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Fechados pela pandemia, clubes do DF começam a dar desconto em mensalidades

Em alguns casos, como no Iate, abatimento chega a 40%. Devido a gastos com manutenção, entidades pedem que associados não deixem de pagar

atualizado

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Divulgação/Iate Clube
Iate Clube de Brasília
1 de 1 Iate Clube de Brasília - Foto: Divulgação/Iate Clube

Devido à quarentena estabelecida por causa da pandemia do novo coronavírus, os clubes recreativos e esportivos do Distrito Federal fecharam há quase dois meses. A interdição desses locais, contudo, foi acompanhada de polêmica que desagrada a muitos associados: a cobrança de mensalidades por serviço não usufruído.

Com a enxurrada de reclamações, muitos clubes começaram, recentemente, a dar descontos no boleto dos associados. O Iate, por exemplo, reduziu a fatura em 40%, dando abatimento de R$ 200 na mensalidade.

Outro ponto tradicional de Brasília, a Associação Atlética Banco do Brasil Brasília (AABB) aplicou redução de 20%. Já no Cota Mil, o percentual é de 22%, e na Associação do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Apcef), de 25%. No entanto, associados de outras entidades reclamam que não houve dedução na mensalidade.

Em meio a esse cenário, a Câmara Legislativa do DF (CLDF) analisa projeto de lei que determina desconto de 30% das mensalidades de clubes em quarentena. Mas o texto que uniformizaria o abatimento ainda precisa ser aprovado pelos deputados distritais e sancionado pelo governador Ibaneis Rocha (MDB). Só então entraria em vigor.

Sócia patrimonial do Iate Clube de Brasília (foto de destaque), a fonoaudióloga Manoela da Cunha Dias disse ao Metrópoles que, no dia 30 de abril, entrou em contato com o clube para cobrar posicionamento quanto à contribuição mensal, que até então não havia sido definida.

“Relatei que compreendíamos a interrupção e que também acreditava em uma economia importante do clube em relação ao consumo de água, energia, insumos de limpeza e conservação. Expliquei que estou vivendo as consequências econômicas do isolamento e não tenho condições de manter o pagamento integral.”

Segundo Manoela, a solicitação foi respondida na mesma data, mas sem flexibilidade de acordo. “A minha parcela vence no dia 5 e, até o momento, paguei o valor integral da mensalidade. Acho injusto continuar cobrando. O clube não é essencial. É um ambiente de lazer. Eles precisam rever esses valores. A mensalidade é alta, é necessário que haja sensibilidade ao momento”, ressalta.

Assista ao desabafo da sócia Manoela:

Também associado ao Iate, o servidor público Otávio Jardim relatou que pagou, nos dois últimos meses, o valor integral da mensalidade.

“Em março e abril, eles não nos deram descontos. Acredito que houve reclamação por parte dos sócios e, agora, o clube resolveu abater R$ 200 na mensalidade. Considero a quantia razoável, já que o clube continua tendo despesas. Eu pagava R$ 495 e vou pagar R$ 295. Acho, inclusive, que eles demoraram a tomar a providência. Podia ter feito antes.”

Em relação à academia de atividades físicas no local, o servidor público também reclamou da falta de informações. “Eles me cobraram integralmente até que eu trancasse a matrícula. Já que não estava funcionando, não deveriam esperar a gente trancar para deixar de cobrar”, completa.

Veja o depoimento de Otávio:

Procurado pela reportagem, o Iate afirma que, nos meses de maio e junho, os sócios terão redução de R$ 200 na mensalidade, o equivalente a 40% da taxa de contribuição mensal, para cada título.

O desconto atende à reivindicação do quadro social do Iate, que teve seu funcionamento interrompido em observância aos decretos do GDF, como parte das ações contra a proliferação da Covid-19. A proposta da comodoria foi aprovada por unanimidade pelo conselho diretor em reunião virtual extraordinária realizada 08/05.

O abatimento será automático nos boletos dos meses de maio e junho, com vencimentos nos dias 30/05 e 30/06, respectivamente, e vai beneficiar a todos os associados.

