Família cita demora em socorro de operária após queda em obra no DF
Auxiliar de limpeza morreu após cair de pavimento em obra no Sol Nascente. Empreendimento constrói apartamentos para moradia popular no DF
atualizado
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Uma mulher de 57 anos que trabalhava em uma obra no Sol Nascente caiu de um dos pavimentos da construção e morreu, por volta das 8h30 desta terça-feira (23/1). Sônia Cristina de Moraes, 57 anos, era auxiliar de limpeza e teria caído do segundo andar do edifício, segundo o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF).
No entanto, colegas de trabalho de Sônia teriam dito a parentes da vítima que ela caiu do terceiro piso do edifício. As obras em andamento fazem parte de uma das etapas do Residencial Horizonte, um empreendimento com 70 apartamentos de moradia popular e três lojas, na Quadra 105 do Sol Nascente.
Filho de Sônia Cristina, o contador Wesley Cristiano, 36, relatou que a mãe trabalhava com a limpeza da obra no momento em que caiu de mais de seis metros de altura. “[Os colegas de trabalho] disseram que acionaram o Samu [Serviço de Atendimento Móvel de Urgência] e que a equipe demorou mais de 30 minutos para chegar”, detalhou.
Ele acrescentou que a mãe ainda respirava no momento em que o socorro chegou, segundo testemunhas. “Por causa da altura, acho que a queda, que foi muito alta, pode ter gerado alguma hemorragia interna”, disse o contador.
Veja imagens do local:
A construção, ao custo de R$ 10,6 milhões, é erguida pela empresa privada Unik Engenharia e Incorporações Ltda., responsável pelas obras do residencial lançado pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional do DF (Codhab), no âmbito do programa Morar Bem, do Governo do Distrito Federal (GDF).
Corpo removido
Nora da vítima, a autônoma Kely Cristina, 36, relatou que a auxiliar de limpeza teve o corpo tirado do local onde caiu e transferido de lugar mais três vezes. Além disso, segundo testemunhas, ela não usava equipamentos de proteção.
A reportagem tentou apurar com outros trabalhadores da obra se eles receberam os itens de proteção individual necessários à segurança, mas nenhum funcionário da construção quis conceder entrevista.
“Como é uma obra aberta, não havia local para ela se segurar. Sem isso, e pela falta de [equipamento de] proteção, ela não teve onde se apoiar e caiu”, comentou Kely Cristina. “Não nos informaram nada. Nem a polícia tinha conhecimento [do caso].”
Inicialmente, a nora de Sônia Cristina comentou que nem a empresa Unik nem a Codhab, responsável pelo empreendimento, entraram em contato com a família da vítima para informar sobre o ocorrido. Porém, o Metrópoles apurou que a filha da vítima havia sido avisada, mas, por estar em choque, não tinha conseguido repassar imediatamente a informação aos demais parentes.
“Tivemos de ligar para o IML [Instituto de Medicina Legal] para tentar conseguir alguma informação. Eles nos instruíram a fazer registro de boletim de ocorrência, para que fosse feita perícia e o corpo pudesse ser retirado do local”, completou Kely Cristina.
“Procedimentos corretos”
Um representante da Unik Engenharia chegou a dizer à família que a empresa “fez todos os procedimentos corretos”, segundo a nora da auxiliar de limpeza.
“Mas quais procedimentos corretos? Não ligaram para a polícia para avisar o que tinha acontecido nem para informar que houve um óbito nas dependências da obra. Eles negligenciaram tudo. O IML não sabia da morte, a delegacia não foi procurada. Se a família não tivesse corrido atrás, estaria até agora sem qualquer notificação. Isso é horrível. Apenas queremos a verdade”, desabafou a autônoma.
Sônia Cristina morava em Ceilândia e trabalhava para a Unik Engenharia havia quatro meses. Ela deixa três filhos e três netos.
Por meio de nota, a Unik Engenharia informou: “Não faz sentido acontecer um acidente e não chamar o socorro. Assim que ocorreu o acidente, chamamos de imediato os bombeiros. Todos estamos extremamente transtornados, e a família foi avisada de imediato do acidente”.
A Codhab lamentou “profundamente” o ocorrido e detalhou que apura a situação bem como as causas que “levaram ao acidente”. “Informamos ainda que enviamos um engenheiro para averiguar o local da obra”, comunicou a companhia.
“Cumpre informar que a construtora sagrou-se vencedora da Concorrência nº 5/2020 e, de acordo com o edital, é integralmente responsável pela execução da obra e pela garantia da segurança dos operários, cumprindo todas as exigências legais previstas nas normas e no próprio edital. A Codhab fiscaliza com regularidade as obras, notificando as empresas quanto a eventuais descumprimentos”, enfatizou.
Também questionada pela reportagem, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) detalhou que a ocorrência foi atendida pela equipe de regulação médica, com o envio imediato de uma equipe de Ceilândia, às 9h01 desta terça-feira (23/1).
“Foram acionados, também, a equipe do CBMDF, com o encaminhamento da aeronave e a motolância [ambulância de motocicleta] do Samu-DF como apoio. Após 36 minutos de reanimação cardiopulmonar, no local do incidente, foi atestado o óbito pela equipe assistente”, detalhou a pasta.