Família recebe cestas básicas e organiza 1ª ceia de Natal juntos
Vivendo em lar alugado, com renda de R$ 700 e sem apoio de programas sociais, jovem casal segue em frente e batalha por dias melhores
atualizado
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A primeira ceia de Natal teve sabor de vitória, gratidão e esperança para a família de Marcos Felipe Vieira, de 23 anos, e Anyelle Renata de Almeida, 18. Na sexta-feira natalina (24/12), o casal comemorou junto com a filha, a pequena Adriele Valentina Almeida, de 1 ano de vida.
A primeira ceia de Natal:
A família vive com apenas R$ 700 por mês, em um lar alugado na Cidade Estrutural. A comemoração não teve a clássica árvore de Natal, mas graças a duas cestas básicas doadas, os jovens organizaram uma ceia natalina para familiares e amigos. Este ano, eles superaram a pandemia de Covid-19, enfrentam a crise econômica e seguem batalhando por dias melhores.
Veja a mensagem natalina do jovem casal:
O Metrópoles conversou com a família na noite de quinta-feira (23/12), enquanto eles começavam a organizar a ceia. Em 2020, o jovem casal vivia com a mãe de Marcos. Em 2021, decidiram alugar uma casa para construírem suas vidas com os próprios recursos. Debaixo do mesmo teto, vivem com o cachorro Pipoca e a gata Bela.
“Esse é o nosso primeiro Natal na nossa casa, mesmo sendo alugada. É uma satisfação. Meu sonho era ter uma filha. Isso dá mais prazer para viver. Porque minha vida era muito errada. Eu vivia na cadeia, não vou mentir. Nos meus 18 mesmo, só foi prisão. Não quero mais essa vida. Tenho minha filha e minha mulher que dependem de mim”, contou.
“Eu comecei trabalhar cedo, aos 11 anos. Meu pai se separou da minha mãe. Com ele ausente, eu precisei criar responsabilidade e trabalhar”, contou Marcos Felipe. Na juventude, diante das dificuldades, ele viveu dias de crime. “Estou lutando para mudar de vida. Quero ser um bom exemplo para minha filha”, afirmou.
Rotina de luta
Marcos sustenta a família trabalhando como catador de materiais recicláveis. A rotina é dura e perigosa. “Sofri todo tipo de acidente. Minha mão é machucada”, contou. Caiu do caminhão duas vezes em 2021. Na primeira queda, quebrou o pé. Na segunda, arrebentou o joelho. O jovem continua caminhando, mas não consegue mais correr sem sentir dores, por exemplo.
Para o catador, além de ser o primeiro Natal da família, a ceia foi especial pelo fato da deles terem sobrevivido à pandemia. “Nós superamos tudo que passamos. Perdemos amigos, entes queridos. Foi um ano muito difícil, de muitas tribulações”, desabafou.
Família
O casal se conheceu há dois anos. “Amo muito minha mulher e minha filha. Antes o Natal para mim era só uma data. Agora é muito especial com minha família. Todo mundo bem e com saúde, graças à Deus, apesar das dificuldades”, sorriu. Marcos e Anyelle casaram-se há um ano.
Segundo Anyelle, neste Natal não havia planos para ceia já que a família não tem recursos para comprar alimentos. No entanto, após receberem cestas básicas de doações, o jantar tornou-se viável.
Para o próximo ano, a jovem planeja estudar e conseguir um emprego. Anyelle pretende qualificar-se já que considera os salários baixos para o seu nível de escolaridade. “Imagina receber só R$ 200 por mês. É desumano”, criticou.
“A sensação do nosso primeiro Natal é de muita satisfação. É muito legal poder dar um Natal para minha filha. É uma casa que a gente conquistou. A gente passou por ano tão difícil. Foi um ano de incertezas. A gente não sabia se chegaria ao final desse ano. Perdemos muitos amigos. Foi horrível. A gente não podia se despedir”, assinalou.
Sem apoio de programas sociais
Mesmo com renda de apenas R$ 700, a família não conseguiu acesso aos programas sociais para pessoas carentes. Anyelle contou que buscou ajuda no Centro de Referência de Assistência Social (Cras), mas não recebeu acolhimento: “Não me deixaram entrar no Cras. É uma falta de respeito com a comunidade”, afirmou.
Os jovens precisam pagar R$ 350 de aluguel, sem contar as contas de água de luz. Para Marcos e Anyelle, famílias em situação de vulnerabilidade deveriam receber cobranças mais baratas, de acordo com a renda de cada lar. Diante da inflação dos alimentos, o casal também não faz feira. A carne vermelha, por exemplo, virou um sonho distante.
Mesmo batalhando contra as dificuldades, seguem em frente e sonham em proporcionar conforto e educação para a Adriele. “Minha filha é minha vida”, sorriu Anyelle. O casal espera que a pequena cresça e que no futuro, juntos, celebrem uma ceia de Natal com saúde, melhores condições e, quem sabe, com uma casa própria.