No mesmo comunicado, o clube pontua que vem trabalhando para conseguir conciliar os interesses dos sócios com a saúde financeira do espaço recreativo e a manutenção dos empregos dos funcionários. “Pela primeira vez na história, o Iate Clube de Brasília fechou suas portas. Mesmo fechado, mantém integralmente seu quadro funcional.”

“A jornada dos funcionários foi adaptada para que os serviços essenciais fossem mantidos, respeitando as recomendações das organizações de saúde. As equipes têm atuado na limpeza, manutenção, conclusão de relevantes obras e para garantir a segurança do patrimônio do associado”, acrescenta o clube.

Clube Vizinhança e AABB

A servidora pública Gabriela Luiza Leite Ferreira, 32 anos, é sócia do Clube Vizinhança, na Asa Sul, e diz que o valor da parcela está sendo cobrado integralmente desde o início do período de isolamento social.

“A cobrança veio normal. Tenho dois filhos pequenos e nós sempre utilizamos muito o espaço. Íamos praticamente todos os finais de semana. As crianças iriam começar outras atividades por lá e, pelo menos, nessa questão, não estamos tendo despesas. Na minha opinião, não é correto manter as mensalidades, porque perdemos esse passeio”, assinala.

Gabriela defende a redução da mensalidade. “Todo mundo vai ter de buscar alternativas. É ruim a gente não ter nenhum retorno sobre para onde o dinheiro está indo. Ainda que continuem cobrando, queremos saber o que pode ser feito pelo associado futuramente.”

Procurado, o Clube Vizinhança não havia se manifestado até a última atualização deste texto.

Assista ao vídeo de Gabriela:

A sócia da Associação Atlética Banco do Brasil Brasília Ana Cristina da Cunha Silva, 58, conta que a AABB está promovendo desconto de 20% nas mensalidades a partir de maio, além de suspender o reajuste anual.

Segundo Ana, o comunicado recebido pelos associados diz que, visando minimizar os efeitos da crise, o clube tem adotado estratégias cabíveis para reduzir os custos. O texto informa que a direção do espaço recreativo renegociou e rescindiu diversos contratos com prestadores de serviços, mantendo apenas os essenciais ao funcionamento, e aplicou as medidas trabalhistas para redução da folha de pagamento, pensando na manutenção dos empregos dos colaboradores.

“Recebi mensagem do clube informando as posições adotadas durante a pandemia. Reconheço a perda de receitas com aluguéis de espaços e aulas esportivas, mas também houve diminuição de gastos. Por isso, acho que o momento deve ser de atenção aos mais vulneráveis e que, como associação, poderia pensar em desenvolver ações sociais, tão necessárias nesta crise.”

Veja o documento com o posicionamento oficial da AABB clicando aqui.

Galeria de fotos de sócios de clubes entrevistados pela reportagem:

5 imagens
Gabriela Luiza com o filho de um ano
Gabriela é sócia do Clube Vizinhança e costuma curtir os fins de semana no local com a família
Ana Cristina é sócia da AABB
Quatro chapas concorrem ao Conselho Deliberativo e à Comodoria
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Otávio Jardim, sócio do Iate Clube de Brasília

Material cedido ao Metrópoles/Arquivo pessoal
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Gabriela Luiza com o filho de um ano

Material cedido ao Metrópoles/Arquivo pessoal
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Gabriela é sócia do Clube Vizinhança e costuma curtir os fins de semana no local com a família

Material cedido ao Metrópoles/Arquivo pessoal
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Ana Cristina é sócia da AABB

Material cedido ao Metrópoles/Arquivo pessoal
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Quatro chapas concorrem ao Conselho Deliberativo e à Comodoria

Divulgação/Iate Clube
Apcef

Em comunicado aos associados, também na página oficial, a Associação do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Apcef) informa que a situação enfrentada durante a pandemia é complexa e necessita de maior compreensão quanto aos impactos coletivos. Com a intenção de minimizar a situação, o clube decidiu dar desconto de 25% na taxa e cancelar o reajuste.

“Com o isolamento social, houve queda considerável na arrecadação proveniente de aluguel de espaços para eventos, contratos de prestação de serviços com empresas terceirizadas, dentre outras. Mesmo nesse cenário, a associação continua mantendo todo o seu quadro funcional, pois sabe da relevância de cada colaborador e da importância do vínculo empregatício para o sustento das famílias que dependem desse trabalho”, diz trecho da nota.

