Família contesta versão de policial rodoviário que matou jovem no DF
Os pais de Maykon Douglas Ribeiro e representantes da Comissão de Direitos Humanos da Câmara foram ao MPF pedir celeridade na apuração
atualizado
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A família do jovem Maykon Douglas Ribeiro, 18 anos, que morreu baleado por um agente da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em 20 de fevereiro, em Planaltina (DF), esteve na Procuradoria-Geral da República (PGR) nessa terça-feira (12/3) para pedir celeridade na apuração do caso. Os pais (foto em destaque) e amigos do rapaz contestam a versão do policial, de que Maykon estaria com um simulacro de arma durante a abordagem.
Segundo o procurador regional da República, Domingos Sávio Dresch da Silveira, o Ministério Público Federal (MPF) vai agir na investigação dos fatos. “Atuamos no controle externo das policias e vamos encaminhar a denúncia ao MP do Distrito Federal, que vai acompanhar de perto a apuração desse caso e depois entrar com as devidas ações, inclusive junto à Corregedoria da Polícia Rodoviária Federal”, explicou Domingos.
De acordo com informações da Polícia Civil do DF, na ocasião da morte, o policial rodoviário teria abordado três indivíduos. Um deles estaria com uma airsoft idêntica a uma pistola PT 840 e teria feito um movimento como se fosse sacar a arma. Conforme os relatos, o agente reagiu, efetuou dois disparos e matou o suspeito.
A mãe do rapaz, Aurineide Lopes, afirmou ao procurador que o filho nunca teve nenhum tipo de arma. Segundo ela, o jovem pode não ter concordado com a ação policial e corrido. Ele teria sido morto por esse motivo, alegou. “Era um menino que estudava e trabalhava cuidando de uma chácara, nunca teve passagem pela polícia, tinha muitos amigos e era muito querido pela comunidade. Estou assustada”, disse a mulher, ao lado do pai do jovem, Wanderlei Lopes.
A reunião foi promovida pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados (CDHM). “Nada justifica o que aconteceu. Mesmo se o rapaz estivesse armado, o procedimento correto é outro, e não atirar à queima-roupa. Na minha opinião, a arma falsa que a polícia fala, foi ‘plantada’. Hoje, a CDHM entregou ao MPF todos os subsídios para que seja encaminhada a denúncia às instituições competentes”, afirma o deputado Marcon (PT/RS), presidente interino da Comissão.
Relatos
O parlamentar se baseia em relatos de um amigo de Maycon, Denilson da Conceição Silva, que teria presenciado o acontecido. A vítima estava comemorando o aniversário de 18 anos quando foi abordada, próximo a um posto de gasolina. “Ele caiu no chão já morto e os policiais não me deixaram ajudar. Um deles disse ‘esse daí já foi pro saco’ e me mandaram calar a boca. Quando a mãe dele chegou, chorando, não deixaram ela encostar no filho”, relatou a testemunha aos deputados.
“Maycon foi morto porque é negro e pobre. Existe um protocolo internacional que estabelece o chamado uso progressivo da força, pelo qual atirar com arma de fogo é a última hipótese. E isso não foi respeitado pela polícia. Todo esse descaso e essa cultura do ódio estão sendo incentivados por quem deveria coibir”, ressaltou a deputada Érika Kokay (PT-DF), integrante da CDHM.
Procurada, a assessoria regional da PRF afirmou que, a princípio, não houve nenhuma irregularidade na ação do policial. “Mas a nossa corregedoria autuou procedimento disciplinar para apuração dos fatos”, disse a corporação por meio de nota.
Ocorrência
Inicialmente, a ocorrência foi apresentada à 16ª Delegacia da Polícia Civil (Planaltina). No entanto, por envolver servidor da PRF em serviço, o caso foi encaminhado à Superintendência da Polícia Federal em Brasília.
Logo após o ocorrido, a PRF detalhou que um dos ocupantes do veículo abordado saiu com uma arma em punho e, diante do fato, os policiais atiraram contra ele. “O indivíduo atingido empunhava um simulacro fiel de pistola modelo PT 840”, diz o texto. A corporação acrescentou que chamou o Corpo de Bombeiros, mas o óbito foi constatado no local. Outros dois homens que estavam no carro foram presos. (Com informações da CDHM)