Família de idosa denuncia médico que orienta pacientes a evitar vacina
Neta da paciente relatou que clínico geral que atende toda a família, Emerson de Morais e Silva, aconselhou a avó a não imunizar-se
atualizado
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Em meio ao cenário crítico na capital, com o aumento acelerado de casos graves do novo coronavírus e de internações decorrentes da doença, neste março de 2021, a aflição das famílias quanto à pandemia de Covid-19 ficou ainda mais aguda.
Parentes de uma paciente de 92 anos estão apreensivos com o fato de a idosa se recusar a tomar a vacina contra a Covid-19 no Distrito Federal, embora ela faça parte da população mais vulnerável à doença.
Moradores do Distrito Federal nesta faixa etária vêm sendo imunizados desde fevereiro. Contudo, há mais de um mês, a senhora se recusa a ir ao posto de saúde para vacinar-se. Ela estaria seguindo recomendação do médico que a atende, conforme a família relatou ao Metrópoles.
A neta da paciente preferiu preservar seu nome e da avó para não sofrer retaliações. Para a reportagem, classificou a situação como grave. De acordo com a mulher, nas últimas semanas, ao descobrir que a avó ainda não havia sido vacinada, ela buscou saber os reais motivos da recusa.
Segundo a mulher, a família toda se consulta com o clínico geral, Emerson de Morais e Silva, em uma clínica médica no centro de Taguatinga. “Ele é quem cuida da família há muitos anos. Qualquer tipo de doença, em qualquer área, nós sempre recorremos a ele”, explicou. Ao questionar outros parentes, ninguém respondeu aos questionamentos.
“Dessa forma, eu cheguei à raiz do problema. Descobri que o dr. Emerson estava desaconselhando a minha avó a tomar a vacina. Como fiquei com dúvida, resolvi ligar na clínica e, sem me identificar, conversei com os responsáveis. A assistente, ao telefone, confirmou que o médico não aconselhava os pacientes a vacinar”, contou.
Ainda de acordo com a neta, ela pediu para a clínica apresentar um documento ou estudo que justificasse a razão de o profissional de saúde não recomendar a dose do imunizante. Foi aconselhada a marcar uma consulta com o médico para que ele apresentasse protocolo.
“Ele atende uma população majoritariamente idosa e não orienta tomar a vacina. Mesmo nesta semana, com o aumento dos casos de coronavírus, o doutor segue falando contra a vacina e a favor do uso de medicamento preventivo. Ele recomendou aos meus parentes voltar a tomar ivermectina e vitamina D”, apontou.
A ivermectina não tem comprovação científica de eficácia. Um estudo publicado em 4 de março, na revista científica Journal of the American Medical Association (JAMA), comprova que o remédio realmente não tem efeito contra o coronavírus.
Livre-arbítrio
A reportagem tentou contato com o médico pelo telefone do consultório dele, em Taguatinga. Ao Metrópoles, a clínica respondeu que o dr. Emerson, de 68 anos, não concederia entrevista e disse que a orientação do médico é de acordo com avaliação individual para cada paciente.
O consultório destacou ainda ser uma opção pessoal do médico não defender a imunização contra a Covid-19, e afirmou: por enquanto, ele não vai tomar a vacina, mas não desaconselha a dose durante consultas. “Cada um tem o livre-arbítrio para resolver imunizar-se, ou não”, informou a clínica.
A vacinação contra a Covid-19 da população acima de 80 anos no Distrito Federal já mostra redução no número de óbitos entre idosos dessa faixa etária.
Veja imagens da vacinação de idosos no DF:
Segundo dados da Secretaria de Saúde (SES), em janeiro, último mês sem imunização, foram 101 mortes em decorrência do novo coronavírus entre octogenários ou cidadãos ainda mais velhos na capital. Em fevereiro, a quantidade caiu para 77.
Este público começou a ser vacinado no dia 1º de fevereiro. A diminuição de 24% pode ser ainda maior neste mês de março, que registrou média de 2,4 mortes de idosos acima de 80 anos por dia até a última quarta-feira (10/3), contra 2,75 falecimentos diários em fevereiro.
Para Adele Vasconcelos, médica intensivista do Hospital Santa Marta, a queda progressiva nos óbitos é explicada pela imunização, mesmo que parcial, desse segmento vulnerável da população na pandemia. “Eles não pararam de vir, mas os que estão vindo já são casos mais leves. Mesmo quem vacinou só a primeira dose já não apresenta um quadro tão ruim”, explica.
Dessa forma, são os mais jovens que passaram a ocupar as unidades de terapia intensiva (UTIs). Conforme o site InfoSaúde, da SES, a maioria dos internados atualmente tem entre 52 e 71 anos. “Normalmente, eles têm uma resistência maior, e a internação se torna mais prolongada. Isso deixa o leito ocupado por mais tempo e, por isso, vemos uma ocupação tão alta”, completa Adele.
Em fevereiro, a cientista-chefe da Organização Mundial de Saúde (OMS), Soumya Swaminathan, afirmou que, apesar do surgimento de várias variantes do coronavírus, os benefícios trazidos pelas vacinas superam riscos e defendeu que os imunizantes contra a Covid-19 continuem sendo aplicados nos países. Soumya defende que o benefício das vacinas supera os riscos.