metropoles.com

Febre e diarreia: famílias adoecem com frequência e culpam poluição do Rio Melchior

Segundo moradores da região, poluição seria causada por estações de tratamento de esgoto, pelo Aterro Sanitário e despejo clandestino

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
famílias-adoecem-e-suspeitam-de-poluição-no-Melchior-18
1 de 1 famílias-adoecem-e-suspeitam-de-poluição-no-Melchior-18 - Foto: null

Febre, dor de cabeça, diarreia, e mal-estar. Famílias do Setor Cerâmica, na VC 311, em Samambaia, adoecem cada vez mais. Não dá pra cravar o que tem provocado os sintomas nos moradores, mas a comunidade suspeita da poluição no Rio Melchior, problema antigo na região.

20 imagens
Segundo moradores, as doenças seriam causadas pela poluição no rio
Segundo eles, a poluição seria provocada por estações da Caesb, pelo Aterro Sanitário e por despejo clandestino de esgoto
Dona Ana vive há décadas na região e se lembra de quando o rio era limpo
"Meu filho já ficou 20 dias com dor de barriga. Quase morreu por causa da água", conta Alfredo
No passado, a população nadava no Rio Melchior. Hoje, evitam colocar os pés nas águas
1 de 20

Famílias que moram nos arredores do rio Melchior adoecem frequentemente

Igo Estrela / Metrópoles
2 de 20

Segundo moradores, as doenças seriam causadas pela poluição no rio

Igo Estrela / Metrópoles
3 de 20

Segundo eles, a poluição seria provocada por estações da Caesb, pelo Aterro Sanitário e por despejo clandestino de esgoto

Igo Estrela / Metrópoles
4 de 20

Dona Ana vive há décadas na região e se lembra de quando o rio era limpo

Igo Estrela / Metrópoles
5 de 20

"Meu filho já ficou 20 dias com dor de barriga. Quase morreu por causa da água", conta Alfredo

Igo Estrela / Metrópoles
6 de 20

No passado, a população nadava no Rio Melchior. Hoje, evitam colocar os pés nas águas

Igo Estrela / Metrópoles
7 de 20

Além da sujeira nas margens, o Rio Melchior também apresenta um cheiro forte e desagradável

Igo Estrela / Metrópoles
8 de 20

As águas do rio vão para Corumbá IV

Igo Estrela / Metrópoles
9 de 20

Pesquisas alertam para a poluição no rio

Igo Estrela / Metrópoles
10 de 20

Segundo a comunidade, a região está esquecida e não estaria recebendo atenção e ações do governo

Igo Estrela / Metrópoles
11 de 20

Ativistas ambientais lutam pela recuperação e preservação do rio. Mas são ameaçados

Igo Estrela / Metrópoles
12 de 20

Dona Leuza busca água da igreja para poder beber e preparar alimentos

Igo Estrela / Metrópoles
13 de 20

Dona Leuza usa água de uma cisterna apenas para limpeza, irrigação e aos animais

Igo Estrela / Metrópoles
14 de 20

Famílias temem que a água recolhida em poços esteja sendo contaminada também

Igo Estrela / Metrópoles
15 de 20

A região não tem água encanada, esgoto e infraestrutura

Igo Estrela / Metrópoles
16 de 20

Dona Leuza já passou dias sem ter água para beber

Igo Estrela / Metrópoles
17 de 20

Dona Leuza tem a saúde frágil e enfrenta diversas doenças

Igo Estrela / Metrópoles
18 de 20

Crianças ficam doentes frequentemente na comunidade. As famílias suspeitam da água do rio

Igo Estrela / Metrópoles
19 de 20

Crianças ficam doentes frequentemente na comunidade. As famílias suspeitam da água do rio

Igo Estrela / Metrópoles
20 de 20

O deputado distrital Max Maciel acompanha a situação e cobra providências do GDF

Igo Estrela / Metrópoles

Segundo moradores, a estação de tratamento da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb), o Aterro Sanitário de Brasília e despejos clandestinos de esgoto seriam os provocadores da poluição que assola as águas.

Dona Ana Lúcia Rodrigues dos Santos, 66 anos, mora nos arredores do Melchior desde os 7. “O rio era limpo. Você via o fundinho da água e os peixinhos, a pirapitinga”, lembrou.

Segundo a moradora, as crianças se banhavam nas águas todos os dias, com tranquilidade. “Agora você não pode por os pés, tem que correr lavar e passar álcool”, contou. Segundo dona Ana, grande parte da comunidade está doente.

