Falta cliente, mas sobra irregularidade no Shopping Popular. Só não vê quem não quer
Comerciantes denunciam que são pressionados a deixar os boxes. Chineses estão entre os principais compradores e teriam apoio da associação que comanda centro de comércio
atualizado
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Criado em 2008 para abrigar camelôs que ocupavam pontos do centro de Brasília, o Shopping Popular nunca despertou a atenção do brasiliense que vai às compras. Mesmo assim, o centro de bancas situado perto da Rodoferroviária está na mira de grandes comerciantes, entre eles os chineses. Embora seja proibido vender ou alugar os boxes – sob pena de perda da permissão de uso do espaço -, é possível fazer qualquer negócio no local.
As principais denúncias sobre as irregularidades recaem sobre a Associação dos Lojistas Empreendedores e Usuários do Shopping Popular de Brasília (ALEOSHOPB). Comerciantes do local garantem que quando o poder econômico não é capaz de convencer o titular da permissão a vender sua banca, ele acaba sendo expulso. Por falta de orientação ou medo, alguns se calam e aceitam. Foi assim com Luiz Lemos Viana, 51 anos.
Um dia, Luiz chegou para trabalhar e no lugar da banca dele havia somente um espaço vazio. “Eles arrancaram. Não disseram nada. Nem fui atrás também. Desde julho, quando ocorreu a demolição, que não vou lá”, lamenta o comerciante autônomo de Águas Lindas (GO), que voltou para as ruas, onde vende lanche em uma motocicleta.
Situação parecida ocorreu com Selma Carlo Pinheiro, 42 (foto ao lado). Mas o desfecho foi diferente. Proprietária da loja 391 da Ala C, não acreditou quando viu uma mulher desconhecida dentro do boxe dela vendendo outro tipo de mercadoria. A situação virou caso de polícia.
Ocorrência na delegacia
Ela registrou ocorrência na 3ª Delegacia de Polícia (Cruzeiro). Os policiais a orientaram a retirar a invasora. No momento da desocupação, a presidente da ALEOSHOPB, Edilene Pereira Santos Fernandes, teria perguntado o que Selma queria mexendo na banca e que não tinha mais nada na feira. “Ela disse que eu nunca paguei as taxas. Por isso, não era mais dona”, denuncia.
Um homem conversou com a reportagem do Metrópoles e fez graves acusações contra Edilene. Sob a condição de não ser gravado e nem tampouco revelar sua identidade, afirmou que ela lhe mostrou uma lista de bancas que deveriam ser lacradas. Depois disso, apresentou formulários de lacre falsos da Coordenadoria das Cidades.
Os formulários não apresentam carimbo e nem matrícula do servidor que realizou a interdição dos boxes, o que levanta a desconfiança de sua autenticidade. Somente uma assinatura abaixo da data em que foi feito o fechamento do estabelecimento. De acordo com o Decreto 33.807, a suspensão da permissão ocorrerá somente após o dono do boxe ter recebido três advertências.
Um dono, vários boxes
A norma também determina que cada permissionário tenha apenas um boxe na feira. Mas existem comerciantes com até dezenas de lojas. Integrante da ALEOSHOPB, Margarida Lacoque seria uma das responsáveis pela venda dos boxes. Sem saber que estava sendo gravada, ela contou que possui 14 bancas. “O que que eu fiz? Eu sou maluca. Tenho 14 bancas aqui”, afirmou na gravação.
Durante a conversa, Margarida, que possui também uma lanchonete na feira, nos oferece duas bancas que seriam de uma filha dela. “Acho que ela vai passar (vender) porque não pode vir para cá. Tem criança pequena e trabalha fora”, afirma. Perguntamos como faremos para transferir a banca para nosso nome. A resposta é rápida e precisa: “Ela dá uma cessão de direito. Ou então termo de doação”.
Os principais clientes de Margarida são os chineses. Depois de adquirir 40% das bancas na Feira dos Importados, os asiáticos miram agora no Shopping Popular. Alguns adquirem as bancas para servir de depósito de mercadorias falsificadas. O Metrópoles mostrou em reportagem especial como os asiáticos atuam.
“Queria que os chineses viessem para cá. Os chineses são fortes. Já tem uns 20 chineses aqui. Vai chegar mais. Eu quero que venha mesmo”, admite. Maria – nome brasileiro de uma cidadã de origem chinesa – é uma representante da comunidade asiática. Comerciante de bolsas de origem duvidosa, teria 40 unidades no Shopping Popular, chegando a abrir todas em um mesmo dia e cuidar sozinha delas.
Informações privilegiadas
Mesmo sendo detentora de uma rede de boxes, Maria não se dá por satisfeita. A última investida dela para aumentar o patrimônio foi na banca de Francisca Carlos Pinheiro (foto ao lado), 45. Para convencê-la, a asiática apresentou uma planilha com as dívidas da comerciante com a associação.
“Ela ofereceu pagar as taxas e me dar mais um dinheiro em troca da minha banca. Perguntei como tinha conseguido as informações e ela disse que tinha sido com a Edilene”, garante Francisca.
Procurada por nossa reportagem, Edilene não foi encontrada para explicar as denúncias. A Secretaria de Gestão do Território e Habitação (Segeth) reitera que a venda de boxes no Shopping Popular é uma atividade ilegal. A assessoria afirma que a pasta tem promovido, ao longo de novembro, atividades de cadastro, registro e auxílio aos lojistas. O órgão confirma que o espaço vai receber, em breve, uma unidade do Na Hora.