Feminicídio de Noélia completa 1 ano e Justiça marca júri de assassino
Vendedora foi morta em 17 de outubro de 2019. Julgamento de Almir Evaristo, denunciado pelo crime, ocorre em 26 de novembro
atualizado
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A morte da vendedora Noélia de Oliveira Rodrigues, 38 anos, completa 365 dias em 17 de outubro. O vizinho dela e principal suspeito do feminicídio, Almir Evaristo Ribeiro, 43, está preso preventivamente. O julgamento do réu foi marcado pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), nessa terça-feira (6/10), para o dia 26 de novembro no plenário do júri de Águas Claras.
Noélia foi encontrada morta no Assentamento 26 de Setembro, em Vicente Pires, no dia 18 de outubro de 2019. De acordo com peritos do Instituto de Criminalística (IC) da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) que analisaram o local onde o crime ocorreu, a vendedora levou um tiro à queima-roupa no rosto. Ela e Almir mantinham relacionamento extraconjugal e teriam discutido no dia do crime, segundo a corporação.
Ao Metrópoles, o advogado da família de Noélia, Geraldo Madureira, disse que os parentes estão satisfeitos com a marcação do julgamento.
“O que eles querem é que o caso não caia no esquecimento. O medo maior deles era que, com a pandemia da Covid-19, o julgamento não ocorresse neste ano. Estão todos apreensivos e aguardando que ele seja condenado”, afirmou Madureira.
À época do crime, o advogado atuou na defesa do marido da vítima, Marcos Paulo Mendes Santana, e conseguiu provar que ele não teve nenhum envolvimento com o assassinato.
Audiência
Almir Evaristo Ribeiro é acusado de matar a vendedora após uma discussão. Em fevereiro de 2020, ao participar de audiência de instrução no Fórum de Águas Claras do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), o operador de máquinas disse ser “vítima de injustiça”.
Na versão dele, no dia da morte, Noélia teria pedido carona, mas, de última hora, cancelou. Ele afirma que já estava havia duas horas no shopping onde a vendedora trabalhava. No entanto, apenas aceitou a decisão dela e voltou para casa.
Segundo Almir, ele não cometeu o crime e não sabe quem pode ter matado a vizinha. “Eu era apenas amigo dela e tinha uma relação tranquila”, conta. A acusação seria injusta. “Estão me acusando de algo que não cometi”, alegou durante a oitiva.
Nem mesmo sobre o caso extraconjugal que supostamente manteria com a vítima ele quis comentar. Apesar de confrontado com provas de que ligações entre os dois tinham duração de mais de uma hora, ele repetiu que isso não acontecia: “Eu achava que tinha desligado, mas não conferia e acabava que estava ligado ainda”, explicou na oportunidade.
Questionado sobre o que ele fazia no local onde o corpo de Noélia foi encontrado na noite do assassinato, ele não soube dizer. Os dois agentes da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) ouvidos pelo tribunal, contudo, relataram durante a audiência que Almir confessou o crime em conversas informais.
Segundo eles, o acusado disse que Noélia pediu uma carona naquela noite sem informar o motivo. Durante o caminho de volta ao Sol Nascente, ela pediu para estacionar o carro em uma estrada de terra, na Estrutural.
Noélia teria pedido para que ele pagasse um curso para que ela tirasse carteira de motorista. Almir teria recusado e a vítima reagiu com xingamentos. Nervoso, o acusado teria sacado a arma e apontado para o rosto de Noélia. O revólver, segundo os agentes que ouviram Almir, teria escorregado e um disparo acabou atingindo o olho da vítima.
Denúncia
Em novembro de 2019, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) denunciou Almir pelo assassinato de Noélia e por porte ilegal de arma de fogo. Ele está detido desde o fim de outubro do ano passado e teve prisão temporária convertida em preventiva pela Justiça no mês de novembro.
De acordo com a denúncia oferecida pela Promotoria de Justiça do Tribunal do Júri de Águas Claras, o homicídio é duplamente qualificado por uso de recurso que dificultou a defesa da vítima (disparo de arma de fogo a curta distância) e feminicídio (condição de sexo feminino).
O crime
No início das apurações, o Metrópoles teve acesso a informações que faziam parte do laudo preliminar sobre o feminicídio. Elas apontavam que o disparo foi feito próximo à face de Noélia e indicaria que ela poderia estar dentro de um veículo, supostamente usado pelo autor do crime — o que se confirmou posteriormente.
O corpo de Noélia foi encontrado no dia seguinte ao desaparecimento. O enterro ocorreu em 20 de outubro. Ela tinha três filhos: dois meninos, de 16 e 5 anos, e uma garota, de 9.