensaiando, então, aproveitei para praticar enquanto essa fila não anda. Não tive como evitar, por isso vou esperar aqui até conseguir e preciso que o tanque dure até domingo [3/6]”, disse Diogo.
Expectativa
Como os caminhões com álcool anidro começaram a chegar apenas no fim da tarde, ainda era preciso que o combustível fosse misturado ao derivado do petróleo para, só então, o produto ser transferido aos tanques das carretas.
Mesmo com a gasolina pronta para ser entregue, a logística esbarra em outro problema: a segurança. Não há policiais suficientes para garantir a escolta em um fluxo contínuo de caminhões. Portanto, sempre que uma dupla de PMs sai para fazer a segurança de uma carreta, é preciso que outra retorne para garantir a saída do próximo veículo de carga.
Alguns caminhoneiros que fariam entregas no Plano Piloto recusaram o acompanhamento da Polícia Militar e foram autorizados a seguir viagem sozinhos.
A maioria dos motoristas, no entanto, segue a orientação das empresas para as quais prestam serviços: não sair, em hipótese alguma, sem a patrulha da PM. Isso provocou uma longa fila de veículos estacionados na saída da distribuidora desde a tarde dessa quarta (30/5).
O psicólogo Hiroshi Heinri, 48 anos, encheu o tanque pela última vez na quinta-feira da semana passada (24/5). Com o carro chegando na reserva, precisou encarar a fila de um posto na 206 Sul, mesmo sem a garantia de abastecer seu automóvel.
“Sou o último. Sei que vai demorar, mas não tenho nenhuma solução, a não ser esperar aqui. Só saio dessa fila quando conseguir gasolina”, afirma Hiroshi.
O taxista Júlio Oliveira, 40 anos, gastou um tanque inteiro em dois dias. Agora, precisa de combustível para continuar trabalhando. “Anteontem eu dei sorte. Estava levando passageiros a Valparaíso [GO] e vi um posto vazio. Perguntei se podia abastecer, eles concordaram e eu enchi o tanque. Hoje, estou parado nessa fila sem saber se vai ter gasolina. Se eu conseguir, vou completar [o reservatório] – e ainda trouxe dois galões.”
Remessa
O governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB), garantiu a chegada de um carregamento de 2 milhões de litros de álcool anidro para ser misturado com 10 milhões de litros de gasolina. “A previsão é que o abastecimento na capital seja normalizado até segunda-feira (4/6)”, disse o socialista.
Para reduzir a circulação de veículos e, consequentemente, a saga da busca por gasolina, o governador resolveu emendar o feriado dos servidores e garantiu ponto facultativo nesta sexta (1º).
Gás de cozinha
O gás de cozinha preocupa tanto quanto a crise dos combustíveis. Faltando em praticamente todas as Regiões Administrativas ou vendidos a preços exorbitantes, os botijões devem começar a ser reinseridos no mercado do Distrito Federal nesta quinta (31).
Na tarde de quarta-feira (30), dezenas de caminhões carregados com gás liquefeito de petróleo (GLP) e butijões vazios deram entrada na BR Distribuidora. Segundo o Governo do Distrito Federal, a renovação de 14,5 mil botijões de GLP ocorre a partir de hoje