Família se revolta com dano em túmulo de filho: “Cuidamos com carinho”
Há 36 anos, as idas ao Cemitério Campo da Esperança, da Asa Sul, são um hábito da família, surpreendida pelo danos na estrutura do jazigo
atualizado
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Para algumas famílias, o ato de visitar o cemitério e reverenciar um ente querido que não está mais entre nós é uma tradição. Independentemente do ritual praticado, o propósito é manter viva a memória da pessoa falecida. Há 36 anos, as idas ao Cemitério Campo da Esperança, da Asa Sul, são um hábito da família Azevedo, surpreendida ao encontrar o túmulo de um parente quebrado por conta de uma obra nos arredores do jazigo.
A empresa Campo da Esperança Serviços Ltda, entretanto, nega que os danos tenham sido causados pela obra e alega que o espaço danificado seja irregular.
Ao Metrópoles, a servidora pública Carla Azevedo, 37 anos, contou que os familiares possuem desde 1986 o título de perpetuidade pelo jazigo onde foi enterrado o seu irmão Diones Montal Azevedo, na época, com apenas 3 anos. Desde então, eles mantêm a cultura de cuidar da limpeza, ornamentação e jardinagem do túmulo, localizado na Quadra 805, Setor C.
“Aqui é a casinha dele. A gente sempre contratou alguém para manter esses cuidados de manutenção do jardim e da estrutura de granito. Todo mês realizamos a visita, um momento da família estar presente com ele. Meus pais cuidam como se fosse um quartinho de criança”, conta Carla.
Contudo, na última semana, a família foi informada pelo funcionário particular que cuida do jazigo de que operários da empresa administradora do cemitério haviam quebrado uma parte do granito da lateral do túmulo ao retirarem uma árvore das proximidades, devido a uma obra no local.
Na última quarta-feira (28/9), um dia após o ocorrido, o pai da servidora, Moisés de Azevedo, 64 anos, foi até a administração do cemitério para relatar a situação, onde teria esperado mais de uma hora para ser atendido.
“Falaram que o dano poderia ter sido causado na hora de puxar a raiz da árvore. Não houve nenhum registro formal, só afirmaram de boca que iam consertar o jazigo após o fim das obras. Nem nos deram a oportunidade de registrar o que já houve de dano”, diz Carla. Além do granito quebrado, a capelinha com pequenos anjos e as correntes que ornamentavam o túmulo também foram danificadas.
A família tentou registrar o caso por meio de algum canal de ouvidoria da empresa, mas foram informados de que o contato só seria possível pessoalmente, mesmo eles já tendo indo ao local. Sem saber a quem recorrer, eles decidiram abrir um boletim de ocorrência na 1ª DP (Asa Sul) e uma reclamação na ouvidoria da Secretaria de Justiça e Cidadania do DF (Sejus), responsável pela fiscalização dos cemitérios.
Os parentes temem que a administração do Campo da Esperança não repare os danos causados. “Entendemos que todas as obras causam transtornos, mas aquilo é um patrimônio. Então, eles tinham a obrigação de ter nos comunicado sobre o início das obras e nos tranquilizado de que, caso houvesse algum dano, eles iriam se responsabilizar, afinal, é uma propriedade nossa.”, defende.
O prejuízo trouxe revolta aos familiares, que sentem como se o espaço fosse invadido. “É o lugar de descanso do meu irmão. Sentimos como se um intruso tivesse vindo aqui e bagunçado a extensão da nossa casa, parece um canteiro de obras agora. O Dia de Finados está chegando, como vamos passar a data com o túmulo bagunçado e todo sujo de terra? Destrói a lembrança e todo o cuidado que sempre tivemos”, lamenta.
Por conta das obras na Quadra 805, alguns outros túmulos também foram afetados. Em alguns deles é possível ver acúmulo de terra, que chega a quase cobrir alguns jazigos. “A terra está no mesmo nível do tampão, como se estivessem sendo enterrados”, comenta Carla.
O que diz o Cemitério Campo da Esperança
Em nota, a Campo da Esperança Serviços Ltda informou que desde 23/9, uma área próxima à Quadra 805 foi cercada para a construção de novos jazigos. A conclusão das obras está prevista para a última semana de outubro.
“A empresa toma todos os cuidados necessários e eventuais danos a sepulturas próximas serão corrigidos pela mesma. O dano na capelinha da sepultura mostrada na reportagem não foi causado pela obra. É um problema comum nesse tipo de construção, que é fixado com cola que, eventualmente, resseca e provoca a queda da peça. A manutenção nesse caso é responsabilidade da família, que contratou um serviço particular de manutenção”, esclareceu.
Ainda, de acordo com a empresa, extensão da sepultura que está rente à cerca da obra é irregular. “Cada sepultura da área antiga do cemitério deve obedecer aos limites da tampa do jazigo e não pode ser cercada por correntes e bancos, como é o caso exposto”, ressaltou.
“As reclamações devem ser registradas pessoalmente na administração de cada cemitério e todas as ocorrências são apuradas e respondidas. A empresa lamenta que a família tenha se sentido mal atendida e vai verificar o que ocorreu nesse caso”, finalizou a empresa.