Além de dengue, há casos diarreia, gripe, infecção nos pulmões. “A maioria das crianças sofre com diarreia. Aí povo fala: é verme. Não é não, meu filho. É a água”, alertou. As margens do rio estão tomadas por lodo preto.

Lixo

A comunidade vive a aproximadamente 800 metros dos pontos de despejo da estação da Caesb e do Aterro Sanitário. “Quem contaminou a água? É o lixo”, critica.

O filho de dona Ana, o produtor rural Alfredo dos Santos Paris Neto, 46, levanta a mesma suspeita. Nascido e criado na região, ele nutre a lembrança de quando as águas da região eram limpas.

“Hoje é esgoto puro. Criança adoece demais. Meu filho já ficou 20 dias com dor de barriga. Quase morreu por causa da água. Está dando muito doença, muita dengue. O mosquito é criado nessa água suja”, comentou.

Sem ações

O produtor rural não tem coragem de beber ou nadar nas águas do Melchior. De acordo com Alfredo, a comunidade sofre sem qualquer amparo das autoridades e de Governo do Distrito Federal (GDF).

Os moradores receberam a informação dos estudos para a construção de uma termoelétrica. E temem que as instalações poluam ainda mais o rio. Segundo a comunidade, outros cursos d’água região estariam sendo poluídos.

A região não tem água encanada e esgoto da Caesb. As famílias dependem de poços artesianos e ficam expostas à possível poluição no lençol freático.

Água salgada

Leuza Rodrigues Santos Lima, 64, usa a cisterna apenas para limpeza, para irrigar plantas e dar de beber aos animais. “Não confio nessa água. Porque ela não presta para beber. A água é salgada”, contou.

Dona Leuza chegou a tentar usar água fervida para o preparo das refeições. “Eu estava até fazendo comida com ela. Mas aí como eles jogam muita sujeira no rio, muita carniça, cachorro, tudo desce no rio”, explicou.

Para beber e preparar os alimentos com segurança, Leuza passou a pegar água limpa em uma igreja na região. “Esses dias mesmo, eu estava sem água para beber. Um rapaz pediu água e fiquei com vergonha, porque não tinha”, contou.

Esquecidos

“Nós aqui somos esquecidos nesse lugar. Ninguém faz nada por nós”, desabafou. Dona Leusa tem uma saúde frágil e sofre de diversas doenças, como asma, osteoporose e fibromialgia.

Atualmente, está passando por uma série de exames para identificar as razões de uma tonteira frequente. “Nós não temos saúde. Não temos nada aqui”, reforçou.

Há três anos, o marido de Leuza faleceu. “Eu sofro muito com a perda dele. Porque ele fazia de tudo para mim. E agora. Só vivo doente. Fiquei mais doente ainda. Vivo pelos filhos. Mas saúde e alegria? Nunca mais”, chorou.

Tiros

Ativistas e defensores do meio ambiente lutam para recuperar e preservar o Melchior. O Metrópoles conversou com um deles. “O rio está cada vez mais poluído. E é difícil chegar aos pontos de despejo da sujeira. A mata é fechada. E algumas vezes atiram na gente. Não dá para saber quem atira. Mas já dispararam na minha direção”, relatou o homem, que tem medo de se identificar.

Segundo o ativista, pesquisas da Universidade de Brasília (UnB) e da Câmara Legislativa (CLDF) apontam para a poluição nas águas e identificam falhas no tratamento do esgoto, além dos riscos do Aterro Sanitário.

O Melchior deságua no Corumbá IV e retorna às torneiras de 1 milhão e 300 mil pessoas, moradores do DF e Entorno. Ao longo dos 25 quilômetros, o rio recebe os efluentes de esgoto e chorume, e irriga inúmeras plantações.

Grave

O deputado distrital Max Maciel (PSol) recebeu denúncias sobre a poluição no local. O parlamentar decidiu acionar os órgãos competentes para saber quais medidas estão sendo tomadas nesse caso.

“O Rio Melchior recebe diversos efluentes de esgoto e dejeitos industriais. Toda essa poluição está destruindo o meio ambiente e agora está adoecendo a população que precisa da água do rio para viver. É um grave problema ambiental e de saúde pública”, afirmou o deputado.

GDF

Segundo a Caesb, as estações de tratamento de esgoto (ETEs) Melchior e Samambaia, que descartam seus efluentes tratados no Rio Melchior, estão com licenças e outorgas emitidas pelos órgãos ambientais e reguladores regulares. Segundo a estatal, as unidades apresentam elevados índices de eficiência de tratamento, sem registros de despejo irregular de esgoto no corpo hídrico.

