Família acusa Hospital de Taguatinga de negligência após morte de bebê
Com apenas 3 meses de idade, a menina faleceu nessa quarta-feira (31/07/2019) em decorrência de meningite meningocócica
atualizado
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Um bebê de apenas 3 meses morreu no Hospital Regional de Taguatinga (HRT) nessa quarta-feira (31/07/2019), em decorrência de meningite meningocócica. Segundo a unidade de saúde, foram adotadas todas as medidas possíveis para salvar a criança. A família, no entanto, acusa a equipe médica de negligência.
De acordo com a Secretaria de Saúde, a menina deu entrada na emergência no último sábado (27/07/2019), às 3h. Ela apresentava febre, com temperatura corporal de 40 ºC, desde o dia anterior e não conseguia mamar. Depois de vários exames, afirmou a pasta, não foram identificados sintomas de meningite. Às 9h30, a paciente recebeu alta, e os pais foram orientados a buscar a unidade novamente, caso a febre alta voltasse.
No mesmo dia, às 16h, a família retornou ao hospital com a criança, e ela foi internada na pediatria do pronto-socorro. Às 20h12, diante do quadro de uma crise convulsiva, foi feita uma nova bateria de exames.
Na manhã do domingo (28/07/2019), a paciente registrou estado grave e foi entubada. O resultado do exame apontou meningite tipo W, um caso raro da doença. Após o diagnóstico, o estado de saúde da bebê evoluiu para gravíssimo, e ela morreu às 17h dessa quarta-feira.
Segundo o hospital, a Vigilância Epidemiológica foi imediatamente acionada assim que recebeu a confirmação de meningite. Os pais foram orientados a usar máscaras e foram realizadas ações de bloqueio na família e em todos que tiveram contato com o bebê.
O HRT ainda informou que continua dando apoio aos familiares da menina, inclusive com acompanhamento da equipe de psicologia, e que irá colaborar com todas as investigações, que serão conduzidas pela 12ª Delegacia de Polícia (Taguatinga).
O que é a meningite
A meningite é uma inflamação da meninge, a membrana que reveste o cérebro e a medula espinhal. Normalmente essa inflamação acontece por uma infecção bacteriana, fúngica ou viral, e ocorre principalmente em crianças menores de 2 anos de idade e idosos.
Os sintomas principais dependem da idade do paciente. No primeiro mês de vida, por exemplo, a meningite é igual a uma septicemia: dificuldade para sugar, prostração, febre e hipotermia são alguns sinais. A partir de um mês, quando a maior parte dos casos acontece, o paciente sente febre, vômitos, irritabilidade, abaulamento da moleira. Nos maiores de 2 anos ou adultos, os sintomas são rigidez de nuca, febre, vômitos e dor de cabeça.
“Mais de 95% dos casos acontecem por transmissão respiratória, ao tossir, espirrar, compartilhar um copo. Eu posso ter uma bactéria inofensiva na minha garganta, mas que assume um papel de virulência em outra pessoa”, explica o diretor do Departamento de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, Marco Aurélio Sáfadi. Nos outros 5% dos casos, a inflamação da meninge acontece como consequência de outras doenças alojadas próximas ao cérebro.
Os tipos de meningite
A inflamação da meninge pode acontecer por vários motivos. A infecção por vírus é a mais comum e menos grave. Não existe vacina para esse tipo da doença. A bacteriana, prevenível pela imunização, é a forma mais perigosa, e pode ser causada por:
– Meningococos dos tipos A, B, C, W e Y. No Brasil, a infecção mais comum é pelo tipo C, responsável por mais de 80% dos casos em 2010, mas a W, comum na Argentina, vem aumentando em Santa Catarina (talvez pelos turistas do país portenho). A vacina contra o tipo C está disponível na rede pública, e o Ministério da Saúde tenta incorporar também a vacina contra o tipo W. A vacina conjugada, que trata os tipos A, C, W e Y, e a do tipo B podem ser encontradas na rede particular.
Os sintomas são febre alta repentina, dor de cabeça intensa, rigidez do pescoço, vômitos e, algumas vezes, confusão mental e sensibilidade à luz. Um em cada cinco pacientes diagnosticados com este tipo de meningite morrem – quando a bactéria chega à corrente sanguínea, a proporção aumenta para sete em cada 10. Sobreviventes podem apresentar cegueira, surdez, problemas neurológicos e amputação de membros.
– Pneumococos, responsáveis por 15% das mortes de crianças menores de 5 anos. Normalmente, o agente infeccioso acomete o sistema respiratório, mas pode afetar a meninge. Os sintomas são semelhantes aos causados pelos meningococos, mas a letalidade do pneumococo é maior: cerca de 30% dos infectados acaba falecendo.
– Haemophillus Influenzae B, que foi a principal causa de meningite bacteriana em crianças no final dos anos 1980, mas, graças à vacinação, é pouco comum atualmente. A bactéria pode causar pneumonia, inflamação da garganta, artrite, infecção dos ossos ou da membrana que cobre o coração.
– Mycobacterium tuberculosis, responsável pela tuberculose, mas pode se instalar em outros lugares que não o pulmão. Este tipo de meningite avança lentamente e, por isso, normalmente a doença é descoberta em estágio avançado. É menos frequente, porém considerada letal.
Prevenção
A melhor forma de prevenir as meningites bacterianas é a vacinação: a imunização contra o tipo C, por exemplo, está disponível na rede pública para crianças menores de 5 anos e adolescentes entre 11 e 14 anos. A vacina penta, combinada à tríplice bacteriana, protege do Haemophilus Influenzae B e também está no Sistema Único de Saúde (SUS). O Ministério da Saúde tenta incluir também a vacina contra o tipo W, mas a licitação não encontrou interessados.
A vacina VPC10, contra bactérias pneumocócicas, também pode ser encontrada na rede pública. Já as vacinas contra os tipos A,C, W, Y e B estão disponíveis na rede privada.
A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) alerta que não é preciso pânico ao receber a notícia de um caso de meningite: não é possível saber qual o agente responsável pelo foco da doença rapidamente, e a vacina precisa de algum tempo para proteger o paciente. Se houve contato com a pessoa infectada, a indicação é procurar um médico.
“Infelizmente, casos de meningite bacteriana são registrados no Brasil o ano inteiro, razão pela qual as vacinas são recomendadas nos calendários de rotina do Ministério da saúde, da SBIm e da Sociedade Brasileira de Pediatria. Mesmo que o episódio seja noticiado pela mídia, não significa que haja surto. São infecções que acontecem e temos vacinas para evitá-las”, explica a SBIm.