Falso trader aplicou golpe em 20 pessoas; prejuízo passa de R$ 300 mil
A Coordenação de Repressão à Fraudes investiga o caso como estelionato. São mais de 20 vítimas pelo DF e Entorno
atualizado
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Um homem de 23 anos é investigado pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) por estelionato e golpes envolvendo esquema criminoso em operações do mercado financeiro. O prejuízo deixado pelo suspeito chega a R$ 300 mil e envolve pelo menos 20 vítimas no Distrito Federal e Entorno. O inquérito é apurado pela Coordenação de Repressão à Fraudes (Corf).
O operador e responsável por captar investidores é o jovem Lucas Siqueira de Assis, segundo todas as vítimas que prestaram depoimento à PCDF. O suspeito dizia se tratar de uma espécie de “trader”, especializado em operações do mercado financeiro.
Lucas prometia lucros de até 100% no valor investido após um curto período de tempo. Com todos os investidores, o trader assinava contrato, garantindo a efetividade dos pagamentos em prazo estabelecido pelo próprio cliente.
Um morador do Gama, de 33 anos, que preferiu não se identificar, chegou a entregar R$ 53 mil para Lucas, com a expectativa de saldar o valor em até 30 dias. Passados sete meses, o homem atualmente está desempregado e ainda não recebeu o investimento de volta. A vítima acabou bloqueada pelo trader nas redes sociais. O plano era pagar algumas dívidas com o dinheiro que receberia do investimento, mas agora a despesa tornou-se ainda maior.
“Vendi meu carro para investir, então agora a chateação é tamanha. Você se sente incapaz de resolver, porque, até então, era uma pessoa que eu conhecia e levar um golpe entre amigos assim é muito triste. Para eu quitar esse valor eu teria que trabalhar dois anos e meio sem tirar imposto de renda e pagar nenhuma conta”, lamenta.
O investidor conta que conheceu Lucas no seu próprio ciclo de amigos e encantou-se pelo poder aquisitivo do colega. “A gente via ele de carrão, morando bem, vestindo bem, acreditávamos no negócio. Ele conquistava e deixava a gente escolher em quantos dias receberíamos o dinheiro de volta”.
Salário comprometido
Com o estudante de farmácia, de 26 anos, o modus operandi foi o mesmo. Lucas prometeu devolver o lucro de 100% em cima do valor de R$ 23 mil, em até 90 dias. Após, oito meses sem o retorno do investidor, o estudante está com metade do salário comprometido em função dos empréstimos que fez.
“Eu falei para ele que estava em uma situação muito apertada e ele garantiu que ia arrumar minha vida. Então, eu fiz empréstimo, peguei dinheiro emprestado, penhorei um carro para investir, e agora estou vivendo em uma situação muito complicada. Precisei parar de pagar a faculdade e estou devendo o banco”, lamenta o morador do Gama.
Inicialmente, de acordo com as vítimas, Lucas apresentava desculpas, afirmando que o fundo de investimento estava com os valores bloqueados no Brasil, por isso não conseguiria pagar ninguém. Em outras oportunidades, o trader dizia para os clientes esperarem, pois ele pagaria todos até março de 2022. Enquanto isso, exibia vida de luxo nas redes sociais.
Segundo as vítimas, para alguns investidores o suspeito chegou a devolver uma parcela do investimento, mas depois parou de pagar e deixou muitos no prejuízo.
Contrato
As vítimas sentiam-se asseguradas pelo contrato assinado com o suposto golpista. Os valores eram transferidos pelo PIX e o documento entregue em mãos. Os clientes podiam escolher como queriam fazer o investimento. As opções de acordo eram três:
- Investir um valor de R$ 10 mil a R$ 30 mil e receber 50% dele em 60 dias;
- Investir um valor de R$ 30 mil a R$ 50 mil e receber 75% dele em 90 dias;
- Investir um valor de R$ 50 mil a R$ 150 mil e receber 100% dele em 120 dias.
Os golpes financeiros vêm vitimando várias pessoas pelo Brasil. Empresários de consultorias financeiras prometiam lucro fácil e são investigados por viverem em Dubai, nos Emirados Árabes, ostentando com dinheiro obtido em golpes. De acordo com a polícia, a prática é uma espécie de pirâmide financeira, considerada crime.
Em junho de 2020, um grupo de advogados começou a ser investigado pela Polícia Civil do Distrito Federal por aplicar golpes e conduzir esquema criminoso envolvendo pirâmides financeiras. Os falsos traders vitimaram 10 pessoas pelo Distrito Federal e roubaram mais de meio milhão dos investidores.
Para o delegado Wisllei Salomão, é possível evitar os golpes financeiros mais comuns. “Não acredite em lições muito acima do mercado e em empresas que não tem autorização dos órgãos de fiscalizavam como Banco Central e Comissão de Valores Bilionários”, alerta Wisllei.
O outro lado
Em contato com o Metrópoles, Lucas Siqueira de Assis, 23, revelou operar em uma corretora, mas diz ter parado de receber o retorno do dinheiro. Segundo ele, os contratos são todos verdadeiros, mas alguns não são autenticados em cartório. O trader garante que devolverá o dinheiro de todos os investidores.
“Eles podem ficar tranquilos que eu estou trabalhando para devolver o capital principal de todo mundo. Pedi o prazo até 2022 por estar resolvendo isso aí, porque tenho de trabalhar bastante. Até meu dinheiro ficou preso nessa corretora”, explica Lucas.
O morador do Gama diz não se importar com as acusações e os boletins de ocorrência registrados contra ele e está à disposição da Justiça para esclarecer os contratos fechados.