A Associação dos Servidores do Banco Central (Asbac), se manifestou. “Somos uma instituição sem fins lucrativos, com o objetivo principal de proporcionar atividades de cunho social, cultural e esportivo aos seus associados. No início da pandemia, como não sabíamos por quanto tempo o clube iria ficar fechado, optamos por dar férias coletivas aos funcionários. Implementamos a suspensão de parte dos contratos de trabalho em maio. Estamos mantendo equipes de segurança, limpeza, manutenção de jardins e piscinas, financeira e administrativa ativas para garantir a gestão do clube.”

A Asbac diz que, com o clube fechado, as despesas com insumos, energia elétrica, água, dentre outros diminuíram um pouco, mas não se extinguiram.

“Nossa receita também vem caindo substancialmente, tendo em vista os pedidos de exclusão de associados por um percentual significativo inesperado. A executiva está trabalhando incansavelmente para encontrar uma forma de manter a Asbac em equilíbrio financeiro. Na próxima mensalidade já conseguiremos implementar um percentual de desconto”, explicou por meio de nota. O valor, no entanto, não foi informado.

O Metrópoles também entrou em contato com o Minas Brasília Tênis Clube, Clube dos Previdenciários e Associação Portuguesa de Brasília Clube Social, mas não havia recebido retorno até o fechamento da reportagem. O espaço para manifestação continua aberto.

Sindicato de clubes

O comodoro do Cota Mil Iate Clube, Jorge Gutierrez, também é integrante do Comitê de Crise do Sindicato dos Clubes do DF (Sinlazer). O grupo reúne presidentes, comodoros e filiados para acompanhar a evolução da Covid-19 e tratar questões que impactam a gestão das instituições enquanto durar a crise.

De acordo com Gutierrez, a intenção do comitê é agir coletivamente. “Nós tivemos perda de receita com despesas de eventos muito grande. Praticamente todos os clubes enfrentam os mesmos tipos de problema e estamos unidos para resolvê-los. Com o primeiro decreto, a gente estima que essa queda caiu em torno de 20% a 30% do faturamento normal.”

Em seguida, segundo o comodoro, o desafio foi com a manutenção dos quadros. “Muitos associados são empresários e, por também estarem com rendimentos comprometidos, poderiam desistir.”

O Cota Mil começou a conceder desconto – de 22% – nas mensalidades a partir deste mês. “É importante ressaltar que, em abril, grande parte dos serviços e faturas a pagar foi referente a março de 2020. Nessa época, não tínhamos luz e energia mais baratas ainda”, explicou.

“Estamos trabalhando para que possa haver o retorno gradual. Chegamos em um momento em que quanto mais houver a extensão dessa paralisação, por maiores que sejam os esforços de gestão, teremos a perda de sócios. A preocupação maior também é em manter os empregos dos nossos funcionários. Nós, como clube, sentimos que, se o retorno não ocorrer, a gente passa a viver uma situação em que, inevitavelmente, vai ser necessário o corte”, assinala Gutierrez.

CLDF

A CLDF passou a analisar projeto de lei que determina a redução de até 30% das mensalidades dos clubes e associações recreativas do Distrito Federal enquanto durar a pandemia do novo coronavírus.

A justificativa para a proposta é que os associados não estão usufruindo das estruturas físicas das unidades desde que foram adotadas as medidas restritivas para conter a proliferação da Covid-19 no DF.

“O fechamento temporário dos clubes motivado pelo isolamento vertical, inevitavelmente, implicará a economia das despesas do clube quanto ao consumo de água, gás, energia elétrica, telefone, materiais de escritório, insumos de limpeza e de conservação. Assim, o presente projeto tem por objetivo contribuir para a convergência dos interesses dos clubes e seus associados, em razão da paralisação das atividades em decorrência das medidas adotadas pelo Governo do Distrito Federal (GDF)“, escreve o autor da matéria, deputado distrital Robério Negreiros (PSD).

Caso seja aprovado e sancionado, o PL determina multas previstas no Código de Defesa do Consumidor (CDC).

O texto ainda vai tramitar nas comissões permanentes da Casa e, se aprovado, será analisado pelos 24 parlamentares. Não há previsão de quando o plenário apreciará o projeto.

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