Falta de microscópio deixa pacientes emergenciais sem cirurgia no HBDF
Há ao menos seis meses sem equipamento necessário para neurocirurgias, Hospital de Base não tem previsão para execução de procedimentos
atualizado
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Internados com urgência há mais de 10 dias, pacientes da ala de neurocirurgia do Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF) esperam, sem previsão, para passar por operações que, caso não ocorram a tempo, poderão deixá-los com sequelas. Todos os casos envolvem procedimentos neurocirúrgicos. No entanto, eles têm sido adiados indefinidamente.
As operações não têm acontecido pois os laudos de encaminhamento para a cirurgia detalham ser necessário o uso de um microscópio de alta complexidade nos casos dos pacientes à espera. O HBDF conta com dois equipamentos desse tipo. Contudo, ambos estão “em manutenção, sem previsão de retorno” há ao menos seis meses.
Além das incertezas, os pacientes lidam com a superlotação da unidade de saúde. Um deles, com pedido de internação para 19 de junho, relatou ter ficado 11 dias em uma maca quebrada, em frente ao corredor da Emergência do Hospital de Base, até conseguir um leito.
Mesmo para os que puderam ser internados, o clima é de preocupação: um segundo paciente, internado no último dia 9, contou que foi alertado por médicos que, se não passasse por cirurgia em até 60 dias, poderia ficar com sequelas permanentes.
Com um amigo há mais de 22 dias à espera de uma cirurgia, ainda sem previsão para ocorrer, uma pessoa ouvida pelo Metrópoles – e que preferiu não se identificar – disse ser difícil para a família manter as esperanças.
“O clima é de total incerteza. Você se sente completamente impotente e não sabe mais a quem pedir ajuda. [O paciente internado], inclusive, viu um companheiro de quarto com um quadro semelhante ao dele morrer antes de receber previsão de quando seria possível passar por cirurgia”, contou o entrevistado.
Transferências
A reportagem apurou que, em 2019, os responsáveis pelo setor de neurocirurgia do HBDF pediram outro microscópio ao Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF), que administra o hospital, mas, até o momento, não houve entrega do equipamento.
“Quando perguntávamos aos médicos [sobre a possibilidade de transferência dos pacientes para realização da cirurgia], eles diziam que o único hospital com o equipamento necessário era um da Rede Sarah, mas nunca nos davam justificativa para as cirurgias não poderem ser feitas no Base”, detalhou a filha de uma paciente internada no HBDF.
Cansados da espera e da falta de respostas, famílias de pacientes decidiram buscar a Defensoria Pública do Distrito Federal (DPDF) para cobrar pela execução dos procedimentos gratuitamente em um hospital particular, pelo fato de o Base não atender a demanda.
Procedimentos “eletivos”
Quando os defensores públicos analisaram o pedido, verificaram que os nomes dos pacientes em questão nem sequer constavam na lista de regulamentação da unidade de saúde para execução de procedimentos emergenciais; por isso, os pedidos de transferência acabariam negados.
O motivo seria o fato de os médicos terem preenchidos relatórios com informações de que os procedimentos tinham caráter eletivo, não de urgência. As famílias que procuraram a DPDF questionaram os pareceres. “Se esses procedimentos têm data limite para serem feitos, por que são considerados eletivos? E, se são eletivos, por que os pacientes continuam internados, sem qualquer previsão de alta?”, indagou o primeiro dos entrevistados pelo Metrópoles.
“Quando internei minha mãe, em 19 de junho, a médica preencheu o laudo que afirmava necessidade de ‘intervenção urgente’. Deram 30 dias para que a cirurgia fosse feita sem possibilidade que o quadro dela piorasse. Mas, depois, quando fui entregar um relatório para a médica preencher, ela mudou de ideia e disse que [a operação] não era urgente. Você não sabe mais em quem pode confiar”, desabafou a segunda pessoa ouvida pela reportagem.
Resposta do Iges
Acionado pelo Metrópoles, o Iges-DF informou que o aparelho microscópico em questão está operante, mas “com funções específicas limitadas”.
“Um novo contrato de manutenção está em andamento, com previsão para ser executado ainda esta semana. Para evitar interrupções [das cirurgias] durante o período de manutenção, um aparelho substituto será disponibilizado pela empresa contratada, garantindo a continuidade dos procedimentos”, completou o instituto, por meio de nota.
O Iges-DF, porém, não deu prazo para a troca ou a execução das cirurgias.