De acordo com a Caesb, a qualidade dos esgotos tratados quanto a qualidade da água do Rio Melchior são monitoradas sistematicamente em pontos de amostragem localizados antes e após os pontos de lançamentos das estações de tratamento de esgoto.

“Com relação aos despejos irregulares de esgotos, infelizmente a Caesb não pode atuar à jusante da ETE Melchior, por se tratar de área rural, porém há indícios de despejos devido à atividade agropecuária e devido a ocupações irregulares, que deverão ser objeto de monitoramento do Brasília Ambiental”, afirmou a companhia.

Água encanada

A Caesb diz que existe um projeto para a implantação de água na região, em processo de licenciamento junto ao Brasília Ambiental. A companhia teria investido cerca de R$ 40 milhões em melhorias na ETE Melchior. “Informamos ainda que, apesar de a companhia já monitorar rotineiramente a qualidade da água do Rio Melchior, será criado um grupo de trabalho intersetorial, que realizará o diagnóstico da atual situação de toda a Bacia do Rio Melchior”, revelou.

A partir dos resultados obtidos, serão definidas as próximas medidas que deverão nortear as ações a serem executadas pelos diversos integrantes do grupo de trabalho. Uma das iniciativas discutidas foi a implementação de um programa de educação ambiental voltado para os moradores de regiões próximas ao Rio Melchior e que são usuários do sistema de saneamento atendidos pelas ETEs Melchior e Samambaia.

Aterro

O Serviço de Limpeza Urbana (SLU) argumentou que o efluente tratado do Aterro Sanitário de Brasília é caracterizado como água de reuso, que não oferece riscos ao meio ambiente ou à saúde pública.

“O efluente é o resultado do tratamento do chorume, que é o líquido gerado pela decomposição dos resíduos sólidos no aterro. O Aterro Sanitário de Brasília possui uma estação de tratamento que utiliza processos físico-químicos para transformar o chorume em uma água que pode ser utilizada para fins não potáveis”, completou.

O SLU possui outorga da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento do DF (Adasa) para lançar o efluente tratado no Rio Melchior, que fica próximo ao aterro. A outorga estabelece um limite de lançamento de 2.208 m³ por dia. O SLU declarou que lança, ao longo do ano, uma média diária de 730 m³.

“O lançamento é feito por uma canaleta de 12,5 cm de diâmetro, submersa no rio, que evita a formação de espuma na superfície. Durante o período de seca a produção de chorume é reduzida e, em decorrência disso, desde o início do mês de julho não houve nenhum lançamento do efluente tratado”, revelou.

O SLU também declarou que monitora constantemente a qualidade do efluente tratado e do Rio Melchior, por meio de análises laboratoriais semanais realizadas por três laboratórios diferentes, seguindo todos os parâmetros estabelecidos pelos órgãos ambientais.

“Cabe ressaltar que, em 2014, o Melchior foi classificado como um rio de classe 4, de acordo com parâmetros do Conama, e deve ser destinado apenas à navegação e harmonia paisagística. Esses rios têm baixa qualidade de água e não são adequados para consumo humano, irrigação, recreação ou pesca”, concluiu.

Adasa

A Adasa afirmou à reportagem que realiza trimestralmente a aferição da qualidade da água do Melchior, para verificar se o rio está compatível com os padrões esperados para a sua classificação, e consequentemente para os seus usos pretendidos.

“De acordo com a Resolução do Conselho de Recursos Hídricos do DF (CRH nº 2 /2014), que aprova o enquadramento dos rios do Distrito Federal em classes de qualidade, o Rio Melchior é enquadrado na classe 4. A Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama nº 357/2005) estabelece que as águas doces enquadradas nessa classe têm seu uso limitado, podendo ser destinadas apenas à navegação, quando for o caso, e harmonia paisagística”, explicou.

Saúde e mobilidade

Segundo a Secretaria de Saúde, uma equipe de saúde da família presta atendimento à área mencionada e realiza consultas clínicas e de enfermagem. Durante os atendimentos, é realizada a conscientização dos usuários sobre a importância de tratamento da água para consumo, lavagem adequada dos alimentos e cozimento.

Existe planejamento da equipe para ação de conscientização objetivando orientar a população da área com informações gerais sobre gastroenterites, formas de contaminação, causas, sintomas e formas de prevenção.

“O Núcleo de Vigilância Ambiental de Ceilândia realiza ações de prevenção e combate as endemias na região e este ano o índice de dengue no local tem se mantido baixo”, justificou a pasta.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comDistrito Federal

Você quer ficar por dentro das notícias do Distrito Federal e receber notificações em tempo real?