Fé em expansão. Cresce o número de evangélicos no Distrito Federal
No Dia do Evangélico, o Metrópoles levantou dados que comprovam a ascensão dessa religião nos quatro cantos da cidade. Atualmente, a cada mil crianças nascidas na capital, 389 são de famílias evangélicas. Enquanto isso, 361 creem no catolicismo
atualizado
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Celebrado nesta segunda-feira (30/11), o Dia do Evangélico completa vinte anos no calendário comemorativo oficial do DF, em 2015. Com mais de 800 mil fiéis na cidade, a data celebra a consolidação da presença evangélica por aqui.
Em 2011, as pessoas com essa crença representavam pouco mais de um quarto da população. Em menos de três anos, esse número avançou para quase 30%. Em contrapartida, as missas perderam adeptos na capital. A religião católica passou a representar 59,6% da população, diferente dos 61,8% anteriores.
Os dados são referentes às duas últimas Pesquisas Distritais por Amostra de Domicílios (PDADs) feitas pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), concluídas em 2011 e 2014. A gerente de pesquisa do órgão, Iraci Peixoto, explica que os valores demonstram claramente um maior crescimento proporcional da religião evangélica no DF. “Enquanto o catolicismo cresceu em números, perdeu adeptos em relação ao total da população. Os evangélicos cresceram em número e em proporção”, explicou.
Em números absolutos, o avanço dos evangélicos fica ainda mais evidente. Em dois anos, quase 90 mil pessoas aderiram à doutrina. Em relação ao crescimento da população no mesmo período, isso significa que a cada mil nascimentos, 389 crianças são de famílias evangélicas. Em contrapartida, 361 chegam a lares católicos.
Segundo o professor do Departamento de Filosofia da Universidade de Brasília, especialista em religião, Agnaldo Cuócco Portugal, vários fatores históricos e sociais explicam esse fenômeno. “As igrejas evangélicas falam a linguagem do povo e são extremamente eficientes na abertura de novos templos e nas práticas sociais. Trabalham com creches, escolas, asilos e têm a característica de atender onde as pessoas estão. Do ponto de vista psicológico, conseguem resgatar vidas”, explicou.
Religião em pauta
A expressividade evangélica também alcançou os altos cargos eletivos do DF. Na Câmara Legislativa, são 10 deputados distritais, dos 24 que compõem a Casa, fieis à religião criada por Lutero. Para o deputado distrital Rodrigo Delmasso (PTN), frequentador da igreja Sara Nossa Terra, todos os segmentos religiosos e culturais devem ser representados nas esferas do poder, apesar de o Estado ser laico. “É necessário que cada segmento tenha espaço no mundo político”, ressaltou.
Pelas RAs
O catolicismo ainda é a religião predominante no DF. Em algumas Regiões Administrativas, no entanto, a representação evangélica vem ganhando cada vez mais força. Quando distribuídos por cidades, os dados mostram os redutos mais fortes de cada religião.
Enquanto o catolicismo é a escolha religiosa majoritária nos bairros mais ricos do Distrito Federal, os praticantes do protestantismo são mais representativos nas cidades de menor renda. A Estrutural lidera as estatísticas. Lá, eles somam 46% da população. Segundo números do PDAD de 2013, a região é a única em que o número de fiéis evangélicos barra o de católicos. São 16,1 mil protestantes, representando quase metade da população da cidade. Na sequência, vêm Varjão (34,76%) e Fercal (35,57%).
Refúgio para os excluídos
Voltadas para agregar minorias que buscam a livre prática da fé, as igrejas inclusivas – comunidades religiosas voltadas, predominantemente, para cristãos gays – também ganharam espaço em Brasília nos últimos anos.
É o caso da Comunidade Athos, inaugurada há 10 anos no DF. A igreja, que fica no subsolo do Edifício Eldorado, no Conic, começou com cinco membros e reúne hoje mais de 100 fiéis.O pastor Alexandre Feitosa conta que, para atender a maior demanda, são feitas reuniões em casas de adeptos, nas cidades do DF e do Entorno.
A igreja é composta, principalmente, por pessoas oriundas de igrejas evangélicas convencionais, das tradicionais às pentecostais e neopentecostais. O público majoritário é formado por gays, lésbicas e transexuais. “Há também heterossexuais que frequentam nossos cultos, especialmente familiares de membros”, afirmou Feitosa. A Comunidade Athos se considera uma igreja cristã, com forte influência da linha protestante pentecostal.
Seguindo princípios semelhantes, a Cidade de Refúgio, com sede em Taguatinga, conquista integrantes desde 2014. Já são mais de 50 membros cadastrados, fora os frequentadores esporádicos. Segundo a Pastora Aline Leão, a liturgia dos cultos segue o ritual das igrejas evangélicas tradicionais: oração, louvores, palavra pastoral, testemunhos, escola bíblica dominical. “Eu e minha esposa, a Pastora Paloma Semi, viemos de igrejas evangélicas tradicionais e tudo o que fazemos é essência delas. É um grande privilégio ter a concepção da verdadeira palavra de Deus e poder passar isso para frente”, afirma.
Arte: Joélson Miranda/Metrópoles