Família acusa médico por negligência antes da morte de paciente em UPA
Parentes de Nathali Haydee reclamam de atendimento e alegam que médico gritou com paciente. Revoltado, acompanhante da paciente o espancou
atualizado
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Os parentes de Nathali Haydee, 36 anos, acusam a equipe de saúde da Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) de Águas Lindas (GO) de ter agido com negligência, o que teria levado à morte dela. A suposta falta de cuidado denunciada teria indignado Jhader de Melo, 35, marido da paciente, que deu ao menos cinco socos no médico Pablo Henrique de Araújo Leal. A agressão foi registrada na Delegacia de Polícia de Águas Lindas.
Advogado da família de Nathali, Fábio Cavalcanti contou que ela chegou à UPA, na última quarta-feira (6/12), com sinais de dengue, mas os exames não teriam identificado a doença; por isso, outro médico teria pedido que ela retornasse depois. Na noite daquela data, porém, a paciente teria tido uma convulsão.
Na última segunda-feira (11/12), a família voltou à unidade de saúde, e Nathali estava mais fraca. Ela chegou à UPA por volta das 10h, com fortes dores. O advogado da família acrescentou que o marido da paciente avisou mais de uma vez que ela estava mal. “Ele [o médico] só passava soro. A temperatura dela caiu para 34°C, e ele [marido] avisou ao profissional de saúde que a esposa estava morrendo. Mas o clínico dizia que era para esperar o soro”, comentou o advogado.
Após quatro horas na unidade de saúde, Nahtali começou a se debater de dor e a gritar no hospital, segundo o advogado. “O médico, então, falou para ela calar a boca e que a dor que ela sentia não era para tanto. Pouco tempo depois, veio a notícia da morte [às 15h04]”, relatou Fábio Cavalcanti.
O velório de Nathali Haydee ocorreu nesta quarta-feira (13/12). Ela deixou dois filhos: uma jovem de 15 anos e um menino de 11.
Médico negou
Pablo Henrique negou ter agido de maneira negligente no atendimento. O médico afirmou que em momento algum mandou paciente se calar e comentou que a paciente chutava a parede. “Ela estava se machucando, tinha arrancado o acesso ao medicamento e, então, ficou ensanguentada. Eu falei para ela parar”, contou.
O profissional de saúde reforçou, ainda, que adotou os procedimentos clínicos para quadros de dengue, que preveem aplicação de soro com medicação na veia. “Não posso simplesmente tirar um remédio para aplicar outro. Preciso deixar completar a dosagem medicada inicialmente”, comentou.
O clínico ressaltou que a UPA estava lotada e que revisitou a paciente ao menos três vezes, para verificar o estado de saúde dela. Pablo Henrique acrescentou que tem medo de voltar à rotina após a agressão. “Eu estou com medo de retornar, não tenho a menor segurança de que não vai acontecer de novo”, disse o médico.
Falta de segurança
A reportagem conversou com outros médicos da unidade de saúde, e eles comentaram sobre a falta de segurança na UPA. “Os pacientes estão agressivos. Colocaram o maqueiro para fazer a segurança”, comentou um dos funcionários, que pediu para não ter o nome divulgado.
O Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego) publicou nota de repúdio contra a violência sofrida por Pablo Henrique. “Nada justifica a violência registrada”, afirma a entidade.
“Infelizmente, esse episódio inadmissível e repugnante contra médicos tem se tornado comum, e medidas urgentes precisam ser implementadas para garantir a segurança de quem trabalha salvando vidas”, cobrou o conselho.
Para o Cremego, a agressão sofrida pelo médico não representa “apenas um atentado à integridade física e moral de um indivíduo”. “É uma afronta a toda a classe médica e ao sistema de saúde goiano”, ressaltou.
Na nota, o conselho também destacou que o ambiente de trabalho deve ser “seguro e propício ao exercício pleno das atividades médicas”.